O governador Marconi Perillo (PSDB) terá mais preocupações em 2013. Além de superar as dificuldades administrativas para buscar a reeleição em 2014, o tucano também terá que apagar os pequenos incêndios provocados por críticas de aliados. A difícil relação entre os grupos internos que formam a base aliada está na origem do “fogo amigo”, que tem gerado desgastes na estrutura de apoio ao tucano. Depois dos desgastes vividos em 2012, o líder tucano já tem a estratégia pronta para “pacificar” a base aliada.
( Daniel Gondim – Tribuna do Planato)
As provas da mudança da postura do governador em relação à base aliada foram dadas recentemente. O primeiro sinal foi a troca na presidência da Agência Goiana de Comunicação (Agecom), quando Marconi escolheu Igor Montenegro para suceder José Luiz Bittencourt no órgão. Escolhido dentro de uma cota pessoal do governador, o executivo deverá agir de acordo com os interesses próprios do líder tucano.
O segundo sinal foi a escolha antecipada do secretário-chefe da Casa Civil, Vilmar Rocha (PSD), como o candidato da base aliada ao Senado em 2014. “Se eu tiver que trabalhar para uma candidatura em 2014, está será a de Vilmar Rocha ao Senado. Eu não sou daqueles que ficam guardando cartas na manga. Eu sou uma pessoa decidida e não fico em cima do muro”, disse Perillo, no sábado, 9, no encontro regional do PSD, realizado em Rio Verde.
Com diferença de poucos dias entre os dois episódios, o governador deu o recado: se preciso, ele vai “pesar a mão” para controlar os ânimos e evitar que brigas internas atrapalhem o andamento da administração. “Não são os grupos que travam o governo, mas, o governador que se permitiu travar pelos grupos. Enfraquecido, ele não tinha condições de evitar a pressão das alas internas que existem dentro do governo. Hoje, a situação já é diferente. Não é mais o governador que tem que ir atrás dos aliados, mas os aliados que tem que procura-lo”, avisa um aliado marconista, ressaltando a mudança de postura.
Postura
A nova atitude do governador em relação aos aliados tem um motivo: o fim dos desgastes sofridos por Marconi Perillo com seu suposto envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. De fato, o tucano viveu momentos de fragilidade política, especialmente em 2012, quando foi deflagrada a operação Monte Carlo.
O depoimento do governador à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que foi considerado satisfatório pelos aliados, e a consequente rejeição do relatório apresentado pelo relator Odair Cunha (PT-MG) aliviaram a pressão sobre Marconi. Com isso, ele recuperou parte da força e vai começar a agir para aliviar os núcleos de tensão dentro do próprio governo.
Na época, a fragilidade impediu mudanças mais drásticas para controlar os aliados. Agora, porém, tudo mudou. Quando colocou Igor Montenegro na Agecom, Marconi usou o Twitter para dar o recado. “Critério de escolha foi técnico e de minha cota pessoal, sem indicação política”, postou o governador ao anunciar o nome do executivo.
Segundo aliados, a escolha de Igor para o cargo é emblemática. Perillo agora terá maior controle sobre o órgão responsável por toda a publicidade governamental. Sem estar ligado a nenhum grupo político, Igor vai atuar como um interlocutor direto das vontades do governador em relação aos veículos de comunicação. De quebra, a mudança ainda reduz o poder de outros grupos, que tinham influência no órgão.
Já o lançamento da candidatura de Vilmar Rocha ao Senado em 2014 provocou surpresa dentro da base aliada. O secretário-chefe da Casa Civil sempre falou em ser candidato ao Senado, mas a declaração de apoio do governador acabou por dar um peso maior à intenção do líder pessedista. Além disso, a atitude do governador é um sinal para outras lideranças que almejavam a vaga.
O problema da nova atitude do governador em relação às críticas e aos grupos é que ela pode gerar ainda mais problemas. Se estiver de prestígio recuperado, a tendência é que, mesmo descontentes, os aliados não desafiem a autoridade de Perillo. Caso contrário, quem estiver sendo preterido poderá buscar o caminho das retaliações.
Isso, porém, não preocupa o governo. “Nós podemos perceber que há uma crítica ou outra de um secretário a outro, mas são coisas pontuais e administrativas e que, no final das conversas, o governador tem entrado e as coisas têm sido conversadas”, analisa o secretário extraordinário de Articulação Política, Sérgio Cardoso (PSDB).
Críticas
O fato do atual mandato estar estruturado em cima de tantos grupamentos provoca outras dificuldades. A relação os grupos parece longe de ser boa, pois eles têm interesses diferentes. Com isso, há duelos nos bastidores e, às vezes, as brigas chegam a dificultar as ações governamentais.
