Enquanto o decreto que barra cidadãos de seis países de maioria muçulmana segue suspenso pela Justiça dos EUA, o governo de Donald Trump estabeleceu uma forma mais sutil de frear a entrada do grupo no país: reduzir a concessão de vistos.
Segundo dados do Departamento de Estado, em abril, o número de vistos de visitantes para pessoas nascidas em todos os países da lista -Síria, Libia, Somália, Sudão, Irã e Iêmen- caiu 21% em relação a março deste ano e 55% à média mensal de 2016.
O total de vistos de visitantes para todos os países também diminuiu, em abril, em relação a 2016 -mas 15%. Para brasileiros, caiu 4% em relação à média de 2016.
A maior queda se deu entre os iemenitas, 72%: de uma média de 434 vistos de não imigrante emitidos por mês em 2016 para 122 em abril.
Para os sírios, o governo americano havia concedido 758 vistos ao mês em 2016. No último mês, foram 265.
O decreto de Trump, que usa como justificativa a segurança nacional para barrar temporariamente cidadãos dos seis países, foi suspenso em decisões de três tribunais federais americanos. Na última quinta (25), teve nova derrota numa corte de apelação.
Ainda há uma decisão pendente na mesma corte de apelação que manteve suspenso o seu primeiro decreto sobre o tema. O governo não confirmou se pretende levar o caso à Suprema Corte.
Um levantamento feito pelo site especializado Politico mostra ainda que houve queda de quase 20% quando analisados quase 50 países de maioria muçulmanos.
Para Stephen Pattison, um advogado de imigração que trabalhou por quase 30 anos como agente consular em postos americanos, é possível que tenha havido uma redução na procura por visto por parte dos cidadãos desses países diante das ameaças de Trump de veto.
Ele, contudo, acredita que houve também uma mudança na hora da entrevista e da emissão. “Algumas pessoas podem ter cancelados suas viagens”, disse Pattison ao Politico. “Mas é ingênuo pensar que o que está acontecendo em Washington não pesa nas decisões consulares.”
CÍCLICA
O porta-voz do Escritório de Assuntos Consulares do Departamento de Estado, William Cocks, relativizou os números, dizendo que a demanda por vistos é “cíclica”: “Os vistos tendem a crescer nas altas temporadas de viagem, como o verão e os feriados de fim de ano”.
Em março, a imprensa americana revelou telegramas em que o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, ordenava um aumento no rigor de entrevistas para concessão de vistos a determinados grupos de viajantes.
Nos documentos, ele orienta os postos a identificar “populações que justifiquem maior análise”, sobre as quais serão adotadas medidas mais rígidas, como um questionamento detalhado sobre o histórico do solicitante de visto.
Entre as informações a cobrar nesse caso estão o histórico de viagens, trabalho e endereços da pessoa nos últimos 15 anos, além de dados de telefone, e-mail e redes sociais nos últimos cinco anos.
As regras poupam os 38 países cujos cidadãos têm a entrada facilitada pelo programa de isenção de vistos, como a maioria das nações europeias, Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul.
(FOLHA PRESS)
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