22 de novembro de 2024
Política

Tribuna do Planalto: Base ainda não tem mote para Marconi

 

Lideranças patinam quando o assunto é o tema a ser explorado pela base aliada na campanha para o governo. Sugestões são diversas e genéricas

 

A base aliada governista ainda não sabe qual o melhor mote para uma possível quarta campanha do governador Marconi Perillo (PSDB) ao governo do Estado. Lideranças do grupo governista não têm dúvidas em relação ao tucano ser o melhor nome para representá-los em outubro, porém derrapam quando o assunto é o discurso certo para convencer, mais uma vez, o eleitor a reeleger o governador. Após quase 16 anos no comando do Estado, cientistas políticos ouvidos pela reportagem creem que o desafio de Marconi será reinventar o seu discurso junto ao eleitorado.

 

Isso porque a cada novo mandato em que um governante coleciona no poder, o número de desgastes junto ao eleitorado aumenta e o de argumentos para encarar uma nova eleição diminui. Talvez até por isso, Marconi tem focado na gestão e ignorado a sua sucessão, pelo menos publicamente. Suas ações, porém, mostram que o tucano está com a cabeça voltada para o pleito eleitoral. Como parte de uma pré-campanha, a sua equipe formatou uma agenda de viagens por todo o interior do Estado. Anunciou que em fevereiro e março deve fazer visitas a 90 municípios para completar o roteiro de viagens às 246 cidades goianas. O novo mote, contudo, parece ser o desafio.

A dificuldade de escolher um tema para ser prioridade na campanha de Marconi é vista no discurso que aliados fazem ao falar do processo sucessório de outubro. O presidente regional do PSDB, Paulo de Jesus, explica que ainda não foi articulado um plano para escolher a definição de mote ou área que terá prioridade durante a campanha. Destacou que para Goiás continuar com sua linha de desenvolvimento é necessário prioridade em três áreas: econômica, social e de prestação de serviço do Estado. Na prática, porém, esses setores representam um leque muito grande para serem apresentados como prioridades de uma campanha.

Na parte econômica, Paulo de Jesus defende que os incentivos fiscais devem continuar porque, na opinião dele, contribuem para industrializar o Estado e gerar oportunidade de trabalho. A infraestrutura também não deve ser deixada de lado. “Modais de transportes eficientes facilitam escoamento da produção do Estado e o crescimento independente de Goiás”, pontua. Na área social, ele inclui prioridade para educação, educação profissionalizante, saúde, segurança pública e meio ambiente. Por último, na prestação de serviço público, afirma que é preciso cada vez mais incentivar a qualificação profissional dos servidores públicos do Estado, que consequentemente resultará no melhor atendimento à população.

O presidente do PSD, deputado federal Vilmar Rocha, também não é muito especifico. “O mote do futuro, não só nosso, mas da política brasileira, é sintonizar a pauta da política com a pauta das ruas. Hoje, muitas vezes há uma distância entre os dois”, ressaltou o parlamentar em entrevista na última edição da Tribuna. Vilmar também citou diversos setores que podem ser eleitos como prioridade: educação, mobilidade urbana, saúde e segurança pública.
O deputado considerou essas questões como básicas e afirmou que se, não resolvidas, não adiantará “ninguém buscar planos mirabolantes”. Ele ainda deixou claro que a educação deve ser prioridade. “Não teremos segurança, saúde e transporte sem uma boa educação. Em pesquisas, perguntamos quais as prioridades do povo, que responde segurança ou saúde. Mas acredito que devemos investir mais em educação, porque a população vê seu problema mais imediato, mas, atrás disso, há a questão da educação”, defendeu.

Já o deputado federal Roberto Balestra (PP) é direto ao dizer que somente o governador Marconi Perillo pode dizer qual será o seu mote de campanha. “Está no bolso dele. Ele que é detentor de todas essas informações é quem terá a capacidade de definir qual área priorizar. Todo administrador tem sempre a oportunidade de realizar muitas coisas”, destaca.

Qual o mote para Marconi Perillo 2014?

“É necessário prioridade em três áreas: econômica, social e de prestação de serviço do Estado”

Paulo de Jesus, presidente regional do PSDB;

“O mote do futuro, não só nosso, mas da política brasileira, é sintonizar a pauta da política com a pauta das ruas”

Vilmar Rocha (PSD), deputado federal

“O mote está no bolso dele. Ele que é detentor de todas essas informações; é quem terá a capacidade de definir qual área priorizar”

Roberto Balestra (PP), deputado federal

“Marconi precisará de reciclagem nas ideias e construir uma nova roupagem para a sua campanha”

Wilson Ferreira, cientista político

“Encontrar novos diferenciais, apelos que possam seduzir o eleitorado, mais uma vez, é um desafio”

Luiz Felipe Gabriel, publicitário

Especialistas preveem dificuldades para governistas

Renovar-se e também buscar uma nova roupagem são alguns dos desafios que os especialistas acreditam que o governador Marconi Perillo terá pela frente na campanha eleitoral de outubro. Eles apostam que a base aliada terá dificuldades para achar um mote que consiga ‘fisgar’ o eleitor. Há, contudo, caminhos.

O cientista político, professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC- GO), Wilson Ferreira, ressalta que para uma nova candidatura Marconi precisará de reciclagem nas ideias e construir uma nova roupagem para a sua campanha. Para ele, a forma de fazer política, em que as figuras não se mostram – não se posicionam claramente sobre suas ideias – não terá vez em 2014. Principalmente após as manifestações que tomaram as ruas de todo Brasil em junho de 2013.