Recentemente, as críticas, que até então eram veladas, chegaram à superfície. A primeira estocada veio do deputado estadual José Vitti (DEM), em entrevista à Tribuna no final de fevereiro. “Então, se nós da base não tivermos mais trabalho, iremos enfrentar mais dificuldades. Fica aquela sensação que o governo tem de trabalhar muito. Teremos um ano, um ano e dois meses no máximo, para realizar tudo. Não realizou em dois anos, ou pouco realizou. O Estado está em dificuldade financeira, tem uma folha de pagamento inchada, mas agora tem de procurar meios e métodos para realizar”, declarou.
Na última semana, foi a vez de Vilmar Rocha soltar o verbo. “Eu acho, por exemplo, que o governo Marconi sempre foi marcado pela área social. E acho que governo bom é governo que cuida de gente, promove os direitos das pessoas. Nós não achamos que governo bom é governo que priorize obras, mas tem quem ache que sim. As obras são importantes, temos um enorme déficit de infraestrutura no Estado, mas a prioridade é com o ser humano”, afirmou o pessedista, em entrevista publicada pelo jornal O Popular no domingo, 10.
Antes dos dois, em janeiro, o secretário de Cidadania e Trabalho, Henrique Arantes (PTB), também já tinha mostrado insatisfação. “Trabalho mais que muitos auxiliares do governador Marconi Perillo, mas há dois anos sou humilhado no governo”, disse ele ao O Popular. Depois, em entrevista ao Diário de Goiás, admitiu que as críticas poderiam trazer consequências. “Obviamente, não parte do governador nem de meus colegas de secretarias, mas às vezes na política você peca por ser sincero e franco, que é o que eu fui. Eu sei que obviamente essas pessoas que eram neutras podem se tornar meus adversários daqui para frente”, explicou.
Como são mais recentes, as entrevistas de Vilmar Rocha e José Vitti ainda repercutem dentro do governo. “Queria saber que água estragada é essa que o Vilmar e o Vitti andaram tomando”, questiona um aliado do governador. O tom de brincadeira, porém, esconde uma real preocupação com o sentimento entre os aliados. Com dificuldades políticas e administrativas nos dois primeiros anos, o governador terá pouco mais de um ano para alavancar o governo e preparar terreno para sua reeleição.
Mesmo com todas as dificuldades e críticas esparsas, o sentimento dentro da base aliada ainda é de esperança. Na avaliação de aliados, a quantidade de recursos disponíveis para investimentos mantém a unidade entre os marconistas. Caso o tempo passe sem que as obras avancem, porém, a situação pode mudar. “Se nada acontecer, as críticas vão só aumentar e, por conta do pragmatismo, até uma debandada pode ocorrer”, analisa um parlamentar aliado.
Parlamentares reclamam de acesso a secretários
Os problemas entre as alas, porém, não se restringem entre os grupos de Vecci e Rincón. A ala da Assembleia, por exemplo, também tem atritos com outros grupos. Em relação ao secretário de Planejamento e Gestão, a dificuldade é oriunda de uma suposta concentração de poderes, o que leva Giuseppe a ser chamado, nos bastidores, de “primeiro-ministro”.
Muitos dos deputados estaduais da base aliada reclamam da dificuldade de acesso a Vecci. Em uma reunião dos parlamentares no início de março, houve quem fizesse uma lista para coletar abaixo-assinado pedindo a saída do secretário. “Na ala privativa do Palácio das Esmeraldas, os únicos andares onde o elevador não para são os da Segplan. As portas ficam trancadas”, reclama um parlamentar.
Além da dificuldade de acesso, o anúncio de redução de 25% no número de comissionados, feito no fim de fevereiro, gerou mais desgastes para Vecci. A medida atingiu com força os deputados, que tem nos cargos de confiança um dos grandes instrumentos para atender interesses de apadrinhados.
Com Rincón, o grupo liderado por Jardel Sebba e Helder Valin não concorda com o andamento das obras rodoviárias. Como os deputados têm bases eleitorais em todo o Estado, ouvem reclamações sobre a situação das estradas, especialmente no interior. Eles acreditam que, em vez de optar pela reconstrução, o certo seria fazer uma operação de emergência.
Contra o grupo da Assembleia, porém, também existem críticas das outras alas. A principal delas é que, quando descontentes, eles travam o andamento de processos de interesse do governador na Casa.
Partidos
Fora do núcleo do PSDB, há também os espaços ocupados pelas outras siglas aliadas. PSD, PTB e PP são, atualmente, contemplados com secretarias, mas também têm outras demandas.
