19 de dezembro de 2024
Mundo • atualizado em 13/02/2020 às 00:46

Teste de vacina contra zika tem sucesso em camundongos e macacos

Dois testes em pequena escala de uma nova forma de vacina contra o vírus da zika, realizados com camundongos e macacos, tiveram resultados muito animadores, protegendo quase todos os animais da invasão do vírus. Se o organismo humano reagir à abordagem de forma parecida, a produção de uma vacina eficaz poderá se mostrar uma meta relativamente simples de cumprir.

Os responsáveis pelo teste -uma equipe de cientistas dos EUA, do Canadá e da Alemanha liderada por Drew Weissman, da Universidade da Pensilvânia- acabam de publicar seus achados na revista científica britânica “Nature”. Para “ensinar” o organismo das cobaias a se defender do zika, eles injetaram nos bichos dois trechos do material genético do vírus.

Diferentemente de animais, plantas e bactérias, o zika e vários outros vírus usam o RNA, e não o DNA, para armazenar suas informações genéticas. Do ponto de vista do design de uma vacina, isso pode ser uma vantagem. Ocorre que o RNA, por si só, não é capaz de invadir o genoma das células humanas e pode ser “digerido” com mais facilidade pelos sistemas de limpeza celular, o que minimiza o risco de efeitos colaterais da vacinação.

Para montar a molécula-chave da vacina, Weissman e companhia escolheram os pedaços de RNA que contêm a receita para a produção de duas proteínas que ficam na superfície das partículas de vírus zika, chamadas E (de “envelope”) e prM (de “pré-membrana”). Faz sentido, já que é essa parte superficial do vírus que entra em contato com as células humanas quando o zika começa a invadi-las e, portanto, valeria a pena treinar as células para reconhecer o invasor logo de cara.

Empacotamento

Grudados, os dois trechos de RNA foram colocados dentro de uma embalagem de moléculas de gordura, que facilitam a absorção do pacote pelas células, e injetados na corrente sanguínea de camundongos e de macacos. Uma vez dentro das células, as moléculas foram “lidas” por elas como se fossem mRNA ou RNA mensageiro, que serve para instruir a maquinaria celular a produzir proteínas -no caso, proteínas tipicamente virais.

Com a produção dessas proteínas estranhas ao organismo, o sistema de defesa das células entrou em alerta, como se um vírus de verdade estivesse por perto. Resultado: fabricação maciça de anticorpos, ou seja, armas especializadas contra o vírus zika.

O passo seguinte foi o que os imunologistas costumam chamar, usando uma nomenclatura que parece coisa de boxe ou MMA, de “desafio” -basicamente uma injeção maciça de vírus para testar se o organismo dos animais de laboratório tinha mesmo desenvolvido defesas robustas. No caso dos camundongos, nenhum dos dez roedores vacinados foi afetado pelo invasor viral.

No caso do desafio ao sistema imune dos macacos-resos, a situação foi um pouco mais complexa. De cinco primatas vacinados, quatro não tiveram níveis detectáveis de vírus em seu sangue, enquanto um quinto macaco teve uma rápida e pequena elevação de níveis virais três dias após o desafio, mas ainda assim quase imperceptível se comparada ao que aconteceu com os resos não vacinados.

“Usar um RNA modificado é uma estratégia interessante, e os resultados são promissores”, resume o virologista Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP). “Precisamos ver como ela se sai em ensaios clínicos [ou seja, com pacientes humanos].”

Um ponto crucial é a durabilidade da imunização -já há indicações de que ela parece estar acontecendo, já que os anticorpos continuaram presentes em níveis estáveis no sangue dos macacos 12 semanas depois que a vacina foi administrada. Ainda não há previsão para testes em humanos.

Folhapress

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