Sob intensa pressão do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) indicou a aliados que deverá deixar a presidência do partido, da qual está afastado desde que foi envolvido na delação da JBS em maio, na semana que vem.
Ele também avalia licenciar-se do mandato.
O mineiro só não fez isso na quarta (18) porque o presidente interino da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), afirmou publicamente que defendia a renúncia do colega. Tasso, por sua vez, disse ao partido que deixa a função se Aécio não sair.
Na terça (17), Aécio foi reconduzido ao mandato após o Senado derrubar a decisão do Supremo Tribunal Federal de mantê-lo afastado e sob recolhimento noturno enquanto é investigado por ter pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista.
O STF o havia afastado em 26 de setembro, mas para evitar risco de uma crise maior tomou na semana passada a decisão de que a prerrogativa para avaliar sua decisão era do Congresso.
A cúpula tucana considerava a votação, na qual Aécio teve 44 votos a favor (eram precisos 41), a senha para a saída do mineiro.
Um aliado próximo do tucano afirmou que ele está “estarrecido” com o que chamou de “truculência” de Tasso, que já havia promovido a troca de boa parte de sua equipe na direção do partido.
Contrariado, Aécio considerou inclusive esperar a convenção nacional do PSDB em 9 de dezembro para sair, mas o partido em peso passou a quarta e a quinta (19) em negociação para que ele deixe o cargo e também se licencie do mandato para dedicar-se à sua defesa.
A preocupação foi o tema de uma reunião, que já estava marcada desde a terça, entre Tasso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Geraldo Alckmin (SP) na quinta em São Paulo.
Alckmin, que viu sua pretensão de ser o candidato tucano à Presidência consolidar-se nas últimas semanas, com a série de problemas enfrentados pelo prefeito paulistano, João Doria, seu rival na disputa, está preocupado com o desgaste do partido no episódio Aécio.
Segundo a reportagem apurou, o partido trabalha com pesquisas internas que apontam uma avaliação pública tão ruim quanto a do PMDB ou do PT, partidos mais associados a escândalos de corrupção nos últimos anos.
Para um senador do partido, o dano à imagem da sigla é praticamente irreversível. Tanto ele quanto aliados de Aécio concordam que o mineiro teria reduzido a crise se tivesse saído da presidência e se licenciado do mandato quando o escândalo eclodiu.
Em relação a deixar o mandato no Senado, como gostaria a cúpula partidária, amigos de Aécio estão divididos.
Alguns consideram que a essa altura dos acontecimentos, poderia soar como uma admissão de culpa; outros veem um “gesto de grandeza”, eufemismo que políticos aplicam quando querem uma saída menos dolorosa para uma crise envolvendo os seus.
O episódio todo rachou de vez o PSDB. Tasso operava para ser conduzido à presidência da sigla em dezembro, contrariando a vontade de Alckmin e de outros governadores, que querem Marconi Perillo (GO) na função. O governador goiano só assumirá a tarefa, que significa conduzir a dura campanha de 2018, se tiver apoio unânime.
Ao pedir a cabeça de Aécio, Tasso alinhou-se de vez à ala mais jovem do partido, os chamados cabeças pretas, mas ganhou repreensão entre dirigentes mais antigos e experientes. Esse grupo, incluindo aí a nobiliarquia tucana paulista, se disse horrorizado com o que considerou falta de tato do interino na condução do caso.
O clima na reunião da bancada do Senado na quarta foi descrito por um dos presentes como de “carnificina”. Até baixas físicas aconteceram: o senador Paulo Bauer (SC), que havia passado mal na terça mas voltou para votar em favor de Aécio, acabou sendo submetido a um cateterismo -ele passa bem.
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