22 de novembro de 2024
Política

Tribuna do Planalto: Reitor da UFG alerta que oposição tem que elaborar um projeto para 2014.

Filiado ao PT a quase 2 meses reitor da UFG continua pedindo que oposição se preocupe com um projeto para Goiás. Confira a entrevista no Jornal Tribuna do Planalto.

“Nome sem projeto tem poucas chances (de vitória em 2014)”
Eduardo Sartorato e Filemon Pereira

Em entrevista, reitor da UFG, Edward Madureira, recém-filiado ao PT, diz que oposição em Goiás precisa discutir projeto antes de definir nome.

Com planos de disputar mandato de deputado federal, o reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira Brasil, filiou-se no PT em setembro passado. O reitor afirma que a disposição surgiu após muitos apelos da comunidade acadêmica diante do período de investimentos e crescimento vividos pela Universidade nos últimos anos. Edward pretende conquistar um mandato para lutar, sobretudo, por melhorias na política de Educação. Sobre a possibilidade de compor a chapa majoritária da oposição na sucessão do próximo ano, o reitor explica que no momento só há especulações. Se as conversas evoluírem, ele diz que avaliaria a possibilidade. Hoje, Edward cobra um projeto de governo para as oposições e critica a discussão em torno de nomes. O reitor diz, porém, que continua mais concentrado no trabalho da reitoria e que pouco tem militado politicamente nesse momento. Quando entregar o comando da Universidade, em 6 de janeiro, passará a articular sua candidatura em tempo integral. Edward Madureira recebeu a reportagem da Tribuna na última segunda, 18.

Entrevista publicada no Jornal Tribuna do Planalto

Tribuna do Planalto – Qual o seu projeto ao se filiar no PT?
Edward Madureira – Minha filiação ao PT é uma consequência do momento que a universidade vivenciou, das oportunidades que tivemos, enquanto instituição, de uma política de governo que valorizou as universidades federais. Ao longo desses anos, sempre procurei tratar as questões da universidade de forma suprapartidária. Sempre tive um apoio grande de toda bancada de deputados federais e senadores de Goiás, mas o projeto da expansão da universidade foi bancado e concebido pelo governo do PT. É inegável que nesses oito anos a Universidade e a Reitoria tiveram uma visibilidade considerável e as pessoas começaram, de maneira inicial, a cogitar uma possível entrada minha no mundo político. Essas manifestações e estímulo cresceram de tal forma que em determinado momento me senti na responsabilidade de dar uma resposta a essa expectativa. Entro no PT para somar e contribuir com o partido. [Minha] exposição e visibilidade têm um determinado peso eleitoral, que não sei identificar, então há sim essa expectativa concreta de disputar um mandato nas eleições de 2014.

Esse cargo seria para a Câmara Federal, Assembleia Legislativa ou uma vaga na chapa majoritária?
(Risos) A imprensa está colocando várias possibilidades e cenários, a depender do desenrolar das questões políticas em Goiás. Mas se depender só de mim, seria uma vaga para deputado estadual ou federal. Isso dentro do partido não teria nenhuma resistência. Pela natureza da instituição que me trouxe para a política, que é a UFG, faz mas sentido uma cadeira na Câmara Federal porque é onde possíveis projetos e defesa de questões importantes teriam repercussão direta na educação superior e na educação como um todo. As coisas da educação são mais definidas em nível federal. Qualquer outra possibilidade, acredito que ainda está no campo das especulações.

O que vem sendo comentado nos bastidores nos últimos dias é que o sr. seria um bom nome para vice-governador, que poderia arejar a chapa majoritária porque seria uma novidade no cenário político em Goiás. O sr. já ouviu isso? Como recebe esse tipo de comentário?
Já ouvi isso e é lisonjeiro para uma pessoa que não tem tradição na política ser lembrado para uma posição na chapa majoritária. Nos deixa contente, porque reflete uma credibilidade, que é própria da Universidade, e se isso de certa forma é transferido para a minha pessoa. Fico feliz porque a instituição é um valor muito caro para mim. Agora, não foi feito um convite oficial e caso venha a ocorrer, isso passa por uma decisão de foro íntimo e uma decisão junto com os correligionários de partido, então não anteciparia nenhuma decisão nessa direção, ainda mais baseado no campo das hipóteses.

