28 de dezembro de 2024
REAÇÕES • atualizado em 27/12/2024 às 09:34

Senado avalia PDL para anular decreto de Lula sobre uso da força policial

Proposta busca sustar diretrizes do governo Lula, enquanto especialistas defendem iniciativa como avanço na segurança pública.
Projeto de Decreto Legislativo foi apresentado no Senado - Foto: arquivo / Agência Senado
Projeto de Decreto Legislativo foi apresentado no Senado - Foto: arquivo / Agência Senado

Uma nova frente de oposição ao decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o uso da força policial pelos agentes de segurança foi aberta, agora no Senado. O senador Mecias de Jesus (RR), líder do Republicanos, protocolou um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que visa suspender os efeitos da medida elaborada pelo Ministério da Justiça, conforme informou O Globo na quinta-feira (26).

A proposta do parlamentar surge após duras críticas de governadores de oposição, como o goiano Ronaldo Caiado (UB). Eles apontam afronta à autonomia dos estados. Também parlamentares questionam reclamando ingerência de Poderes.

Sobre isso, leia: Decreto de Lula limita uso da força policial e Caiado acusa de “chantagem explícita”

Mecias, por exemplo, aponta que o decreto representa uma invasão de competências do Congresso e um risco à autonomia estadual. “A segurança pública, como questão de Estado, não pode ser tratada unilateralmente por meio de normas infralegais. A definição de diretrizes nessa área exige um debate público amplo e democrático, conduzido pelo Congresso”, afirmou o senador ao jornal.

O texto presidencial foi publicado na última terça-feira e estabelece que o uso da força e de armas de fogo por policiais seja aplicado apenas como último recurso, em situações de risco pessoal. A medida também prioriza capacitação profissional para implementar as diretrizes. Entretanto, o decreto carece ser regulamentado.

Impacto no financiamento estadual

Embora as orientações não tenham caráter compulsório, o governo federal as vinculou à destinação de verbas do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), que distribuirá R$ 1,1 bilhão aos estados em 2025. Essa condição gerou reação de governadores de estados que alegam que o decreto fragiliza o pacto federativo ao condicionar repasses à adoção das novas diretrizes.

Especialistas, no entanto, elogiaram a iniciativa do governo. Conforme O Globo, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública destacou que as premissas do decreto estão alinhadas a instrumentos internacionais dos quais o Brasil é signatário. Segundo o grupo, a regulamentação desses tratados é uma atribuição exclusiva da União, o que não configura violação da competência estadual.

Reforço à regulamentação de decreto sobre o uso da força policial

Também ouvida, Cristina Neme, pesquisadora do Instituto Sou da Paz, defende que o decreto é essencial para fortalecer os protocolos de uso progressivo da força no país. “Os abusos e excessos policiais são recorrentes e não pontuais. As corporações têm seus protocolos, mas os problemas persistem. O governo federal fez bem em pautar essa orientação nacionalmente”, afirmou.

Além dela, o advogado Alberto Toron, presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB de São Paulo, considera a medida positiva, embora limitada. “O decreto sinaliza uma política estatal civilizatória, preocupada com o preparo e reciclagem dos policiais. Apesar disso, a mudança depende de fiscalização e comprometimento”, avaliou.

Não há ineditismo, diz especialista

Já Rafael Alcadipani, professor da FGV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pondera que o texto deveria prever sanções mais incisivas para estados que não cumprirem as diretrizes. “Não há obrigatoriedade, o que pode comprometer sua efetividade. Embora a proposta regule a atividade policial, não traz nada inédito”, concluiu.


Leia mais sobre: / / Geral / Política