O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo da Região Metropolitana de Goiânia (SET), Adriano Oliveira, confia que a operação de veículos voltará à sua normalidade ao longo da semana. Ele diz que fará um apelo para os motoristas que hoje não ligaram os carros como forma de protesto devido ao décimo terceiro e a folha salarial de novembro atrasados. Em entrevista ao Diário de Goiás atacou o Sindicoletivo e disse que a entidade não representa a maioria dos trabalhadores, além de disseminar “mentiras” com relação à categoria. Oliveira também defendeu como solução futura a implantação de novas formas de políticas tarifárias para o segmento.
Oliveira explicou que os motoristas decidiram parar por conta própria, sem a interferência do SET na decisão. Mais cedo, o Sindicoletivo havia afirmado que os trabalhadores foram forçados a parar e que a paralisação “era das empresas”. Adriano negou contundentemente. “Isso é uma inverdade, infelizmente, o Sindicoletivo tem exatamente essa prática. A única ação do sindicato é no sentido de tentar demonstrar a categoria que tem um posicionamento firme de contestação às empresas e ao sistema de uma maneira geral, sempre com mentiras, coisas que não condizem com a realidade.”
NÃO DEIXE DE LER: Como ‘descascar o abacaxi’ do transporte coletivo? Caiado diz que irá se reunir com prefeitos eleitos
O presidente do SET explica que a paralisação se deu a partir dos motoristas e que todos os trabalhadores estão bastante ansiosos com o cenário futuro em meio a tantas crises. “Agora, estão dizendo que essa greve é nossa e não é. Esse é um sentimento da categoria, dos motoristas, dos funcionários das empresas que estão muito preocupados, e estão acompanhando desde o início da pandemia todas as nossas tratativas, a busca por uma solução para o transporte.”
LEIA TAMBÉM: Apenas Eixo Anhanguera tem operado no sábado em que o transporte coletivo amanheceu parado em Goiânia
Apesar da entidade se posicionar contrária à paralisação, Adriano explica que não houve formas de impedi-la, dada a gravidade da crise e da falta de pagamento das empresas com relação aos funcionários. Há empresas que sequer conseguiram fechar a folha de novembro e a maioria, não conseguiram quitar as parcelas referentes ao décimo terceiro.
“Nós somos contra a paralisação. Neste momento, somos contra a paralisação deles, que é pacífica e ordeira. Nós, hoje, estamos sem qualquer tipo de moral para cobrar deles qualquer posicionamento diferente. Porquê? Porque já vimos e estamos vivendo há algum tempo descumprindo prazos de pagamento, parcelando salários, com uma série de dificuldades. Diante disso, não tivemos como impedir essa paralisação”, explicou.
“Apelo” para que os motoristas retornem
Adriano espera que amanhã (20/12) consiga, junto com os motoristas, fazer o anúncio de retorno à normalidade do sistema para a semana natalina. “Nós iremos fazer um apelo ao trabalhador para que eles possam dar um voto de confiança para as empresas e ao poder público para podermos resolver ao longo da semana, o mais rápido possível, essa questão dos pagamentos que ainda não foram feitos. Acredito que possamos ter êxito nesse apelo, para que a gente volte e dê tranquilidade para a população.”
Oliveira voltou a defender a adesão das Prefeituras de Goiânia e Aparecida ao Plano de Emergência proposto pelo Governo do Estado. Existe também a possibilidade do governo federal pautar a urgência de um novo pacote que daria socorro às empresas de transporte coletivo, haja vista que a crise é nacional. “Frise-se, a crise é em todo o Brasil e esse pacote ajudaria muito, pois há crédito entre as empresas condicionados a esse socorro”, explica Oliveira.
Em todo o caso, paliativamente, a adesão das grandes prefeituras dos municípios da Região Metropolitana de Goiânia já colabora para que as empresas consigam respirar.
Oliveira defende novas formas de receitas: “Se nós tivéssemos fontes extra-tarifárias, a gente não estaria numa situação tão grave”
O presidente do SET pontua que não há lugar no mundo em que o transporte coletivo consiga sobreviver – com qualidade – apenas financiado com a tarifa de quem utiliza o serviço. Potências liberais europeias, por exemplo, tendem a subsidiar a operação. Na França, a tarifa do usuário paga apenas 40% de todo o sistema. O restante, é vindo de formas criativas que o governo encontra para custear o serviço.
“O transporte é muito importante para a cidade. Não existe cidade nenhuma no mundo, nem cidades muito desenvolvidas com sociedades muito mais ricas do que a nossa conseguem conviver sem transporte público. Ele é importantíssimo para as cidades e ele é viável sim, mas para ele ser viável, temos que ver ele como um transporte que precisa ser subvencionado”, explica Adriano.
Nessa linha, Adriano sustenta que para que o transporte tenha a aprovação da população e adesão maior de passageiros é necessário colocar em pauta este debate. “Infelizmente, o transporte não sobrevive com qualidade só com a tarifa, não existe sistema nenhum no mundo que somente com tarifa consegue ter um sistema de transporte de qualidade com aprovação da população e da sociedade de maneira geral, dos usuários e poder público.”
Segundo o presidente do SET, essa agente já foi colocada em pauta em Goiânia, mas a pandemia acabou minimizando os debates em torno da questão. Por outro lado, defende que se novas fontes tarifárias já tivessem sido implantadas, o cenário não estaria tão caótico como se apresenta. “O que precisamos urgentemente de fazer, é criar fontes alternativas para financiamento do transporte público. Essa é a agenda que já foi debatida. O presidente da CMTC [Benjamin Kennedy] trabalhou muito isso no ano passado. Infelizmente, com a pandemia isso não foi possível. Se nós tivéssemos fontes extra-tarifárias como tem no sistema de São Paulo, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte ou mesmo no sistema de Vitória e Cuiabá a gente não estaria numa situação tão grave como estamos aqui que é mantido exclusivamente com a passagem.”
Leia mais sobre: SET / Transporte Público / Cidades / Destaque / Goiânia