Após os surpreendentes resultados das eleições britânicas de quinta-feira (8), a primeira-ministra conservadora, Theresa May, deve tentar salvar seu cargo ao formar uma aliança com um pequeno partido norte-irlandês.
Ela irá ao palácio de Buckingham às 12h30 locais (às 8h30 em Brasília) para reunir-se com a rainha e convencê-la de que terá apoio o suficiente para governar.
O Partido Conservador recebeu 318 assentos, mas é necessário ter ao menos 326, que no Parlamento correspondem à metade dos 650 disponíveis mais um. Em segundo lugar, o Partido Trabalhista, terá 261 cadeiras.
A imprensa local afirma que May travou um acordo com o DUP (Partido Unionista Democrático), da Irlanda do Norte, que tem 10 assentos -somando assim 327.
Não estão claros os termos das negociações e que contrapartida os norte-irlandeses esperam. Assim como os conservadores, eles se opuseram ao “brexit”, a saída britânica do Reino Unido, então já há nessa área um interesse em comum.
IMPACTO
Os resultados da quinta-feira (8) foram especialmente impactantes para May, que havia antecipado as eleições em abril passado para ampliar sua maioria parlamentar, então de 330 assentos.
Com o fiasco -ela perdeu cadeiras, em vez de ganhar- crescem os pedidos para que renuncie ao cargo, o que por ora ela se recusa a fazer.
O direito da primeira tentativa de formar um governo cabe aos conservadores, que venceram as eleições, mesmo sem chegar à maioria.
Se falharem, a prerrogativa passa aos trabalhistas, que anunciaram sua disponibilidade durante a manhã.
“Nós vamos nos apresentar para servir o país e formar um governo de minoria”, disse John McDonnell, um porta-voz trabalhista. “A razão para isso é que eu não creio que os conservadores sejam estáveis, e que a primeira-ministra seja estável.”
A instabilidade política fez com que a libra esterlina chegasse a seu valor mais baixo em relação ao euro em cinco meses, 1,1322 euro.
OPÇÕES
O cenário em que um partido não tem a maioria para governar é conhecido no Reino Unido como “hung Parliament”, que significa um “Parlamento suspenso”.
A primeira-ministra pode, em tese, manter-se na chefia até a primeira reunião do Parlamento na semana que vem, quando precisará encontrar uma fórmula para governar sem a maioria.
Nesse cenário, se May quiser manter o cargo, ela terá poucas alternativas. Ela pode, por exemplo, formar coalizão com partidos menores.
Ela precisaria acenar aos pequenos partidos na Irlanda do Norte, mas provavelmente seria boicotada pelo restante do Parlamento.
Outra saída é um acordo de confiança, em que negocia apoio das siglas em troca de políticas -mas elas não recebem cargos no governo, diferentemente da coalizão.
May pode, por fim, tentar governar em minoria, negociando os votos no Parlamento caso a caso. Mas a posição seria bastante frágil.
Caso fique claro que ela é incapaz de fechar qualquer um desses acordos, o manual parlamentar sugere que ela renuncie e assim abra caminho para o segundo colocado, o Partido Trabalhista.
O que o Partido Trabalhista propõe, por enquanto, é formar seu próprio governo de minoria -mas por ora descarta ter uma coalizão.
Os parceiros naturais seriam os nacionalistas escoceses e os Liberais Democratas, mas há uma divergência séria. Esses dois partidos se opõem ao “brexit”, a saída britânica do Reino Unido, enquanto os trabalhistas aceitam esse processo.
A última vez em que o Reino Unido teve um “Parlamento suspenso” foi em 2010, no que levou à primeira coalizão desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Era a aliança dos conservadores e os Liberais Democratas, que pouco provavelmente vão voltar a se unir.
JOVENS
Os pedidos para a renúncia de May se concentram na avaliação de que, em primeiro lugar, não deveria ter convocado as eleições -quis ampliar a margem parlamentar quando não precisava.
Sua campanha foi também bastante criticada por, entre outras coisas, ter se mantido distante dos eleitores. Enquanto Jeremy Corbyn mobilizava multidões em seus comícios, May se recusava a participar de debates públicos e na televisão.
Corbyn foi favorecido pelo que parece ser uma alta participação dos jovens, sua base eleitoral. A porcentagem de britânicos entre 18 e 34 anos que votaram subiu 12 pontos em relação a 2015, segundo pesquisas de boca de urna disponíveis -e 60% deles votaram nos trabalhistas.
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