Desde que se filiou ao PT, o sr. tem mantido conversas com as principais lideranças, tanto do PT quanto do PMDB, para discutir a sucessão?
Ocasionalmente. A filiação tinha uma data limite para me credenciar a participar das eleições de 2014. Então fiz uma opção por me filiar em 19 de setembro, antes do prazo final, depois de estar convicto de minha decisão, mas a partir dai, continuo 99% reitor da UFG. Os afazeres da universidade, de final de mandato, de transição, inclusive a relação com os poderes constituídos, com o governo do Estado, prefeitura, governo federal e ministérios me impelem uma agenda mais de reitor do que de um membro de partido. As conversas são nos eventos onde, ocasionalmente, a gente se encontra. Volta e meia tenho conversado com o ex-governador Iris Rezende, com o prefeito Antônio Gomide e o deputado Rubens Otoni. Estou deixando as conversas para o ano que vem.

Mesmo não participando ativamente das conversas, como o sr. imagina o cenário para a oposição em Goiás, quando definir o candidato a governador?
A oposição em Goiás precisa se organizar e discutir projetos antes de nome. Vemos uma polarização muito forte no PMDB pela formação da chapa majoritária, mas talvez pelo meu distanciamento, não percebo uma organização de propostas e projetos concretos para o desenvolvimento de Goiás. É disso que o Estado precisa. O nome é fundamental, se não for um que tenha densidade eleitoral, não resolve. Mas um nome sem projeto tem poucas chances, ainda mais se este nome não for de consenso. São quatro eleições que essa frente PMDB, PT e alguns outros partidos não conseguem êxito. Se não se discutir um projeto, a situação fica difícil para qualquer candidato. Enquanto se discute nomes, poderia ser construído um projeto e talvez a partir dai esse nome aparecesse naturalmente.

O PT tem várias tendências e o sr. entrou sem fazer parte de nenhuma. Isso não poderia te enfraquecer por uma vaga na Câmara Federal?
Provavelmente sim. Mas por uma questão pessoal decidi não me ligar a uma tendência. Ainda conheço muito pouco o partido e a opção foi por conhecer e militar para depois definir uma tendência. Sei que isso pode ter um custo relativamente alto, inclusive no que diz respeito a mobilização interna do partido no processo de campanha. A partir de janeiro vou viver o partido mais intensamente e aí sim até meados do primeiro semestre pode ser que me aproxime de alguma das tendências, mas isso não é definitivo. Se me sentir seguro para isso farei, se não vou para eleição sabendo dos riscos.

Quando o sr. entrou no PT não foi convidado por um grupo ou uma ala específica ou entrou só mesmo pela proximidade com o governo federal e pela plataforma na área de educação?
A decisão por um partido foi por convicção, por estar convencido que os avanços conseguidos pelo País no governo do PT, principalmente no que diz respeito a inclusão social, é um resultado muito positivo. Isso não significa que concorde com alguns erros do partido, porque se você observar bem vai ver que isso é da natureza do ser humano. Então, somando esses avanços do País com esse olhar especial para a educação como um todo, mas de forma especial para as universidades federais, é que me fizeram tomar a decisão de ir para o Partido dos Trabalhadores. Me dou bem com todos os partidos e dentro do PT com pessoas ligadas ao prefeito (Paulo Garcia), ao ex-prefeito Pedro Wilson, ao deputado Rubens Otoni e Mauro Rubem. Estou falando de pelo menos quatro grupos que são demarcados e o convite, até de forma informal, surgiu de todos esses grupos. Então, quando me decidi, procurei o presidente do partido e disse sobre o meu interesse. Não foi um convite formal denenhuma tendência, foi uma coisa meio difusa que foi consolidando e tomei a decisão de entrar.

Como o sr.avalia que está o debate na educação. Por exemplo, falta ao PT fazer uma comparação do que era as universidades antes e depois do governo do PT?
É muito claro para qualquer pessoa a mudança que teve, pelo menos no que diz respeito ao ensino superior. Inclusive muitas pessoas anti-petistas confessam que o PT foi bom para a educação. Isso já está bem consolidado. Mas o debate na educação está longe de ser encerrado e os problemas longe de ser equacionados. Temos um longo caminho a percorrer. Há muito o que ser feito, principalmente, na educação básica, mas sem cair na tentação de dicotomizar essa discussão: educação superior versus educação básica. Essa polarização é maléfica. É preciso cuidar da educação básica, mas sem esquecer a superior. A educação básica tem um segmento dela que é mais grave ainda, que é o ensino médio. Esse precisa urgentemente de uma reforma, de uma atenção especial porque estamos perdendo os jovens justamente nessa fase. A evasão anda perto de 50%.

