22 de dezembro de 2024
Notícias do Estado

GEDDA ACREDITA QUE OPOSIÇÃO PODE SER MAIORIA AINDA ESSE ANO

 

 

“Se o governo não melhorar, oposição terá maioria até o fim do ano”
Deputado Francisco Gedda (PTN) diz que deputados da base estudam trocar o governo pela oposição, caso o governo estadual não decole no segundo semestre
Daniel Gondim e Eduardo Sartorato

Além de realizar o seu trabalho como deputado de oposição na Assembleia Legislativa, o deputado Francisco Gedda (PTN) também tem a missão de ajudar na união dos dois grupos que hoje formam a oposição em Goiás – a aliança PT-PMDB e a chamada ‘terceira via’. Gedda é ex-presidente da Metrobus no governo Alcides Rodrigues e apoiou a candidatura do empresário Vanderlan Cardoso (PSB) ao governo em 2010. Hoje, porém, Gedda está alinhado com o PMDB e tem compromisso com o empresário Júnior do Friboi. Mesmo assim, o parlamentar pode usar o seu bom trânsito com as lideranças dos dois grupos para uni-los. Crítico do governo Marconi Perillo (PSDB), Gedda o qualifica como “um caos” e acredita que a oposição tem boas chances de sucesso em 2014. Um dos termômetros, segundo ele, é a Assembleia, onde garante que vários deputados da base governistas já o procuraram para se juntar à oposição caso o governo estadual não deslanche até o fim do ano. Francisco Gedda recebeu a equipe da Tribuna em seu gabinete na quinta, 27.

________________________________________
Tribuna do Planalto – Como o sr. viu essas manifestações que aconteceram nas últimas semanas em todo o Brasil?
Francisco Gedda – As grandes reformas e os grandes avanços que tivemos no Brasil aconteceram por manifestações como, por exemplo, as Diretas Já. Hoje, eu vejo um descontentamento, principalmente por parte da população de menor poder aquisitivo, que são aqueles que estão reclamando. Pela primeira vez, eu vi uma pesquisa na qual a segurança esteve em primeiro lugar na preocupação dos goianienses, por exemplo. Então, eu vejo com muita satisfação por parte da população, que está criticando o governo federal e o estadual. Em Goiás, por exemplo, sempre que vemos nosso Estado na mídia nacional é por motivo ruim. Então, isso é um sinal de que a população está participativa e que acompanha tudo o que está acontecendo.

O sr. acha que falta autocrítica à classe política, que tem dificuldade de enxergar os próprios erros como motivação para as manifestações ocorridas?
Eu tenho dito sempre que contra fato não há argumento. Eu fui às manifestações e percebi o que estava escrito nos cartazes. Não dá para tapar o sol com uma peneira. Havia cartazes com críticas ao governo municipal, o federal e muito mais do que os dois juntos criticando o governo estadual. Então, é preciso que os políticos tenham discernimento do que está acontecendo. Aqui na Assembleia, por exemplo, tem deputado que assina autoria de projeto, que é aprovado e vai para sanção do governador. O governador rejeita, o projeto volta para a Assembleia, mas aí o autor vota contra o projeto que ele mesmo propôs. Os políticos têm que aprender a não ser subservientes, tem que votar de acordo com os seus princípios e do eleitor que ele representa. Veja por exemplo a UEG, que foi uma grande iniciativa do governador, mas que está inchada. Temos hoje 42 unidades que funcionam precariamente. Se tivessem sido criadas entre 10 e 15 unidades e fossem equipadas de acordo com a necessidade de cada região, seria diferente. Eu vejo, por exemplo, curso de Hotelaria em lugares onde não há demanda para turismo. Então, seria preciso que o governo deixasse a UEG na mão dos professores, dos funcionários, do estudante. Não é possível o governo criar e controlar politicamente como acontece em outras secretarias, como a Educação, Saúde e Fazenda.

