“E aí, firme ou frouxo?”, questiona Henrique Meirelles aos assessores de sua campanha. A resposta óbvia é que sim, estão todos firmes. O candidato à Presidência pelo MDB recebe de volta a mesma pergunta. E com o polegar apontado para cima, diz: “rocha”.
Desde a pré-campanha, Meirelles repete esses bordões, talvez tentando espantar a dúvida de que desistiria da candidatura que não decola. Seu nome não supera 3% nas pesquisas, mas a intenção de voto frouxa não o desanima.
“Vão lembrar o que fiz por eles no Banco Central e no Ministério da Fazenda.”
O Meirelles que os marqueteiros tentam fazer conhecido não se resume ao financista que passou pelo governo federal, ganhou prêmio de banqueiro central do ano e foi o primeiro brasileiro a chefiar o BankBoston mundial.
Para cair no gosto do eleitor, precisa da embalagem de homem interiorano de Goiás, que, após a infância em escola pública, ascendeu por esforço próprio. Ele nasceu em Anápolis, já com política no DNA.
O pai, Hegesipo Meirelles, advogado do Banco do Estado de Goiás, comandou o estado como interventor interino em 1946. Apesar da inspiração paterna, Meirelles empolga-se mesmo ao falar do talento artístico da mãe, Diva Campos, cujos quadros ele espalha pelas paredes de casa e dos escritórios.
No fim dos anos 60, foi para São Paulo estudar. Formou-se engenheiro civil na Poli-USP em 1972 e foi fazer mestrado em administração e economia na UFRJ, no Rio. Orgulhoso, conta que ao sair da faculdade conseguiu três empregos, mas escolheu ser estagiário no BankBoston.
Promovido, transformou o varejo do Boston brasileiro no mais bem sucedido da organização no mundo. Quando a empresa comprou o banco de varejo Fleet, foi indicado para tocar a operação global.
O ambiente do mercado financeiro o colonizou. Hoje, veste paletó para ir de um cômodo a outro da casa e reclama quando os marqueteiros sugerem que ele abandone os blazeres escuros da grife novaiorquina Brooks Brothers. “Em vez de trocar a roupa, vocês deveriam trocar o candidato.” Mas a resistência não dura tanto.
Ele entende que suavizar o figurino é um dos custos da candidatura. E avança.
Na largada da campanha, em julho, o que se via era um candidato cansado, chegando a se apoiar nos ombros de um repórter da revista Veja na convenção do MDB ao governo de São Paulo. Talvez tenha confundido o jornalista com algum assessor.
Um mês depois, adaptou-se. Aos 73 e inexperiente no corpo a corpo com o povo, Meirelles já é visto tomando a iniciativa de distribuir abraços e dar beijinhos em eleitores.
É uma campanha de 3%, mas feliz, define um assessor.
O ritmo de seu jingle não é o popular sertanejo do estado natal, mas sim o forró nordestino. Diverte-se ao ouvir o refrão que se refere a ele como “o cara” e manda “chamar o Meirelles”. A semelhança com a trilha sonora de Lula não é só coincidência. A voz do ex-presidente petista retirada de gravações antigas aparece em vídeos do emedebista exaltando a competência do ex-Banco Central.
Interlocutores da confiança de Meirelles dizem que, mesmo no caso da previsível derrota, os R$ 45 milhões que colocou do próprio bolso na campanha darão retorno. O investimento terá servido para mostrar seu papel no avanço do consumo vivido pela classe C nos anos Lula.
Meirelles tem repetido que a população desconhece sua importância na gestão do petista, e os programas de TV e rádio, avalia, servem para lhe fazer justiça.
“Temos pesquisas em que a população de menor renda diz: ‘É ele que estava lá atrás quando pude comprar televisão ou comi melhor ou pude viajar?'”, afirma.
O bordão da campanha “Chama o Meirelles” não foi escolhido à toa. Ele também atendeu o chamado de Joesley e Wesley Batista, donos do grupo empresarial J&F, que fizeram delação premiada com o Ministério Público em 2017.
Meirelles foi presidente do conselho da J&F e, meses antes de ser convidado para o Ministério da Fazenda de Temer, emprestou seu talento ao Original, banco dos irmãos Batista de porte inexpressivo do qual cogitou ser garoto-propaganda.
A passagem pelo impopular governo Temer e pelas empresas dos Bastita custaram caro politicamente. Por onde passa, Meirelles tem de responder à repetitiva pergunta de jornalistas sobre como sua credibilidade pode ter sido impactada nas relações com personagens de reputação manchada.
Com paciência, ele responde que nunca foi processado.
Ao ser questionado porque escolheu não expor a figura de Temer na propaganda, não dá bola. Prefere contar histórias como a da ocasião em que foi abordado por uma senhora após uma palestra nos EUA.
A mulher disse que o banco estava mudado. O avô dela, embora fosse o maior cliente da instituição, nunca havia sido recebido por um diretor, só falava com gerentes. Quem era ela, quis saber Meirelles. “Kathleen Kennedy, vice-governadora de Maryland, sobrinha do ex-presidente Kennedy”, disse o assessor. (Folhapress)
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