Houve uma prioridade ao ensino superior nos governos Lula e Dilma em relação ao governo de Fernando Henrique?
Governos anteriores priorizaram a educação básica em detrimento da superior e o que o governo Lula fez, e é seguido pela presidente Dilma, foi colocar a educação superior e tecnológica no seu devido lugar, sem descuidar da educação básica. Percebemos que programas como o antigo Fundef que agora é Fundeb, que era o fundo do ensino fundamental e foi estendido para toda educação básica, tem repercussões e tem vários programas do governo federal que olham para a escola básica. Um grande gargalo na educação é justamente a valorização do profissional da educação básica, que convive com dificuldades de condições de trabalho, de salário, sendo obrigado a ter dois, três empregos para garantir uma vida razoável para os filhos e isso tem impacto direto na formação. Acredito que houve uma atenção para o ensino superior, mas sem descuidar da educação básica. Ou seja, a educação, como dizia o ex-ministro Fernando Haddad, foi tratada da creche a pós-graduação. Esse é o mote, o slogan que a gente deve pensar. A educação começa na educação infantil e só termina no pós-doutorado.

Qual a opinião do sr. sobre o desfecho do processo do mensalão, com a prisão de petistas históricos, como José Genoíno e José Dirceu?
Uma decisão da instância máxima do judiciário tem legitimidade e valor. Foi dado direito aos recursos em todos os níveis possíveis e a Corte decidiu. Agora, não podemos fechar os olhos de que houve uma pressão, especialmente da imprensa, para que esse julgamento tivesse um desfecho que trouxesse alguns exemplos e alguns vilões para exposição pública. Quando se fala em julgamento político, não podemos afastar essa hipótese, porque o julgamento teve viés politico. Costumo dizer que as questões devem ser decididas nas instâncias para isso e foi decidida no Supremo Tribunal Federal, então isso é inquestionável. Agora, o julgamento e a condenação prévia é que temos de evitar e tivemos nesse processo a condenação prévia de muitas pessoas e isso é sempre prejudicial. Mas temos de aceitar. Os condenados já se apresentaram e vão cumprir suas penas. Acredito que a verdadeira história de tudo que aconteceu vai aparecer. Talvez pela proximidade e como os fatos foram tratados não consigamos ter a real dimensão disso e, acredito, no futuro isso vai se tornar mais claro.

Como avalia o governo do Marconi Perillo?
(Risos) Essa pergunta é difícil de responder, principalmente, por que estou entrando na política agora. Temos dois projetos de País diferente. O do PSDB é de um estado menor, de máquina administrativa mais enxuta, enquanto o do PT é um projeto com o estado um pouco maior, mas com componente social bem mais claro e explicito. Sobre essa ótica, é claro, tem pontos que são questionáveis e pontos a serem aprofundadas numa discussão e os caminhos poderiam ser diferentes. As coisas na política, estou aprendendo agora, são apaixonadas e exageradas nas posições. Gosto de posições mais baseadas na razão, nos projetos, nos avanços e não tenho tantos elementos para fazer uma avaliação mais crítica do governo Marconi. O que diz respeito a educação, a gente percebe uma insatisfação dos professores, mas por outro lado, o governo mostra números de avanços, como o Ideb.

O sr. falou que o desejo é concorrer a um cargo de deputado federal ou estadual. Acredita que com apenas a comunidade universitária consegue a eleição e se não, como conseguir expandir essa base?
Tenho certeza que num pleito para um cargo de deputado federal, matematicamente, é impossível conseguir um resultado positivo, já que falamos de uma votação em torno de 100 mil votos, acima de 80 mil votos para ter uma eleição. Talvez um diferencial que possa acontecer, e isso vai depender da leitura da própria universidade, é um possível engajamento de parte da universidade na campanha, uma militância a partir da universidade pode fazer diferença. A UFG me proporcionou trânsito em vários ambientes e locais e a minha ideia é percorrer todo Estado e me apresentar. Sou uma pessoa de origem simples, meus pais são funcionários públicos e não somos detentores de recursos financeiros para bancar uma campanha milionária e não acredito nessa estratégia de campanha irrigada de muitos recursos. Quem se coloca numa lógica dessa fica preso à compromissos que não vão lhe dar a liberdade que um parlamentar precisa. A ideia é tentar trabalhar uma campanha mais ancorada no voto de opinião. Aproveitar o que as ruas sinalizaram em junho, que as pessoas querem parlamentares que possam representá-las. O que vimos das ruas, talvez a maior lição, é que as pessoas se distanciaram do políticos e das instituições. Então vamos tentar mudar isso e captar um voto de opinião, daquilo que a universidade representa em credibilidade, isenção e compromisso como desenvolvimento. Talvez esteja iludido (risos), mas acho que há espaço para uma candidatura dessa.

(Risos) Se o número for dessa magnitude para se eleger, estou fora de todo processo. Não tenho a ilusão que se faça uma campanha sem dinheiro. Você precisa percorrer o Estado, produzir documentos, de gente para divulgar o seu nome. Mas ainda não parei para pensar de quanto custa essa estrutura, mas acredito em algo de 10% ou 20% do número que você falou.


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