Aqui na Assembleia, por exemplo, há uma sensação de que os projetos do governo têm mais facilidade de ser aprovados. Falta mais discussão?
Eu tenho falado isso, que a Assembleia é mais despachante do que deveria ser. Eu prego muito a independência da Assembleia. Por exemplo, há o caso das emendas. No orçamento, há um valor fixo de R$ 2,9 milhões para que os deputados façam suas emendas. No primeiro ano, eu fiz, mas não fui atendido. Para 2013, eu espero que o governador atenda pelo menos algumas, mas o que vejo é que há uma divisão: os deputados da oposição não têm emendas, mas os da situação têm. Em Minas Gerais, no primeiro dia o deputado já sabe quanto ele terá de emendas sendo base, situação ou independente. Aqui não é assim. O que atende todas as ordens do governo é agraciado, mas o que não atende não é agraciado. Por isso que eu peço que os eleitores olhem mais as propostas dos deputados para não elegerem político que não tenham competência para administrar uma função legislativa.

O que falta então para que a Assembleia não seja tão subserviente ao governador?
Acredito que os deputados têm que ter conhecimento e trabalharem juntos por essa independência. Para mim, é a única forma de corrigirmos isso. Isso não é de hoje, basta ver o duodécimo da Assembleia, que nunca veio no valor estipulado pela Constituição. Sempre há um arranjo com o presidente, sela ele quem for e seja qual governo for. Por isso, os deputados têm que ter esse discernimento de cuidar melhor do bem público. Nós perdemos a Celg, que é uma das empresas mais rentáveis do Estado, mas de onde só tiram e ninguém põe, não tem como sobreviver. O Alcides Rodrigues foi o único governador que não retirou nada da Celg para o governo. Pelo contrário, deixou de receber ICMS da Celg porque ela já estava funcionando precariamente. Por isso, é preciso que o governo estadual não tenha o governo como propriedade. Aquele acerto do governo Alcides com a Celg, se tivessem sido seguido, ainda estaríamos com a Celg. Hoje, porém, ela não pertence mais ao governo goiano. Bateram muito no Maguito Vilela por ter vendido Cachoeira Dourada, o que de fato foi errado. Mais errado, porém, é perder a Celg por completo.

Sobre o cenário eleitoral de 2014, o grupo do governador está há 16 anos no poder. O sr. acha que ainda há espaço para que eles apresentem algo de novo para o eleitorado?
Em 1998, eu apoiei o governador Marconi Perillo. Lembro-me como se fosse hoje de todas as propagandas, nas quais ele dizia que queria tirar um coronel e sua “panela”. Hoje, ele está indo na contramão. Na época, acho que ele até modernizou algumas coisas, a forma de se fazer política e realmente tirou um grupo que estava há muito tempo no poder, deixando entrar pessoas que realmente queriam trabalhar e mostrar serviço. Agora, porém, o vejo mais do que um coronel. Quem ele queria tirar ficou dois mandatos. Ele está no terceiro e quer ir para o quarto com os mesmos assessores, secretários. È preciso dar oportunidade a outros, que também tem sonho de governar o Estado. Vejo hoje a oposição com uma situação relativamente cômoda para ganhar essa eleição. Basta que tenhamos um bom produto para vender, que é o nosso candidato. Será preciso que as pessoas se empolguem com o projeto, o plano de governo que ele vai colocar em prática quando ganhar a eleição. Vejo que a população do Estado está em uma desilusão muito grande desse governo, que é um dos maiores vendedores de ilusão. Com toda a dificuldade que eles falam que o Estado passa, gastaram quase R$ 200 milhões com mídia. A Educação está um caos com greve de professores e a situação da UEG. Na Saúde, tudo terceirizado. O Estado administrando a Saúde não faz um grande trabalho, aí é só imaginar o que acontece com a terceirização. As estradas estão um caos, o governo começou a melhorar, mas em torno de 60% das rodovias estaduais estão ao Deus-dará. As únicas rodovias que estão boas são as federais, como a duplicação da BR-060, que está em fase final.

