27 de novembro de 2024
Política

Friboi corre atrás de Iris, mas…

 

Empresário não consegue cativar líder peemedebista. Internamente, aliados de Júnior do Friboi admitem que grupo precisa de Iris Rezende para ter sucesso eleitoral. Acompanhe a cobertura sobre a reunião entre Iris e Friboi feita pela equipa da editoria de política do Tribuna do Planalto.
(Eduardo Sartorato – Editor de Política e Sara Queiroz – Repórter de Política)

(Reportagem publicada no Jornal Tribuna do Planalto edição 11 a 17 de maio de 2014)

 

A retirada da pré-candidatura ao governo do Estado do ex-governador Iris Rezende (PMDB), há cerca de 15 dias, pode até ter esfriado os ânimos entre os grupos irista e friboizista – apoiadores do empresário Júnior do Friboi (PMDB) –, mas não resolveu a disputa interna. Vencedor do confronto, pelo menos na teoria, Friboi está sofrendo na prática as dificuldades de unir todos os peemedebistas em torno de seu nome. Aumenta entre os seus aliados o sentimento de que, para o sucesso de Friboi, Iris precisa estar na chapa como candidato ao Senado. O problema é convencer o líder do PMDB a encarar esta missão.

Sabendo dessa sua limitação, Júnior do Friboi não esperou para tentar resolver as rusgas com Iris Rezende. Um dia depois da decisão de Iris de se retirar da disputa pela cabeça de chapa (quarta, 30), o empresário tentou contato com o peemedebista para marcar uma reunião com o objetivo de resolver o impasse. Não obteve sucesso.

Na segunda, 5, após o velório de Lucimar Veiga – nora do deputado federal Sandro Mabel (PMDB), que morreu em acidente automobilístico na GO-070 no domingo, 4 –, Friboi tentou um novo diálogo com Iris. Novamente não conseguiu se sentar com o ex-governador a sós. O empresário ainda mandou dois interlocutores para agendar uma conversa com Iris Rezende, mas o encontro não foi marcado.

Na manhã da quinta, 8, Júnior do Friboi mudou a estratégia. Telefonou para o escritório de Iris Rezende e combinou uma visita relâmpago. Pouco depois, chegou ao local em companhia de dois assessores. Cumprimentou todos os presentes e foi recebido por Iris Rezende. Sentou-se com um grupo de lideranças antes de se retirar a uma sala e ficar a sós com o ex-governador.

A conversa durou cerca de uma hora, quando Friboi saiu junto de Iris, se despediu e foi embora. Nos bastidores, a informação é de que não houve progresso. Friboi teria se reafirmado pré-candidato ao governo e Iris lembrado que não tem nenhuma pretensão de se candidatar à vaga goiana do Senado. Não houve nenhum tipo de acordo, nem ao menos o esboço de uma coalizão.

Dependência
A cada dia fica mais nítido de que a retirada de Iris do processo do modo que ocorreu foi um golpe para Júnior do Friboi. O empresário, que esperava ter o apoio de Iris e seus aliados em sua postulação para o governo, viu o PMDB ficar dividido e Iris cada vez mais afastado da corrida eleitoral. Na semana passada, a Tribuna já havia trazido uma matéria relatando as dificuldades dos pré-candidatos de oposição. O desafio de Júnior é o de, justamente, unir o partido e trazer Iris para a sua campanha.

A dificuldade de convencer Iris a atuar no campo friboizista tem causado dor de cabeça a Júnior do Friboi. No quartel general do empresário, já é dada como imprescindível a necessidade de trazer Iris Rezende como aliado para campanha. E mais: apenas o apoio de Iris será pouco; os friboizistas veem hoje que a candidatura do líder peemedebista ao Senado é indispensável, a fim de transferir popularidade e conhecimento a Friboi.

A dependência de Friboi a Iris Rezende não é novidade para os aliados do empresário. No início do ano, quando o publicitário Duda Mendonça foi apresentado como comandante do marketing da pré-campanha de Júnior, o próprio marqueteiro disse que seria “muito difícil a eleição de Friboi sem o Iris”, e que Friboi teria que buscar o seu apoio para aumentar as chances de ser eleito.

Na quarta, 6, Friboi foi a Brasília conversar com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), e com o presidente do partido, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). O empresário pediu para que os líderes do PMDB nacional o ajudassem a aumentar o diálogo com Iris. Ter o PT como aliado também parece ser uma boa opção para Friboi, que também solicitou interferência de Temer em possíveis conversas com os líderes petistas.

Agenda
Essa percepção, unida com a saída de Iris do processo, parece ter causado um impacto na estratégia de Friboi. Mesmo sabendo que ainda é um nome desconhecido no Estado e, por consequência, tendo a necessidade de viajar pelo interior para se apresentar às bases do PMDB e segmentos da sociedade organizada, Júnior paralisou sua agenda de pré-campanha.

