Não houve estupro, mas sim a comunicação de um falso crime. Esta foi a constatação feita pela titular da Delegacia de Proteção a Mulher (DEAM), Ana Elisa Gomes Martins. A polícia não tem dúvida de que Daniel Bezerra da Silva Júnior apresentou elementos que não condizem com as imagens analisadas. Ele responderá por Comunicação Falsa de Crime. A pena para este tipo de delito varia de um a seis meses.
De acordo com a delegada Ana Elisa uma série de imagens precedentes ao fato foram analisadas. A titular da DEAM explicou que as 17: 07 hs do dia 7 de junho, ou seja, uma semana antes da comunicação do estupro, Daniel se aproximou de uma câmera e a virou para o outro lado. O equipamento estava direcionado para entrada do prédio e do banheiro em que foi encontrada uma calcinha e que a suposta vítima teria entrado se lavado.
“O fato de ele ter virado a câmera, depois os seguranças verificaram que a câmera estava para o lado contrário. O fato dele ter relatado que o campus estava deserto, vazio, no twitter ele fala que gritou por horas e ninguém apareceu. O campus o tempo inteiro tinha pessoas circulando. O local estava iluminado”, explicou Ana Elisa Gomes Martins.
A delegada por reiteradas vezes em entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira (17), afirmou que não há dúvidas de que a pessoa que aparece na imagem é Daniel. “Tenho certeza absoluta que era ele nas câmeras” Ele aparece nas gravações movimentando a câmera, caminhando em direção a uma sala de aula.
“Ao chegar ao corredor verificamos que a câmera havia sido girada. No campus existem 800 câmeras. Uma funcionária verifica se as câmeras estavam ligadas. Como são 800 câmeras a gente não percebeu, a gente consegue visualizar se está em pane ou apagada. Depois que percebemos que ela estava virada. Como apoio da delegacia foi nos orientado que fizesse uma varredura nas imagens e identificamos a pessoa virando”, explicou o gerente de Segurança Institucional, Elias Magalhães da Silva.
De acordo com Elias Magalhães, diferente do que Daniel comunicou a polícia, de que não havia segurança no prédio e que o ambiente estava escuro, as imagens mostram que ocorreu o contrário. “Havia um vigia desarmado no prédio e havia um outro vigia em um prédio próximo, onde ele (Daniel) citou que esteve lá e não encontrou. Mas as imagens comprovam que os vigias estavam sim nos prédios”, argumentou o gerente.
Segundo a delegada, em depoimento na delegacia, o estudante comentou que as câmeras não funcionavam. Ele acreditava que o equipamento não estivesse captando imagens. “Ele teve sete dias para preparar tudo. Certamente ele não fez isso sozinho. Como ele esteve na delegacia e comunicou o crime de estupro, a conduta criminosa se for concluída desta forma, só a ele será atribuída, a não ser que queira dividir a responsabilidade com outros colegas”, descreveu a delegada.
Investigações
Mesmo tendo clareza de que Daniel cometeu um delito, mudando a direção da câmera e fazendo uma falsa comunicação a polícia, o caso continuará sendo investigado.
Enquanto os ânimos estão quentes em Goiânia, principalmente na UFG, por conta do episódio, Daniel informou a delegada Ana Elisa que foi para a praia. Ele está no nordeste brasileiro. O estudante será convocado para prestar depoimento e será indiciado por comunicação falsa de crime ou contravenção.
Por conta do tumulto ocorrido na pós comunicação do caso, as eleições do DCE da UFG marcadas para o dia 15 não ocorreram na data conforme estava previsto. Não está descartada que a motivação poderia ter ocorrido com algum fator relacionado ao pleito.
“Não sei se foi apenas uma brincadeira. Não entendemos o real objetivo disso. A gente sabe que as eleições do DCE ocorreriam na manhã do dia seguinte, elas foram suspensas por conta dessa situação. Sabemos que foi feito um movimento e a reitoria foi ocupada. Isto será levantado durante as investigações”, destacou a delegada.
A calcinha encontrada por um segurança no banheiro foi encaminhada para perícia no Instituto de Criminalística. A peça de roupa estava repleta de fezes. O material ainda será analisado e não há previsão para sair o resultado.
Relembre o caso
Na noite da última terça-feira (14), o estudante do 1º período de Relações Públicas da UFG, Daniel Bezerra, de 21 anos, denunciou em no perfil dele no Twitter, um possível caso de estupro, no Campus Samambaia, em Goiânia.
Segundo o jovem, enquanto ele esperava um amigo, viu uma mulher sendo deixada por um homem no estacionamento próximo à Faculdade de Informação e Comunicação (FIC).
De acordo com o estudante, o homem era branco, gordo e dirigia um VW Gol Preto. Nas postagens dele, Daniel relatou que a jovem estava desesperada, que tentou ajudar, mas que ela fugiu sem deixar outras pistas.
O caso gerou mobilização e revolta das redes sociais. Logo após o fato, estudantes fizeram manifestação, cobrando providências em relação ao caso e ainda melhores seguranças. Vale ressaltar que na ocasião, profissionais de imprensa que foram acompanhar o ato foram intimidados por alguns integrantes do movimento e acabaram sendo impedidos de realizar o trabalho.
A reitoria da UFG foi procurada, mas até o momento ainda não respondeu. Já estudante está de viagem no nordeste.
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