O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno foi o primeiro dos ministros da equipe do presidente da República, Jair Bolsonaro a cair. Ainda em fevereiro com 40 dias da gestão federal teve sua cabeça posta a prova depois que Carlos Bolsonaro, filho do presidente, acusar o então ministro de ter mentido ao dizer que havia conversado com Jair a respeito da crise dos laranjas do PSL. Relembre clicando aqui. Em entrevista publicada pela BBC Brasil neste sábado ele falou sobre a possibilidade de retornar a política, talvez disputando a Prefeitura do Rio de Janeiro em 2020, comentou sobre o cenário que o presidente da República vivencia e disparou com relação a indicação de Eduardo Bolsonaro ao Itamaraty: “É um garoto, um menino, um surfista que teve um mandato por causa do pai, depois surfou de novo a onda do pai, na conquista do segundo mandato, mas é um rapaz completamente inexperiente”. Também disse que apesar de Bolsonaro dizer que o presidente norte-americano Donald Trump ter relações amigáveis com ele, Trump não tem o mesmo vínculo com ele.
Bebianno se apoiou muito na “onda Bolsonaro”. Conta na entrevista que realmente acreditou que fosse uma solução para o país. “Eu tinha abraçado com muita veemência a bandeira [Bolsonaro] na última eleição. Não me sinto hoje confortável pra me vincular a ninguém”, disse ao comentar sobre rumar para outro partido e voltar a participar de eleições. Talvez a do Rio de Janeiro. Por ora, não “se sente confortável”. O que assume muito bem é que não tem mais qualquer ligação com o partido do presidente tampouco com o governo: “Me desliguei do PSL, renunciei ao cargo de vice-presidente e me desfiliei, não tenho vínculo nenhum com o PSL”.
Eduardo não sabe o papel de um embaixador
Sobre a indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada dos Estados Unidos já sinalizada que deve ser consumada dentro das próximas semanas, Bebianno chama o filho do presidente de “coitado” e que não tem a menor “condição” de exercer o papel de embaixador. “Ele sequer sabe o papel de um embaixador”, dispara. “Ele não tem ideia. Eu convivi de perto com o Eduardo, ele não tem noções básicas de negociação, é um garoto, um menino, um surfista que teve um mandato por causa do pai, depois surfou de novo a onda do pai, na conquista do segundo mandato, mas é um rapaz completamente inexperiente. O nível acadêmico dele é bem iniciante, ele não tem condições”, menciona.
Ainda sobre a indicação de Eduardo sobrou até para Jair: “É um cara de pau, eu diria” e que a indicação será “um equívoco monstruoso”. Também diz que a indicação é moral, em sua opinião e uma péssima estratégia para o governo. “Primeiro, eu acho imoral essa indicação. Segundo, ela é péssima. Péssima e antiestratégica para o presidente. O presidente não está adotando uma postura de um estadista que tem que saber lidar com situações de dificuldade.”
O Trump não é amigo dele
Ainda sobre a indicação, Bebianno lembra de Lula. Para o ex-ministro ambos são muito “personalistas”. Que Bolsonaro diz muito que tem relações de amizade com Donald Trump, no entanto, o presidente dos Estados Unidos não é amigo de Bolsonaro. “O Brasil perde com essa indicação [de Eduardo Bolsonaro à embaixada]. O presidente tem na cabeça dele uma visão até meio parecida com o Lula, uma coisa meio personalista demais, ‘ah, o Trump é meu amigo’. O Trump não é amigo dele, o Trump é presidente dos Estados Unidos. É antiestratégico e perigoso para o presidente esse tipo de medida.”, dispara.
Ele pontua como será o contexto caso a indicação de Eduardo seja consumada. “À medida que o presidente coloca o filho dele à frente desse tipo de papel, quaisquer problemas entre Brasil e Estados Unidos, uma simples disputa perante a OMC, por exemplo, qualquer desavença vai cair direto no colo do presidente, o presidente vai tornar pessoais problemas que não teriam essa configuração”
Arrependimento?
Bebianno não assume algum possível arrependimento na eleição do presidente da República. Era importante a romper com a linhagem petista que vinha se desenrolando no país. “O momento ali era de se buscar uma interrupção da sequência de governos petistas. Se o PT ganhasse ali com o (Fernando) Haddad seria o quinto mandato. Eu acho que o PT representa ideias atrasadas que empobrecem o Brasil, era um momento de ruptura ali e o objetivo foi alcançado.”
No entanto, o comportamento do presidente da República após a eleição surpreendeu Bebianno. Bolsonaro virou “outra pessoa” a partir do momento que se elegeu. “O que eu não esperava foi o comportamento posterior do presidente, logo após a eleição. O comportamento dele mudou, ele virou outra pessoa, irreconhecível. Antes ele passava uma posição muito humilde, escutava as orientações que passávamos pra ele, nunca foi muito de mergulhar nos assuntos. Ele tem uma característica de tratar de forma superficial as coisas, mas ele delegava e deixava a gente trabalhar, e sempre defendendo a bandeira de moralidade e tudo mais”, concluiu.
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