Desde o dia 11 de abril, Friboi não faz um evento ou tem grandes compromissos de agenda no interior. Na semana passada, o empresário teve a reunião com líderes do PMDB em Brasília e participou de uma reunião com vereadores de Trindade. E foi só, nada mais.

Para piorar ainda mais a sua agenda, Júnior do Friboi se submeterá a uma cirurgia de hérnia umbilical esta semana, provavelmente na terça, 13, e deverá ficar de 10 a 20 dias afastado (leia mais na página 6). Será mais um tempo que o pré-candidato perderá para viajar ao interior e fortificar seu nome.

Restará a ele um período de sossego para remontar a sua estratégia a fim de trazer Iris Rezende e sua trupe para seu lado. Para isso terá que agir como ainda não conseguiu desde que se filiou ao PMDB – com diplomacia, agregando apoio. Se não conseguir, será candidato de um exército desfalcado contra uma artilharia bem calibrada do governo estadual. Friboi sabe disso. Daí a sua angústia.

Lideranças ainda não unificaram discursos

Apesar de partidários afirmarem veementemente que o clima entre iristas e friboizistas está tranquilo, alguns calos ainda parecem ferir os peemedebistas. A divisão dos grupos ainda é clara nos discursos de suas lideranças. O deputado federal Pedro Chaves, um dos líderes da ala friboizista, diz que se Iris acenar apoio público a Friboi o partido se uniria com mais tranquilidade. Já o ex-prefeito de Catalão, Adib Elias, apoiador de Iris, ressalta que o responsável pela a união tem que ser do pré-candidato ao governo, no caso o empresário Júnior do Friboi.

Existe uma tendência entre os peemedebistas, principalmente entre os aliados de Júnior, que se Iris Rezende for candidato ao Senado, a unidade do partido estaria garantida. Para Pedro Chaves, que frisa o esforço feito por Friboi para amenizar as diferenças, depende do Iris a união forte do partido.
Para ele, se o ex-prefeito de Goiânia mostrar seu apoio ao empresário publicamente, o clima que está melhorando pode ficar ainda melhor e todos podem trabalhar juntos na campanha. O deputado estadual e líder do PMDB na Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, também acredita que Iris pode ser o fator que falta para a definitiva união do PMDB.

Já Adib Elias coloca a responsabilidade da unidade em cima de Friboi. Para ele, o empresário tem que continuar o diálogo e juntar todos os partidários. Segundo o ex-prefeito de Catalão, a campanha eleitoral está cada vez mais próxima e a unidade deve ser uma realidade de fato e não ficar apenas em discursos.

Apesar disso, Adib reitera que existe muita conversa dentro do partido para que os ânimos se acalmem. Segundo ele é natural que as pessoas tenham pensamentos diferentes, principalmente dentro de um partido, mas que as diferenças não devem atrapalhar o objetivo maior que é levar o PMDB de volta ao maior cargo executivo do estado. “Alguns achavam que o Iris era melhor, outros preferem o Friboi, a divergência é normal”, frisou Adib.

Tranquilidade e diálogo são as palavras de ordem para outros partidários. Segundo o deputado estadual Daniel Vilela, as arestas estão sendo podadas aos poucos com muita conversa e paciência para que o objetivo maior seja alcançado em outubro.

Uma das maiores preocupações dos iristas, e também friboizistas, em relação à renuncia da pré-candidatura é a de uma possível aposentadoria política de Íris Rezende. Havia o temor que ele largasse a vida pública para cuidar de seus negócios agropecuários. Por enquanto, essas especulações estão descartadas já que o ex-governador continua recebendo aliados em seu escritório e não demonstrou desinteresse ao diálogo.

Essa abertura traz alguma esperança para Friboi: ele ainda pode convencer Iris a disputar a vaga goiana no Senado, ou pelo menos ter o seu apoio durante a campanha. Após a insistência do empresário, uma primeira conversa aconteceu na última quinta, 8, mas sem acordo aparente (leia acima).

Segundo o deputado federal friboizista Pedro Chaves, Iris vai se decidir apenas em junho. Ainda segundo Chaves, continua muito cedo para que ele decida se quer ou não disputar um cargo ao Senado: “Ele pediu para pensar durante esse mês, a decisão não pode ser feita de uma forma rápida.” Adib Elias, por outro lado, acredita que será extremamente difícil que Iris entre na chapa para disputar o cargo de senador, mas que ninguém pode descartar essa possibilidade. “Na política tudo é possível”, finaliza o ex-prefeito de Catalão.

 


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