A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Semad) não possui equipamento para um laudo oficial sobre os níveis de contaminação e a provável presença de acrilamida – substância cancerígena -, no Córrego Sussuapara, em Bela Vida de Goiás. A secretaria ainda precisa contratar um laboratório com qualificação específica (acreditação) para ter uma contraprova. A Delegacia Estadual do Meio Ambiente (Dema) também instaurou um procedimento de investigação sobre o caso.
Enquanto isso, o medo de consumir a água tomou conta de muitos moradores na região. A expectativa é por um exame que descarte o risco, ou, se confirmar a contaminação, que haja orientação e alternativa para a população.
Moradores até de Piracanjuba, região abastecida pelo Rio Piracanjuba, alimentado pelo Sussuapara, estão com receio de beber ou cozinhar com a água dos poços e cisternas desde que a contaminação se tornou pública, há menos de dez dias.
Laudo apontou índices alarmantes da substância
Laudo do projeto AquaCerrado, vinculado à Universidade Federal de Jataí (UFJ), apontou a presença da acrilamida no córrego em níveis muito acima do permitido. A coordenadora do projeto, professora Mônica Rodrigues Ferreira, disse em entrevista à Tv Anhanguera que os índices encontrados são alarmantes.
Segundo ela, o que chamou a atenção é que nas saídas de um cano, o volume de acrilamida era muito maior, “em torno de 800 miligramas”. Isso, conforme a entrevista, foi verificado tanto em pontos acima da estação quanto em pontos abaixo. Os volumes verificados estavam muito acima do que segundo ela é o permitido, que é 0,05 microgramas por litro. “Estamos achando em torno de 20 miligramas por litro”, revelou a pesquisadora.
Vistoria após espuma branca ser denunciada
A Semad fez uma vistoria em setembro, após uma denúncia de espuma no Sussuapara. A Associação SOS Rio Piracanjuba e o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental (IDESA) protocolaram a denúncia no Ministério Público de Goiás (MP-GO).
Durante a vistoria, a fiscalização constatou que, no ponto de lançamento da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Saneago em Bela Vista, havia presença significativa de espuma, mas após a queda-d’água a espuma não aparecida mais.
Substância cancerígena não foi constatada, afirma secretaria
As análises laboratoriais, segundo o gerente de emergências ambientais da Semad, Sayro Reis, explicou em entrevista na Rádio Difusora, não apontaram acrilamida. Ele afirmou que o órgão realizou vistoria técnica na região do córrego e coletou amostras de água, mas que as análises não apontaram a substância que havia sido citada em publicações não oficiais.
A substância pura geralmente não é usada em tratamento de água, mas sim a poliacrilamida, um polímero derivado da acrilamida, é utilizado no tratamento de água e efluentes para auxiliar na coagulação e floculação para remover partículas suspensas e impurezas durante o tratamento.
Contaminação da água: multa foi por coliformes e fósforo em desacordo
No entanto, as mesmas análises indicaram que o efluente tratado estava em desconformidade com as normas ambientais, devido à presença de coliformes, matéria orgânica (DBO) e fósforo em níveis acima do permitido. A Saneago então foi multada em R$ 2,7 milhões.
Semad diz que continua fiscalizando
A Semad informou nesta segunda-feira (20), que seguirá fiscalizando e monitorando o córrego em novas ações enquanto aguarda pelo laudo oficial da contraprova.
Segundo a assessoria da empresa, é provável que demore a ter esse laudo em virtude de não haver todos os equipamentos no laboratório da Saneago. “Nosso laboratório não tem o equipamento necessário para testar acrilamida. Será preciso primeiro fazer a contratação de um laboratório acreditado”, informou.
Saneago informa que não usa acrilamida na ETE
Na época da autuação, a Saneago divulgou que a ETE de Bela Vista opera dentro dos padrões exigidos e que realiza monitoramento contínuo da qualidade do efluente e do corpo receptor. Segundo a concessionária, o córrego apresenta capacidade de absorção da carga tratada sem impacto significativo.
A Saneago declarou ainda que não utiliza acrilamida no tratamento de esgoto em Bela Vista de Goiás, feito por lagoas de estabilização, com processos naturais de microrganismos, algas e luz solar. Por fim, destacou que o parâmetro acrilamida não é normativo para análise de efluentes e que os resultados encontrados também apareceram em pontos antes da estação, indicando possíveis fontes de poluição difusa envolvendo o córrego.
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