Como unir os dois grupos que hoje formam a oposição?
As pessoas me perguntam como é possível unir uma oposição que hoje tem 12, 13 pré-candidatos a governador. Eu acho isso muito saudável. Eu gostaria que tivéssemos 20 ou 30 pré-candidatos. Porque discutiria melhor a condição do Estado, a política. Agora, no final nós temos que ter juízo. Eu tenho um relacionamento muito bom com o pré-candidato Vanderlan Cardoso. Na eleição passada eu trabalhei para ele. Admiro muito o trabalho que o deputado Ronaldo Caiado tem feito. É referência como pessoa de bem, pessoa séria. Vejo o Júnior do Friboi como um pré-candidato querendo mostrar serviço. Nós goianos temos que ter orgulho de ter uma pessoa como o Júnior, que saiu lá de baixo e hoje é uma referência mundial. Agora, eu te pergunto: na base do governo tem mais de um candidato? Eu só vejo um. E acho que os outros que têm esta intenção ficam com medo, receosos, de colocar seu nome e depois ser destruído. Vejo hoje na oposição uma grande chance que a população terá, de mudar o que está acontecendo em Goiás, este caos que estamos vivendo. Colocar uma pessoa realmente nova e que queira mostrar serviço.

O sr. foi anunciado como um interlocutor entre os dois grupos. O sr. tem conversado com eles?
Tenho conversado muito com Vanderlan Cardoso e com Ronaldo Caiado. O grupo que faço parte hoje tem oito partidos e está unido. Estamos nos reunindo pelo menos uma vez por mês. E eu gostaria que viessem para esta discussão os partidos que estão com Vanderlan Cardoso para nós discutirmos a situação do Estado. Não adianta a gente escolher um candidato a governador se nós não combinarmos com o povo. Então é necessário que este candidato seja do agrado dos partidos, dos políticos, mas principalmente da população.

Então se as pesquisas mostrarem que o melhor caminho for apoiar um candidato da chama ‘terceira via’, o sr. acha que o grupo do sr. teria que apoiar?
Eu acho que se tivermos juízo deveríamos fazer. Eu já declarei há um ano que se o Júnior do Friboi conseguisse sair candidato o PTN iria apoiá-lo. Eu vejo nele uma grande esperança para Goiás. Mas nós também não podemos ir contra a vontade popular. Eu acho que aqueles pré-candidatos que pretendem se candidatar ao governo precisam visitar o interior, discutir com a sociedade em geral. Conhecer o Estado. E deixar para fazer os acertos políticos próximos às convenções. Também vejo que os pré-candidatos precisam trabalhar a Grande Goiânia.

Este ano a oposição ganhou novos deputados. O grupo trabalha com a possibilidade de ter mais alguns reforços até o fim do ano?
Se você pegar o histórico da Assembleia, nunca teve um governo com tantos deputados opositores como tem hoje. Isso aí é o que tenho falado: “Governo fraco, oposição forte”. Cada vez que o governo vai à televisão, promete uma coisa e não cumpre, os deputados ficam insatisfeitos, porque eles sabem que precisam ficar ao lado da população. As propagandas do governo não surtem tanto efeito como surtiam antigamente. Hoje a população está vendo que o que está sendo mostrado na televisão não é a realidade do Estado. A oposição hoje tem 16 deputados e eu já fui procurado por uns quatro ou cinco da base dizendo que se as coisas continuarem como estão até o final do ano eles estarão na oposição. Vejo hoje poucos deputados defendendo o governo. A maioria omissa, calada. Eu acredito que até no final do ano, se o governador não melhorar a sua administração, nós acabaremos, pela primeira vez na história na Assembleia, sendo maioria sobre a base do governo.

A oposição tem 16 deputados, mas não mostrou unidade em episódios como o das CPIs arquivadas. Como fazer com que esse número de opositores seja realmente um número real?
Isso depende muito de união. Uma falha grande que nós tínhamos era que não realizávamos reuniões. Hoje estamos nos reunindo mais frequentemente. Nós estamos trabalhando para que haja união. Eu não acredito em sucesso com divisão. Que é o que está acontecendo hoje na base do governo. Então é necessário que nós da oposição aprendamos a lição do que está acontecendo na base. Eu acredito que hoje não aconteça mais a retirada de assinaturas de CPIs. Sou a favor, e apresentei um projeto, para acabar com o voto secreto. Porque daí acabaria com aquela história do deputado falar uma coisa e agir de outra forma.

 


Leia mais sobre: Notícias do Estado