23 de dezembro de 2024
Política

“Tem gente que ainda não percebeu no Brasil que as coisas mudaram”, diz Marconi em palestra a estudantes de direito em São Paulo

Em palestra a estudantes de Direito, dentro das comemorações dos 70 anos da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, o governador Marconi Perillo defendeu a redução do número de senadores, deputados federais, estaduais e vereadores. “Há mudanças que são importantes e precisam ser feitas”. Ele defendeu, ainda que ao invés de três senadores por Estado, o Brasil reduza para dois, na Câmara Federal uma redução para dois terços da atual representação, com efeito dominó nas assembleias legislativas e câmaras municipais. “Tem gente que ainda não percebeu no Brasil que as coisas mudaram”, disse Marconi, sobre as novas exigências da sociedade brasileira e a necessidade de cortar despesas.

Marconi argumentou que nações mais desenvolvidas que o Brasil contam com estruturas menores de representação política. Argumentou defendeu que algumas instituições brasileiras passem por um enxugamento, citando a Justiça do Trabalho, que hoje custa R$ 26 bilhões por ano ao contribuinte brasileiro, valor bem inferior à somatória anual de seu contencioso, que é de R$ 11 bilhões.

O governador argumentou também que o Brasil precisa aproveitar a “gordura política” de um presidente recém eleito – por exemplo, em 2018 – para promover “reformas profundas”, como faz o presidente Francês Emmanuel Macron.

Na palestra, Marconi ressaltou a importância da transparência na gestão pública. Citou que Goiás está entre os três estados brasileiros melhores avaliados no cumprimento da Lei de Acesso à Informação (LAI). “Toda vez que se comprar um lápis, um tomógrafo, construir uma estrada, as informações devem estar publicadas, capa a capa, em todos os portais de transparência”, segundo a segundo, para que isso atenda não somente as demandas do Ministério Público e da imprensa, mas principalmente o cidadão comum. “A LAI é algo que veio pra ficar, porque permite que todo mundo acompanhe o que está acontecendo no governo”, afirmou.

O governador abordou um assunto que ele considera um dos grandes problemas atuais da humanidade: o populismo, em todas as suas formas. “O populismo, seja de direita ou de esquerda, não é sensato, é cruel, é covarde”, sublinhou. Para ele, é preciso combater toda e qualquer forma de burocracia, porque isso prejudica a prestação de serviços públicos de qualidade. Sobre as investigações da Lava Jato, Marconi ressaltou que a investigação mudou a forma do brasileiro pensar, “hoje ele está muito mais atento”.

O governador posicionou a favor da regulamentação do financiamento público das campanhas eleitorais, com uma “dura fiscalização” por parte da Justiça Eleitoral: “Eu disse certa vez que, se não houver uma profunda reforma política no Brasil, continuarão a ser eleitos representantes de igrejas, candidato ricos, dirigentes de sindicatos e federações e integrantes de facções criminosas”.

Para Marconi, a reforma política é “a mães de todas as reformas”, capaz de garantir pleitos mais homogêneos e mais honestos. De acordo com ele, é importante a aprovação de cláusulas de barreira para evitar o surgimento de partidos que só se interessam pelo fundo partidário e pelo tempo de televisão. “Com a cláusula de barreira a gente teria moralização em relação ao surgimento de partidos”, afirmou, ressaltando que hoje existem 60 novos partidos na fila de aprovação do TSE. E posicionou-se a favor do fim das coligações proporcionais, com a instituição do voto distrital.

Ao responder aos questionamentos dos estudantes, Marconi defendeu o fortalecimento das instituições, o ativismo em forma de organização da sociedade e o fim de toda e qualquer tipo de malversação do dinheiro público.

O professor Márcio Pestana, que participou do debate com Marconi, elogiou a clarividência do governador em relação a temas da atualidade, no momento em que a sociedade exige um novo comportamento da classe política em relação ao trato da coisa pública e ao tamanho do Estado.

Marconi complementou que, no futuro, o ideal será a instituição de selo de qualidade, que deve valer para a iniciativa privada e para o poder público. Situou que é preciso uma máquina mais enxuta, com o estado terceirizando algumas áreas, mas não abrindo mão da fiscalização. “Nós temos uma saúde em Goiás que compete em condições de qualidade com mais do que a iniciativa privada”, sustentou. “A burrice do atual regime no Brasil é que você premia o bom e o mal”, disse, referindo-se ao desempenho dos servidores públicos.

Por fim, Marconi citou a experiência do Conecta-SUS, implantado em Goiás, e que chamou a atenção de dois ministros de Estado e mais de vinte governadores.

A palestra lotou o Auditório 1 da FAAP. Marconi respondeu a cada uma das perguntas formuladas pelos alunos. Ao final, exortou a juventude a assumir cada vez mais papel de vanguarda no Brasil do futuro. Citou uma frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que não será suficiente botar corruptos na cadeia, para purgar os erros de condição de economia e da política, sem alguma forma de instituição política ou sem políticos que a manejem.


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