Após crise interna pela “traição” de membros, líderes querem criar dispositivos que garantam maior coesão do grupo oposicionista
Na Assembleia: Oposição junta cacos
Eduardo Sartorato – ( Tribuna do Planalto)
Á faz algum tempo em que a Assembleia Legislativa de Goiás não vivia uma semana tão nervosa como a última que se passou. Após o arquivamento de três CPIs por retiradas de assinaturas de seus membros, a oposição pressionou os deputados para descobrir quem seriam os chamados “traidores”. O resultado foi a confissão dos deputados Paulo Cezar Martins (PMDB) e Simeyzon Silveira (PSC), que argumentaram terem o direito de voltar atrás por não concordar com os requerimentos. Depois de todo o desgaste, o grupo tenta se reagrupar e impedir futuras infidelidades.
O líder do PT, Karlos Cabral, diz que vai propor ao seu partido e ao PMDB que as futuras questões sejam discutidas dentro dos próprios partidos e, só depois, seja feita uma reunião com toda a bancada de oposição para afinar a atuação. “Assim cada partido pode discutir e chegar ao consenso dentro de sua própria bancada para depois ampliarmos o debate”.
O deputado quer, assim, ter garantias de não haver mais casos de infidelidade. Cabral ressalta que é importante que a oposição tenha noção do número de deputados que ela realmente pode contar, para que o episódio das CPIs não volte a ocorrer. “Se são 11 os deputados que podemos contar, então contaremos com os 11. Não adianta nada termos 16 e, na hora H, não conseguirmos estes votos”, defende. Já Bruno Peixoto, líder do PMDB, quer implantar uma ata para as reuniões de trabalho dentro da oposição.
O objetivo é evitar que parlamentares possam voltar atrás do que foi acordado. Tanto Paulo Cezar quanto Simeyzon argumentaram que eram contrários às CPIs, mesmo após assinarem o requerimento para abrirem as comissões. Mesmo após a descoberta dos dois parlamentares que retiraram seus nomes dos requerimentos, Bruno Peixoto e Karlos Cabral minimizaram a possibilidade de reapresentarem os pedidos.
“Agora não há mais clima para outra CPI”, disse Bruno, em plenário, na quinta, 7. Cabral acredita que será necessária uma reorganização de toda a oposição antes de se pensar em novas CPIs.
A opinião de ambos é diferente da do deputado Major Araújo (PRB), que diz já ter pronto um novo documento para pedir, novamente, a CPI da Segurança Pública (leia a entrevista na página 3).
Confusão
Os três pedidos de abertura de CPIs apresentados pela oposição – para investigar a saúde, segurança pública e o programa Rodovida – foram arquivados na quinta, 28, pelo presidente Helder Valin (PSDB), após comunicar o plenário que os requerimentos não tinham o número de assinaturas necessárias para tal. As CPIs da Saúde e Segurança Pública foram apresentadas com 14 nomes, enquanto que a CPI do Rodovida foi abalizada por 15 deputados. Como são necessárias, no mínimo, 14 assinaturas, a oposição ficou sem entender.
A primeira reação dos oposicionistas foi pedir a Valin que mostrasse os nomes dos deputados que retiraram suas assinaturas. Com a negativa do presidente – que argumentou que não tinha obrigação de passar essa informação -, alguns deputados da oposição desconfiaram de que Valin poderia ter arquivado os requerimentos mesmo com o número suficiente de assinaturas. Outros, porém, preferiram ir atrás dos supostos “traidores”.
Depois de muitas especulações nos bastidores, na terça, 5, o deputado Paulo Cezar Martins confessou ao seu grupo que retirou o seu nome por não concordar com a abertura de CPIs. Um dia depois, na quarta, 6, foi a vez de Simeyzon Silveira anunciar que também havia se retirado dos documentos. Simeyzon assinou as três CPIs, enquanto que Paulo Cezar firmou apenas a do Rodovida. Sem eles, os três documentos ficaram apenas com 13 nomes, o que levou o arquivamento.
Tanto Paulo Cezar quanto Simeyzon se defenderam baseado no direito de poder voltar atrás em suas ações. Eles negaram qualquer negociação com o presidente Helder Valin que, segundo informação de bastidores, teria pressionado os parlamentares para evitar que as comissões que investigariam o governo do Estado fossem criadas.
Há parlamentares, inclusive, que defendem a tese de que Valin teria segurado os documentos e os colocado em apreciação apenas quando já era certa a insuficiência de nomes. O presidente negou qualquer negociação e disse que os parlamentares atuaram por vontade própria.
Repercussão
A confissão de Paulo Cezar e Simeyzon teve grandes desdobramentos até mesmo fora da Assembleia. O deputado federal Ronaldo Caiado fez duras críticas aos dois parlamentares pelo Twitter. “Simeyzon e Paulo Cezar desmoralizaram a Assembleia. Valin deveria ter anunciado logo. A verdade não pode ser ocultada”, escreveu.
Em relação a Simeyzon, deputado que até então era aliado próximo na chamada ‘terceira via’, Caiado foi ainda mais crítico. “Simeyzon não tem condição de participar de qualquer projeto. E se o PSC se considera oposição, no mínimo, tem que expulsá-lo. (…) Simeyzon enterrou a sua carreira política”, disse. Vale lembrar que Caiado apoiou a candidatura de Simeyzon à prefeitura de Goiânia no ano passado.
Simeyzon disse que foram equivocadas as opiniões de Caiado e, até mesmo, cutucou o deputado. Questionado se as críticas de Caiado a ele poderiam inviabilizar uma futura aliança entre o DEM e o PSC, Simeyzon disse: “Com relação a mim não, a não ser que já havia uma pré-disposição de se fazer essa ruptura”.
Já Paulo Cezar disse não ter medo de Caiado. “Tinha até vontade de votar nele, mas agora perdi essa vontade”, revelou.
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