07 de agosto de 2024
Política

Sem Alckmin, tucanos temem implosão no PSDB

Geraldo Alckimin
Geraldo Alckimin

THAIS BILENKY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É a lógica autofágica tucana. Eventual vitória de João Doria na disputa pelo governo de São Paulo seria a derrocada do PSDB.

Assim pensam fundadores do partido, em guerra política com o neotucano desde que se lançou à eleição para prefeito da capital paulista, em 2016, contra Andrea Matarazzo, o nome do grupo.

Sem expectativa de Geraldo Alckmin vencer a eleição presidencial, eventual sucesso de Doria na corrida pela administração do segundo maior Orçamento do país lhe conferirá inequívoca ascendência sobre o partido. E então não haverá PSDB para todos.

Essa turma evita antecipar decisões, mesmo porque ainda se desconhece o cômputo das urnas. No entanto, intramuros, as palavras são essas. Em caso de vitória de Doria, o PSDB, este PSDB com as feições atuais, acaba.

“O partido tem quatro ou cinco líderes destacados, que, há muitos anos, vêm se desentendendo e causando mal-estar, porque parece que se odeiam”, diagnosticou o cientista político e fundador da legenda Bolívar Lamounier.

“É difícil para o eleitor ter fé e esperança em um partido que parece estar caindo aos pedaços, se dilacerando. A isso se acrescente que a campanha deste ano foi uma tragédia. Alckmin não compreendeu o que o país está vivendo.”

No Datafolha de quinta (4), o tucano apareceu com 9% dos votos válidos, empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT) na terceira posição, entre 13 presidenciáveis.

É ligeiramente inferior ao que teve na urna Mario Covas, o primeiro candidato do PSDB a presidente, em 1989. Com 11,5% dos votos, terminou em quarto de uma disputa entre nove postulantes.

Desde então, o PSDB, se não ganhou, foi ao segundo turno. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso venceu no primeiro turno.

Em 2002, com José Serra, em 2006, com Alckmin, em 2010, com Serra e, em 2014, com Aécio Neves, os tucanos perderam para o PT, mas apenas na segunda etapa do pleito.

Neste 2018, diante das dificuldades de Alckmin, as atenções do PSDB estão voltadas especialmente às disputas estaduais em Minas Gerais, com Antonio Anastasia, e no Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite, além de São Paulo.

“Nada será igual ao que já foi. A vida, o nosso mundo será diferente”, disse o ex-governador paulista Alberto Goldman. Em inédita exclusão da polarização com o PT, o PSDB ficou disforme.

“A gana, o ódio, o desespero de atacar o PT por tudo que fez leva muita gente a encontrar em Jair Bolsonaro (PSL) a figura para se livrar da esquerda atrasada, tão atrasada quanto essa mesma direita”, afirmou Goldman.

Com ataques desferidos contra o capitão reformado ao longo da campanha, Alckmin ficará sem saída fácil em eventual segundo turno. Tucanos e aliados o abandonaram para apoiar o adversário.

Se ocorrer a vitória de Bolsonaro, líder isolado, o PT, com Fernando Haddad, sofrerá também uma derrota. Mas farejadores políticos profissionais apontam uma diferença primordial. Não perderá o discurso.

O partido havia morrido politicamente depois do impeachment de Dilma Rousseff e se combalido com a prisão do ex-presidente Lula. Depois, o PSDB também foi engolido pela Lava Jato, com sua principal promessa para 2018, Aécio, inviabilizada, e caciques como Alckmin e Serra citados.

Assim, com a narrativa do golpe e da perseguição, o PT renasceu, disse um observador que aposta em uma bancada robusta no Congresso.

Para Lamounier, o longo período fúnebre que espera o PSDB depois da eleição aguarda também o PT. É por isso que ele vota em Doria. “Se ganhar, será o pilar de uma possível reconstrução, mas terá de deixar de ser egocêntrico.”


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