Foram presas nesta sexta-feira (3) outras cinco pessoas acusadas de envolvimento numa fraude milionária em bolsas de estudo na UFPR (Universidade Federal do Paraná), que desviou R$ 7,5 milhões em benefício de cabeleireiros, taxistas, pedreiros e outros supostos pesquisadores, sem qualquer vínculo com a universidade.
Dessa vez, a Polícia Federal, na segunda fase da Operação Research, diz ter identificado os beneficiários finais dos recursos: são as famílias de três servidoras e ex-funcionárias da universidade.
Além de Conceição Mendonça e Tânia Catapan, que já estão detidas e trabalhavam na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, foram presos a ex-funcionária da UFPR Maria Áurea Roland, sua filha Gisele Roland e seu genro Jorge Luiz Bina Ferreira. Duas filhas de Catapan, que também se beneficiavam do esquema, também foram detidas.
Mendonça, Catapan e Roland eram as “mentoras da fraude”, segundo o delegado Felipe Hayashi, e coordenavam os três “núcleos familiares” responsáveis pelo desvio do dinheiro.
O dinheiro, que deveria ser destinado a pesquisas de mestrado e doutorado, foi gasto com joias, roupas e honorários a advogados particulares, entre outras despesas.
“[Os três núcleos] operacionalizavam dolosamente as fraudes no âmbito interno da universidade, na crença de que jamais seriam descobertas, tendo em vista o tempo de trabalho que possuíam, a confiança de que gozavam de seus superiores e a notória ausência de controle e transparência do setor em que trabalhavam, por omissão histórica da instituição de ensino”, escreveu o juiz Marcos Josegrei da Silva.
Os 30 bolsistas beneficiados, que jamais desenvolveram qualquer pesquisa na UFPR, tinham uma relação de amizade com as famílias, por isso cediam suas contas e recebiam, eventualmente, uma pequena parte do valor -mas repassavam a grande maioria do dinheiro para as mentoras.
Alguns deles disseram à PF que faziam um favor: as mentoras do esquema argumentavam que precisavam receber seu salário em outra conta porque estavam devendo no banco, por exemplo, ou que iriam receber uma pensão alimentícia do ex-marido que morava no exterior, sem o conhecimento do atual marido.
“Todos os falsos bolsistas tinham consciência da ilicitude”, diz o delegado Hayashi. “Alguns ficavam com uma parcela mínima do recurso; em outros casos, havia uma ajuda mútua. Não eram laranjas inconscientes.”
Um dos beneficiários finais dos valores, Jorge Bina Ferreira, genro de Maria Áurea Roland, ainda era dono de uma empresa de reagentes químicos, Reagen Produtos de Laboratório, que fornece materiais para a pós-graduação da UFPR. Ela já era investigada em um inquérito anterior, por suspeita de pagamentos irregulares.
Os envolvidos serão investigados por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. As prisões desta sexta são temporárias, válidas por cinco dias.
Outro lado
A reportagem ainda não conseguiu contato com os advogados dos acusados. Em depoimento à PF, Conceição Mendonça admitiu o esquema, e disse que agia em conluio com Tânia Catapan, que era secretária da pós-graduação, sem o conhecimento de seus superiores hierárquicos.
Catapan, porém, nega irregularidades e disse, em um ofício enviado à própria UFPR, que a documentação que comprova as pesquisas dos bolsistas foi perdida num alagamento do prédio.
Em nota, a UFPR disse estar comprometida com a elucidação dos fatos e que é de seu interesse que as investigações avancem. A universidade informou que, assim que tomou conhecimento da suspeita de desvios de verba pública, em dezembro de 2016, determinou a abertura de sindicância para apurar responsabilidades. (Folhapress)
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