Em meio à contagem regressiva para o tarifaço dos Estados Unidos contra produtos brasileiras, sem muito alarde, o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, reuniu-se na quarta-feira (23) desta semana com representantes do setor brasileiro de mineração para manifestar o interesse de seu país no acesso a minerais críticos, em especial as terras raras (ETRs).
Trata-se do grupo de metais do momento por serem essenciais às tecnologias de ponta – como carros elétricos, turbinas eólicas, eletrônicos e equipamentos militares. Em meio à pressão tarifária, o assédio dos EUA já tinha recaído nos meses recentes sobre as reservas chinesas e ucranianas de ETRs. Os Estados Unidos buscam garantir o suprimento desses insumos estratégicos e o presidente do país, Donald Trump, não tem escondido a pressão neste sentido.
O Brasil possui a segunda maior reserva mundial de terras raras, e Goiás ocupa papel de destaque nesse cenário nacional, apontado como o segundo, atrás de Minas Gerais. As jazidas goianas já mapeadas estão localizadas nos municípios de Minaçu, Iporá e Nova Roma.
No momento, o estado já tem produção de ETRs pela Serra Verde, em Minaçu. No município de Nova Roma, a Aclara estava em fase de pesquisa e se preparava no ano passado para o processo de licenciamento ambiental; e na região de Iporá, a expectativa é pelo avanço das pesquisas pela Appia, como mostro o Diário de Goiás em 2024.
Goiás no centro da geopolítica mineral
O interesse americano ocorre dentro da crise diplomática com o Brasil, agravada pela decisão do governo dos EUA de impor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Nos bastidores, especialmente após a reunião dessa semana, interlocutores do setor veem os minerais críticos como possível moeda de troca em futuras negociações comerciais.
Diante disso, o estado goiano passa a integrar o radar da Casa Branca, ainda que não haja oficialização alguma a respeito desse interesse, a não ser o contato de Escobar. Ele pediu o encontro e se reuniu com o diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), ex-ministro Raul Jungmann, e com o Vice-Presidente, Fernando Azevedo, na sede do Instituto, em Brasília.

Conforme divulgou o Ibram, a pauta foi para tratar de possíveis acordos com o setor mineral brasileiro, “principalmente com relação aos minerais críticos e estratégicos”. O instituto informou que o diálogo cogitou entendimentos diretos entre os empresários brasileiros e dos EUA, mas a partir de setembro, tendo em vista férias de agosto no país.
A relação não foi feita abertamente, mas se os assuntos estiverem realmente atrelados – tarifaço e negociação de ETRs – a possibilidade de adiamento das novas tarifas da Casa Branca para depois de agosto toma corpo.
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Governo Lula trabalha política nacional de minerais críticos
Por lei, o subsolo brasileiro é monopólio da União, e empresas — inclusive estrangeiras — só podem explorá-lo mediante concessões do governo federal. Isso dá ao Brasil margem para conduzir as tratativas de forma estratégica e soberana.
Paralelamente ao avanço das conversas com os EUA, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva finaliza a criação de uma Política Nacional de Minerais Críticos, chamada internamente de Mineração para Energia Limpa (MEL).
A proposta, conforme detalhou O Globo nesta sexta, prevê estimular o mapeamento geológico, atrair pequenas e médias empresas para o setor e permitir a emissão de debêntures incentivadas para financiar projetos ligados à exploração de minerais como lítio, grafita, silício, cobre e terras-raras.
Dados do Ministério de Minas e Energia mostram que, apesar de deter 19% das reservas mundiais de terras-raras, o Brasil responde por apenas 0,02% da produção global, revelando um grande potencial para ser explorado.
Valor agregado e protagonismo
Especialistas alertam que, para alcançar um papel estratégico nas cadeias globais, o Brasil precisa ir além da simples exportação do minério bruto. Jorge Boeira, engenheiro de minas da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), afirma ao Globo, que é fundamental investir em industrialização, parcerias tecnológicas e beneficiamento local.
Segundo ele, os minerais críticos podem ser usados como instrumentos de barganha internacional, desde que estejam integrados a um projeto nacional voltado à geração de valor, inovação e fortalecimento da indústria brasileira.
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