A imposição de uma tarifa adicional de 50% pelos Estados Unidos sobre diversos produtos brasileiros, incluindo carne bovina e açúcar, terá efeitos drásticos na economia de Goiás. Segundo nota técnica elaborada pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG), em parceria com o Instituto Mauro Borges (IMB) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o impacto total estimado é de R$ 1,4 bilhão, valor que corresponde a cerca de 0,36% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual.
O estudo detalha que os efeitos diretos do tarifaço recaem principalmente sobre o setor de carnes, com perdas estimadas em R$ 340,1 milhões, e sobre o setor sucroalcooleiro, com impacto de R$ 149,1 milhões. Juntos, carne bovina e açúcar representaram mais de 70% da pauta de exportações goianas para os EUA em 2024, mercado que, por sua vez, foi o terceiro destino das exportações do estado, totalizando US$ 408,5 milhões no ano passado.
Com a nova tarifa, o custo de comercializar esses produtos nos Estados Unidos se torna economicamente inviável. A FIEG destaca que frigoríficos locais já começaram a suspender embarques, enquanto os embarques de carne bovina goiana para os EUA caíram cerca de 67% desde abril de 2025, antecipando os efeitos da medida.
Efeitos indiretos espalham prejuízos por toda a cadeia
Além das perdas diretas, o tarifaço afeta uma vasta cadeia de fornecimento. O impacto indireto estimado chega a R$ 802,7 milhões, afetando setores como pecuária de apoio (R$ 116,8 milhões), agricultura e pós-colheita (R$ 103,6 milhões), comércio (R$ 76,1 milhões), transporte terrestre (R$ 54,1 milhões) e até refino de petróleo e indústria química (R$ 48,9 milhões).
A retração nas exportações pressiona o mercado interno. Com o redirecionamento da produção para o consumo nacional, há excesso de oferta e queda de preços, o que ameaça o equilíbrio financeiro de agroindústrias, cooperativas e pequenas propriedades. Isso, por sua vez, pode desencadear desemprego e perda de renda em municípios com forte vocação agroindustrial.
Indústria é a mais afetada
No total, a indústria goiana absorverá R$ 860,9 milhões das perdas, seguida da agropecuária (R$ 250,1 milhões) e do setor de serviços (R$ 245,6 milhões). O peso sobre o setor industrial reflete o perfil das exportações goianas para os EUA, formado majoritariamente por produtos de alto valor agregado da indústria de transformação, como carne bovina desossada congelada, ferroníquel e açúcar refinado.
Embora o governo norte-americano tenha isentado 694 produtos brasileiros do aumento tarifário, incluindo os minérios exportados por Goiás, a exclusão de carnes e açúcar da lista de isenção torna essa flexibilização inócua para o Estado. Estes dois segmentos respondem por mais de 90% do impacto econômico calculado.
Reações e medidas
Diante do cenário adverso, o Governo de Goiás já anunciou duas linhas de crédito emergencial com juros reduzidos para empresas exportadoras. Além disso, articula com o Ministério das Relações Exteriores a diversificação dos mercados-alvo, com foco em países asiáticos e do Oriente Médio, como China, Japão e Vietnã.
No plano nacional, o Itamaraty e o Ministério da Agricultura intensificaram o diálogo com Washington e com a Organização Mundial do Comércio (OMC), na tentativa de reverter ou flexibilizar as tarifas. Ao mesmo tempo, o governo federal busca acelerar a ratificação do Acordo Mercosul-União Europeia e ampliar parcerias com países asiáticos.
Recomendações da FIEG
A FIEG propõe uma série de medidas para mitigar os efeitos do tarifaço:
- Negociações diplomáticas intensificadas – Mobilização de governo estadual, federal, CNI e FIEG para pressionar por revisão tarifária.
- Diversificação de mercados – Redirecionar exportações para Ásia e Oriente Médio.
- Apoio financeiro emergencial – Linhas de crédito subsidiadas e desoneração tributária temporária.
- Mitigação de impactos sociais – Qualificação profissional e programas de compra pública.
- Monitoramento contínuo – Análise técnica e jurídica permanente das relações comerciais com os EUA.
- Estímulo à inovação e agregação de valor – Investimento em industrialização e biotecnologia para reduzir vulnerabilidades futuras.
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