01 de setembro de 2024
Brasil

Temer diz que Janot publicou um “livrinho” e o chama de “mentiroso contumaz”

Aos poucos o ex-presidente da República Michel Temer que antecedeu Jair Bolsonaro vai se soltando e começando a conceder novas entrevistas. A primeira foi em setembro aos jornalistas do Roda Viva. Chegou a ‘reconhecer’ o ‘golpe’, inclusive. Nesta sexta-feira (18/10) teve uma entrevista publicada junto a BBC Brasil e explicou o contexto da utilização do termo dito no programa da TV Cultura. Fez elogios e críticas ao seu sucessor. Disse que Bolsonaro está se comunicando bem com o Congresso mas o tom adotado nos discursos – “de confronto” – “não é bom para o Brasil”. Também disparou contra o ex-procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Chamou de “livrinho” seu livro de memórias: “Nada menos que tudo” e disse que o ex-chefe do Ministério Público é um “mentiroso contumaz”.

Em seu livro de memórias, Rodrigo Janot descreve que enquanto era Procurador Geral da República, recebeu um pedido indecoroso por parte de Michel Temer que até então ainda era vice presidente da República. Temer pedia, em um encontro na residência oficial em que morava o vice-presidente, para que Janot arquivasse tudo o que o procurador Geral pudesse ter contra o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB). Rodrigo relata que não aceitou a proposta e saiu da casa de Temer aos palavrões.

Temer relata que toda a conversa foi mentirosa. Primeiro: não foi ele quem convidou Janot para sua residência. “Ele me procurou para pedir que eu avisasse o presidente da Câmara [Eduardo Cunha] que ele seria objeto de uma atuação do Procurador Geral de um pedido de inquérito”.

O ex-presidente relata que o que ocorreu foi o que chamou de “ponderação”. “Doutor Janot, o senhor é procurador geral da República. Ele é presidente da Câmara. Isso vai criar um problema institucional extraordinário, não há outro caminho? Uma investigação, aquele tal processo preliminar de investigação?”, disse Temer à Janot, em relato de memória. Janot decidiu “turbinar a matéria” que criaria um clima institucional “tumultuoso”.

Houve também um destaque exagerado ao final da conversa. Temer disse que nunca houveram os palavrões que Janot disse ter proferido ao final da conversa. “Veja como emocionalmente ele não tem muito equilíbrio. Ele disse que me disse palavrões. Disse que me disse palavrões e saiu de lá. Jamais houve esse tipo de palavrões.”

O ex-presidente ainda ressalta que seu descompasso com bebidas o torna uma ‘figura emocionalmente instável’. Também afirmou que ele mente constantemente. “Ele é um mentiroso contumaz. A mentira contumaz a que me refiro diz respeito exata e precisamente às duas que ele ofereceu contra mim e que hoje reveladas por uma figura emocionalmente instável. Quem leu aquele livrinho dele que saiu pela internet. Quem leu o livrinho dele percebeu que ele se dava ao vício, digamos assim, da bebida. Ele confessa que tinha uma chamada ‘farmacinha’ que era um bar que ele tinha e quando enfrentava uma dificuldade ele ia lá e tomava algumas ‘pitadas’ né?”, salientou.

Foi golpe?

Aos jornalistas do Roda Viva em setembro, Temer concedeu a primeira entrevista após sua saída da presidência da República em janeiro. Na ocasião, chegou a se referir ao processo de impedimento da então presidente Dilma Rousseff como “golpe” por quatro vezes. Questionado se nas entrelinhas não estava deixando alguma mensagem, Temer pediu para que analisassem o contexto. Ele diz que as perguntas ali estavam sendo formadas para que ele “assumisse” que houve algum tipo de articulação para o golpe. “E muitos momentos, um ou dois entrevistadores, falaram em golpe. E eu disse: “olha, quando começou o processo, como o vice-presidente é sempre o primeiro suspeito eu vim para São Paulo e fiquei três, quatro semanas. Só voltei três dias antes da votação na Câmara e eu disse que não participei de absolutamente nada, evidentemente não participei do golpe. Eu realmente disse isso”, mencionou.

Questionado novamente se houve ou não algum tipo de golpe, Temer negou: “Não houve golpe, o que houve foi a aplicação do texto constitucional”.

Tivesse tornado ministro, Lula teria apaziguado as forças que buscavam o impeachment? Temer prefere analisar o assunto com uma determinada precaução. Para ele, o clamor popular já era forte demais no contexto em que Dilma vislumbrou anunciar Lula como ministro chefe da Casa Civil. Para Temer, não dá para se negar a popularidade e poder de articulação do ex-presidente. “Não posso negar que o presidente Lula tinha muito prestígio no Congresso, naquela época. Facilitaria o governo? Não tenho dúvida. Por esse prestígio, pelos contatos que tinha com o Congresso Nacional”, pontuou.

Lula Livre?

Caso Lula seja solto, também há uma possibilidade de retornar a presidência no futuro? Temer também adota uma postura defensiva para tratar do assunto. Ele acredita que é díficil “prever o que irá acontecer”. “Difícil dizer. Você veja no caso do presidente Bolsonaro quando ele se lançou, alguém diria que ele seria presidente da República? As coisas são assim, o eleitorado num dado momento quer modificar o sistema existente ou os critérios existentes e opta pela bandeira que ele entende e que seja melhor para o país. É difícil prever o que irá acontecer”, analisou.

Forma como o presidente se comunica

Michel Temer também não deixa de falar sobre o atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Ele elogia a forma como Bolsonaro tem se relacionado com o Congresso. “Ele e os ministros, eles vão muito ao Congresso. Eu confesso a você que eles vão mais ao Congresso que eu”, pontuou dizendo que em todo o período que ficou à frente do país fez apenas três visitas ao Congresso. Pontuou no entanto, que o estilo “de confronto” adotado nos discursos de Bolsonaro atrapalham “a imagem do país”. “Cada um tem seu estilo. O estilo do presidente é um estilo de confronto diferentemente do meu, que ignorava essas questões ou simplesmente agregava as pessoas. É claro que isso não é bom para a imagem do país”, analisou.

Temer se referia à questão das queimadas e o desmatamento na Amazônia. Para ele, Bolsonaro acabou provocando uma crise desnecessária pelo tom elevado que adotou na comunicação. “Uma questão curiosa: todo o ano tem queimada na Amazônia, né? Quando chega o período de seca, tem queimadas. O que aconteceu penso eu, foi que o presidente resolveu confrontar aqueles que o criticavam ao invés de tomar as providências que aliás tomou, ou seja, mandar todo o sistema de combate à incêndios pra lá, inclusive o Exército”, explicou.

Encerrou dizendo que a crise poderia ser evitada caso a postura e o diálogo fossem diferentes. “Eu acho que é a forma de se manifestar e falar que criou um problema internacional”, pontuou.


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