A grande briga do trio, porém, é mesmo – querem uma vaga na chapa majoritária em 2014. Em uma escala de forças atual, o PSD aparenta sair na frente. O anúncio do apoio do governador para uma candidatura de Vilmar Rocha ao Senado, nas próximas eleições, mostra o prestígio que a sigla tem na administração. Isso, porém, desagradaria, os dois outros partidos, que também tinham interesse na vaga.
O PP poderia indicar o próprio deputado federal Roberto Balestra para o Senado. No PTB, o interessado é Jovair Arantes. Além disso, uma possibilidade é o ex-prefeito de Itumbiara, José Gomes da Rocha, que é atualmente do PP, mas que deve se juntar ao grupo petebista em abril.
Alas disputam espaços na administração
Grupos internos convivem com relacionamento conflituoso. Disputas seriam herança dos compromissos eleitorais feitos na campanha de 2010
Repórter de PolíticaA administração do governador Marconi Perillo (PSDB) é dividida por grupos. Nem sempre, porém, o relacionamento entre eles é harmonioso. Cercado de aliados, o líder da base aliada estadual sofre pressão de todos os lados, que brigam por espaço e por mais destaque na gestão. A avaliação é a de que as disputas são heranças dos compromissos feitos na eleição de 2010.
“Eu diria que são questões pontuais, mas os relacionamentos são bons. O governador foi eleito em cima de uma composição de vários partidos, várias ideias. Tem hora que se tem essa dificuldade, mas todo mundo no governo caminha na mesma direção, que é o bem comum para o Estado”, avalia o secretário extraordinário de Articulação Política, Sérgio Cardoso (PSDB).
No âmbito geral, são seis grupos os principais grupos que convivem dentro do governo. Três deles são mais ligados ao PSDB, partido do governador, e principal vértice da aliança. A divisão entre os tucanos é baseada em ordem cronológica. Há o grupo histórico do partido, que tem mais tempo de filiação à sigla e são chamados de “santilistas”, numa referência ao governador Henrique Santillo, que governou Goiás entre 1987 e 1991 e foi um dos fundadores do PSDB em Goiás.
O principal expoente do grupo é o secretário de Gestão e Planejamento, Giuseppe Vecci, que tem um perfil mais técnico, voltado para questões econômicas. Ele é o responsável, por exemplo, pela elaboração e implantação do Plano de Ação Integrada de Desenvolvimento (PAI).
Outro grupo é o nascido na Assembleia Legislativa, capitaneado pelo atual presidente da Casa, Helder Valin, e pelo antecessor e atual prefeito de Catalão, Jardel Sebba. Os dois conquistaram o primeiro mandato de deputado em 1998, quando Marconi foi eleito pela primeira vez para o Palácio das Esmeraldas. Atualmente, o vice-governador, José Eliton (DEM), também faz parte do grupamento.
Por fim, a ala mais recente é o liderado pelo presidente da Agência Goiana de Transporte e Obras Públicas (Agetop), Jayme Rincón, que não é filiado ao PSDB. Em 2010, ele foi coordenador do comitê financeiro na campanha de Marconi ao governo e, por causa do bom desempenho, ficou prestigiado.
Os grupamentos restantes são ligados ao PP, PTB e PSD, as principais siglas de sustentação da administração marconista. As três alas são lideradas pelos presidentes dos diretórios regionais das siglas, respectivamente, os deputados federais Roberto Balestra, Jovair Arantes e Vilmar Rocha. Atualmente, o pessedista está licenciado do cargo, já que é secretário-chefe da Casa Civil.
Relacionamento
Os problemas de relacionamento entre os grupos ameaçam minar o governo de Marconi Perillo. Uma das principais disputas envolve uma mudança de foco em relação às gestões anteriores. Nos dois primeiros mandatos, o governador criou e aperfeiçoou a chamada rede de proteção social, que incluiu programas como o Bolsa Universitária, o Renda Cidadã e o Cheque Moradia.
Na gestão atual, porém, houve uma guinada, já que o foco é as obras de infraestrutura, especialmente as de recuperação e reconstrução da malha viária. O problema é que o grupo de Giuseppe Vecci foi contra a mudança. Vecci, que foi secretário de Planejamento e Desenvolvimento no primeiro mandato de Marconi e ficou dois anos à frente da secretaria da Fazenda no segundo, preferiria a manutenção do foco no social.
Jayme Rincón é o grande defensor da importância das obras. A Agetop, da qual ele é presidente, é a responsável pelo programa Rodovida, que prevê a recuperação e reconstrução das rodovias, carro-chefe dos projetos do terceiro governo de Marconi. Com isso, o órgão é o que mais recebe recursos justamente para bancar os grandes investimentos em infraestrutura.
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