05 de dezembro de 2025
ENTREVISTA

Sindiposto contesta cálculo do Procon Goiás por margens ‘abusivas’ no etanol e questiona autuações

Presidente do Sindiposto, Márcio Andrade, rebate metodologia do Procon e fala sobre lucros, custos e influência de facções no setor

O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Goiás (Sindiposto) reagiu esta semana contra a autuações do Procon Goiás realizadas na semana passada, apontando a existência de margens de lucro abusivas na venda do etanol, que variaram entre 30% e 43%.  O presidente do Sindiposto, Márcio Andrade, questionou a forma o órgão de fiscalização chegou ao cálculo dessa margem.

Em entrevista ao editor-geral do Diário de Goiás, jornalista Altair Tavares, nesta terça-feira (21), Andrade falou sobre essa metodologia do Procon, sobre investigações que relacionam facções a postos de combustíveis e até sobre a mistura de metanol no etanol que acabou envolvendo postos nos casos de contaminação por bebidas falsificadas.

Sobre o cálculo do Procon ele apontou: “Considera a margem bruta, e ela não quer dizer que o posto está ganhando muito. A margem bruta é a diferença entre o preço de compra e o preço de venda”.

Segundo ele, essa margem bruta não considera os custos do posto. “Então você tem uma margem bruta de 30%. Mas se a despesa do posto lá for 20% desses 30 o posto está ganhando 10%”, argumentou.

Abaixo, parte da entrevista que você assiste completa no vídeo!

Altair Tavares – Presidente, com essa redução do preço da gasolina a um percentual pequeno, é provável que ela chegue ao consumidor?

Márcio Andrade – As movimentações de preço da Petrobrás são importantes porque elas indicam a tendência para o mercado. Então nós estamos aí já na segunda redução desse ano no preço da gasolina. A expectativa é que a redução fosse maior porque a diferença entre o preço do Brasil e o preço praticado no exterior hoje estava em torno de 10%.

E o reajuste foi menos da metade disso. Então, a perspectiva, sim, é que há uma tendência de chegar ao consumidor, mas não na proporção que às vezes o consumidor entende que vai chegar. Porque foi anunciado pela Petrobras um reajuste, uma redução de 14 centavos.

Esses 14 centavos eram o preço da gasolina A, que é a gasolina pura vendida para as distribuidoras. Quando chega na distribuidora, ela tem que adicionar 30% de etanol. Quando ela adiciona esse 30%, já impacta, o impacto da gasolina é apenas de 70%.

Então 70% de 14 dá 0,098, quase 10 centavos por litro. Além disso, nós temos que ver o que a distribuidora vai fazer para o custo. Pode ser que a distribuidora repasse os 10, pode ser que a distribuidora repasse 8.

Então nós temos que ver como vai ser o comportamento da distribuidora a partir de hoje. Os postos começam a adquirir hoje para poder repassar para o consumidor. Alguma redução, com certeza, chegará ao consumidor.

Altair Tavares –  Quando o senhor fala da relação entre preço praticado no Brasil e preço praticado em outros países, como é que isso aponta uma diferença de 10%? O senhor leva em consideração o preço do barril e outros dados? Quais são as referências?

Márcio Andrade – A referência é o preço do produto importado, colocado aqui no Brasil. Essa informação é dada pela ABICOM, que é a Associação Brasileira das Importadoras de Combustíveis, que na semana passada anunciou que estava uma diferença de 10% do preço da importação. Esse já é o preço do produto colocado aqui no Brasil.

Então, se importar a gasolina, ela chegaria a 10% abaixo do preço que a Petrobras praticava ontem. Já hoje essa diferença tende a ter diminuída. Esse preço também varia diariamente.

Mas quando eu coloco essa diferença, é comparado ao preço importado, colocado aqui no Brasil.

Altair  Tavares –  O que nós temos percebido nessa dinâmica, é que pode ser que chegue. Então temos que aguardar, pelo que o senhor diz.

Márcio Andrade – A gente acredita que vai chegar, mas a gente tem que aguardar um pouco, porque há a renovação dos estoques. Não só dos postos, mas também das distribuidoras. Muitas vezes me perguntam, por que o preço demora quando é redução para chegar para o consumidor, e quando é aumento chega rápido?

Porque em uma tacada acontece assim também. Então as distribuidoras, elas demoram para repassar a redução e elas aumentam no mesmo momento quando há o anúncio de um reajuste para aumento. Então esse comportamento na ponta, aqui no posto de gasolina, reflete o que acontece na cadeia toda.

Então não é uma vontade do dono do posto, é uma consequência da atitude do mercado que antecede o custo.

Altair Tavares – Comparando com os preços internacionais, como o senhor disse, o brasileiro está pagando mais caro. É uma situação inconveniente para o consumidor.

Márcio Andrade – Sim, mas também a gente tem que ser justo que em alguns momentos a Petrobras também não repassa os aumentos quando há um preço importado mais caro. Então o que é a atitude que a Petrobras tem tomado hoje? Diferente do que tomava no governo anterior? Hoje ela absorve um pouco esses impactos do mercado internacional sobre o preço interno. Então é um momento, ela está vendendo hoje mais caro do que o que o mercado internacional pratica, mas já teve momentos que ela esteve vendendo mais barato do que o mercado internacional praticava. Então ela vai fazendo o equilíbrio desse preço e só repassa para o consumidor quando existe uma tendência mais duradoura da redução, por exemplo.

