A situação do Brasil hoje frente à pandemia do novo coronavírus “é caótica”. Se nada for feito, o país poderá se tornar em breve uma fábrica de variantes que não dá sequer para mensurar. “Hoje o Brasil é o Congo daquela época [do ebola]. O Brasil representa de verdade uma ameaça a saúde global pela possibilidade do surgimento de novas variantes como essa campanha de vacinação muito lenta que nós estamos tendo”, destacou o pesquisador e chefe do maior estudo epidemiológico do Brasil, o Epicovid, Pedro Hallal, em entrevista ao Roda Vida nesta segunda-feira (15/03).
O pesquisador pontua que durante a semana passada 20% das mortes no mundo aconteceram no Brasil. “Um país que só tem 2,7% da população mundial”, destacou. “Eu não tenho como precisar quantas novas variantes podem surgir, mas eu posso te garantir que hoje o Brasil representa uma ameaça à saúde pública mundial”, disparou.
Ele pede para que as autoridades diplomáticas e de saúde mirem seus olhos ao Brasil. “Até por isso, a gente precisa que as autoridades de saúde – Organização Mundial de Saúde, outros países e até a indústria farmacêutica – voltem suas atenções para o Brasil, pois é eticamente inaceitável que não tenhamos uma grande quantidade de vacinas disponíveis nesse momento no Brasil.” Algo parecido com o que no passado, aconteceu com o Congo durante o surto de ebola no país quando diversas nações apoiaram o país africano.
““A nossa situação mais urgente é a disponibilização de vacinas e para isso a gente precisa de um mutirão incluindo as agências internacionais que olhem para o Brasil neste momento como lá atrás nós olhamos para o Congo na época do Ebola. Hoje o Brasil é o Congo daquela época [do ebola]. O Brasil representa de verdade uma ameaça a saúde global pela possibilidade do surgimento de novas variantes como essa campanha de vacinação muito lenta que nós estamos tendo”, destacou.
Plano Nacional de Imunização: priorização aos vulneráveis
Hallal pontua que o problema maior do Plano Nacional de Imunização é a distribuição das doses que anda lenta. Com relação a lista de prioridades, não há muito o que se alterar, mas que se fosse o caso de se fazer alterações, o pesquisador priorizaria as camadas mais vulneráveis da sociedade. “Agora, a sugestão de priorizar as populações mais vulneráveis, é uma sugestão que eu tinha dado lá atrás e eu acho que continua sendo válida. O Epicovid no Brasil inteiro mostrou que as pessoas mais pobres tem o dobro do risco de infecção. Então as pessoas mais vulneráveis sendo vacinadas primeiro a gente consegue controlar as hospitalizações e boa parte das mortes”, destaca.
Os critérios para chegar à população vulnerável poderia ser pré-determinada pelo Cadastro Único ou mesmo pelo Bolsa Família. “Então, se eu pudesse dar alguma recomendação para priorização certamente eu recomendaria sempre começar pelas populações mais vulneráveis e aí pode usar cadastro único, beneficiário do Bolsa Família ou qualquer outro indicador que identifique as pessoas mais vulneráveis”, concluiu.
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