Para ele, Marconi precisa se reciclar. “Goiás precisa de um novo marco, de um político como surgiu o Marconi em 1998. Hoje, o que dificulta uma atuação de Marconi parecida a daquele tempo são as amarras políticas. Ao contrário daquela década, hoje o governador tem uma base aliada com 14 partidos e qualquer atuação mais extrema exige negociação. Não basta somente vontade política”, mostra.

Mas se reinventar e buscar um novo mote para Marconi Perillo pedir votos para um quarto mandato não será fácil. A avaliação é do marketólogo e diretor geral do Instituto Verus, Luiz Felipe Gabriel Gomes. Ele pontua que o grande desafio de uma campanha tucana é justamente encontrar um ‘slogan’ que gere expectativas em torno de uma nova gestão. “Não é uma tarefa das mais fáceis, até pela longevidade que Marconi está governo. Encontrar novos diferenciais, apelos que possam seduzir o eleitorado mais uma vez é um desafio”, sublinha.

Eleger uma área que dê destaque ao trabalho do tucano, como ocorreu em governos anteriores, não será fácil. Segundo Luiz Felipe, essa escolha é decisão de gestão, mas ele não vê onde Perillo possa mais atuar de forma que esse trabalho se reverta em resultados eleitorais imediatos. Cita desafios na saúde, segurança pública e até mesmo infraestrutura, mas que são problemas que precisam ser enfrentados com visão de longo prazo. “Não adianta uma ação de marketing para falar que algum desses problemas estruturais foi resolvido em um passe de mágica”, sublinha o diretor.

Motes passados
Marconi Perillo chegou ao governo do Estado após vencer o então senador Iris Rezende (PMDB) em 1998. Com o mote do “tempo novo” na política e no governo e com o discurso duro contra o tempo em que os adversários estavam no poder – na época o PMDB estava completando 16 anos de governo, assim como a base marconista este ano -, o tucano se apresentou como o novo. A idade o ajudou, já que tinha 35 anos à época.

Outro mote foi o de acabar com a “panelinha no poder”, expressão criada para criticar o revezamento de lideranças peemedebistas na candidatura dos principais cargos públicos. Se tornou, à época, o governador mais jovem do Brasil. Eleito, criou programas sociais que lhe deu popularidade em seu primeiro mandato, como o Renda Cidadã, Bolsa Universitária e o Cheque Moradia. Em 2002, foi reeleito com o projeto de continuação da gestão.

Em 2010, Marconi foi eleito para um terceiro mandato se apegando em marcas dos governos anteriores, como os programas sociais, o crescimento econômico do Estado e o bom relacionamento com o servidor público. Mas após assumir o Executivo enfrentou desgastes com a categoria, principalmente por questões salariais. Também teve sua imagem arranhada em virtude do envolvimento do seu nome no Caso Cachoeira.

A prioridade do terceiro mandato, porém, foram os investimentos em infraestrutura, principalmente as obras rodoviárias. Ou seja, passou a investir na área que é marca registrada de Iris Rezende (PMDB). Em 2014, porém, terá mais um grande desgaste para driblar – a federalização da Celg. Na semana passada, o governo estadual fechou o negócio com a Eletrobrás, mas as condições do acordo foram aquém daquilo que o Estado esperava.

Apesar dos 16 anos do grupo no comando do Estado, as lideranças da base aliada ainda consideram que o governador Marconi Perillo pode ser apresentado como o ‘novo’. Com 50 anos de idade, que serão completados em março, Marconi está longe de ser chamado de velho para aliados. O histórico na política, segundo o deputado federal Roberto Balestra, é “o que o faz competente e habilitado para mais uma vez trazer novas propostas para o Estado”. “Ele continua novo, mas agora com muito mais experiência que em 1998. Terá condições de oferecer soluções com muito mais rapidez e eficiência”, considera o parlamentar.

O presidente regional do PSDB, Paulo de Jesus, também defende que Marconi é um nome novo, sempre se reinventando, buscando oportunidades para a execução do seu governo. “Ele está ficando maduro, mas é novo pelas suas ideias e propostas que apresenta. Está muito antenado com as questões da sociedade, busca um debate qualificado, sem entrar em coisas miúdas”, ressalta o dirigente.

Conforme o presidente, a oposição não trará qualidade. Cita que o prefeito Paulo Garcia que, para ele, é novo na política, mas que tem uma gestão questionável. “O período em que PMDB e PT estiveram no comando de Goiânia as realizações se resumiram a construção de viadutos e asfaltamento da cidade”, alfineta. Ressalta que Marconi tem desgastes, mas que é pela “forma rasteira” que é feita a política.

O deputado Vilmar Rocha diz que há um desgaste natural devido o tempo de gestão da base aliada no governo, mas explica que o projeto do governador ainda não esgotou e está em desenvolvimento. Ele vê que a energia e força são “visíveis no desempenho mostrado pela atual administração”. “São obras, serviços, ações e projetos que estão em andamento. Ainda temos fôlego para tocar esse projeto. Estamos procurando nos reciclar, apresentar um projeto novo”, defende.

O marqueteiro Luiz Felipe Gabriel, porém, lembra que é perigoso ressaltar um candidato como ‘novo’. “Soa falso”, afirma. Explica que quem assume essa função já coloca sobre si um fardo muito grande. “O novo é terra prometida, é perfeição. Quem chegar falando que é novo já sai perdendo”, avalia.

O especialista explica que houve erro de interpretação sobre as manifestações realizadas no ano passado. Para ele, quem conseguir apresentar uma melhoria no serviço público, quem tornar mais material e factível as melhores proposta é que é novo que a sociedade pediu. “O novo é um serviço público melhor, é um aparelho do Estado que funcione em beneficio da sociedade”, mostra. 

 


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