Agora quando tiver uma tendência, se o preço subir hoje no mercado internacional, ela deve não repassar. Ela segura isso por mais tempo esperando a consolidação. Só vai repassar um aumento se isso perdurar por um tempo maior.

Então a Petrobras tem feito esse preço médio que no equilíbrio eu acredito que dá mais estabilidade para o consumidor e para o mercado e não lesa o consumidor porque ela faz esse equilíbrio. Vai ter momentos que ela vai também absorver esse preço mais caro.

Altair  Tavares – Esperamos então que o preço se chegue dessa forma ao consumidor, porque principalmente em Goiânia, o preço está bem alto e os consumidores têm reclamado muito. E aí eu questiono o preço de gasolina ou etanol praticado hoje em Goiânia. Segundo o Procon tem aí uma questão de uma margem lucro alta de 30 a 43 por cento. Como é que o Sindiposto avalia essa divulgação que foi feita pelo Procon?

Márcio Andrade – Eu vejo a forma como o Procon calcula essa questão dá uma margem para considerar abusiva. É uma forma que não é correta.

Porque ela considera a margem bruta. A margem bruta não quer dizer que o posto está ganhando muito. A margem bruta é a diferença entre o preço de compra e o preço de venda.

Ela não considera os custos do posto. Então você tem uma margem bruta de 30 por cento. Mas se a despesa do posto lá for 20 por cento desses 30 o posto está ganhando 10.

Então quando ela se coloca que a margem é abusiva eu sempre pergunto para o Procon qual é a margem que não é abusiva. Aí eles me respondem não tem uma margem específica porque o preço é livre. Mas, ao mesmo tempo, ele altura quando ela considera que tem uma margem abusiva que eu não sei calcular sobre o que.

Inclusive, na Justiça, muitas multas já foram derrubadas por causa disso. Porque a margem bruta, e isso já tem já vários julgados não só em Goiás, mas no Brasil, a margem bruta não quer dizer nada. Eu posso colocar aqui comprar por 10 e vender por 20.

Se eu tiver uma despesa de 9 reais, eu estou ganhando um real. Então tem que ser considerado os custos não só a margem bruta. Então a gente discorda dessa questão.

Diversos postos foram fiscalizados e apenas 10 foram atuados. Mas também sobre um aspecto que é errôneo e equivocado por parte do Procon. Infelizmente a gente tem tentado convencê-los de que a conta deve ser feita de forma correta.

E isso ainda até o momento por alguns fiscais não tem sido acatado. Mas a gente acredita que isso vai ser mudado esse entendimento, até porque a justiça tem julgado favoravelmente aos postos nesse sentido.

Altair Tavares – Isso também explica por que o posto em Goiânia tem um preço maior e o preço no interior ou na estrada é menor?

Márcio Andrade – É tem várias explicações. A primeira explicação é que o preço é livre. Então o mercado se adapta a cada um à sua realidade.

O posto está inserido em diversas situações diferentes. Claro que no município de Goiânia a gente tem com certeza alguns custos que no interior não tem. Mas lá no interior também existem algumas situações que são diferentes daqui de Goiânia e isso faz com que haja um preço diferente.

Hoje eu fui perguntado por um repórter por um posto no interior lá que eu acho que é o preço mais barato do Brasil. Aí está vendendo por um valor e eu mostrei o preço que eu pago aqui hoje na capital e mostrei quem tem que explicar por que está vendendo tão mais barato uma cidade lá no interior. É quem está vendendo porque ele tem que explicar como é que ele consegue trabalhar sem margem.

Estou falando até de margem bruta sem considerar despesas. Ele não tem uma margem. Ele trabalha sem margem.

Então eu não consigo explicar como é que um empresário trabalha sem ter uma margem para pagar suas despesas. Ele que teria que explicar.

Mas a gente tem algumas explicações, a gente vê no Brasil várias operações trabalhando contra alguns falsos empresários que são do crime organizado trabalhando no segmento. Então algumas coisas ficam mais fáceis de ser entendidas a partir de que você tem essa perspectiva.

Não estou dizendo que todos que estão lá fazem são do crime, mas muitas vezes alguns bons empresários são levados a trabalhar sem margem e muitas vezes eles quebram ou trocam e os postos são assumidos por bandidos. Até por isso porque esses postos ou eles têm duas opções ou eles acompanham o preço para poder manter sua clientela e quebram porque não tem margem ou eles põem um preço mais caro e não vendem e quebram da mesma forma. Então as duas opções para ele é o fim.

Então a gente tem que também colocar isso hoje como já está declarado por toda a mídia nacional por todas as ações da polícia no segmento. A gente tem que entender que existem anomalias no mercado. Então é importante que a gente tenha essa perspectiva também ao analisar e não criminalizar aquele empresário que trabalha tentando sobreviver com uma margem injusta.


Leia mais sobre: / / / / / Economia / Goiânia / Notícias do Estado