A secretária estadual de Educação, Fátima Gavioli, explicou que o bônus que será concedido pelo governo aos professores em dezembro está atrelado à frequência dos estudantes da rede no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Em entrevista ao DG, a titular da Seduc-GO explicou que o bônus que será pago em dezembro, regulamentado por uma lei aprovada nesta terça-feira (23), na Assembleia Legislativa, é baseado em meritocracia. Para pagá-lo, a pasta avalia a frequência de estudantes no Sistema de Avaliação Educacional de Goiás (Saego) e no Sistema de Avaliação Educacional da Educação Básica (Saeb), além da busca ativa para evitar a evasão escolar. O bônus de novembro será pago normalmente.
No primeiro dia de prova, 32,1% dos alunos inscritos não compareceram para prestar o exame. O número foi o terceiro mais alto do país, abaixo apenas de Roraima e Amazonas. O bônus, segundo Gavioli, pode ficar prejudicado se a taxa de frequência no segundo dia do Enem, no próximo domingo (28), seguir tão baixa.
Gavioli lamentou também que o vídeo da reunião com os diretores tenha vazado e pediu que a comunidade escolar se empenhe para melhorar os índices de comparecimento no segundo dia do Enem. Ela alegou que se tratava de uma cobrança para que os gestores estimulassem os alunos a comparecerem no segundo dia de prova.
Confira a entrevista na íntegra
O que precisa ser esclarecido sobre essa polêmica entre o bônus e o critério do Enem?
O governador vai pagar o bônus para os servidores em novembro. Já está na folha de pagamento. Esse de novembro não é meritocracia. É mais para se investir em tecnologia, para comprarem equipamento tecnológico. Ele é pago a todos os servidores. O bônus de dezembro, que conseguimos aprovar na Assembleia, prevê alguns critérios e mérito. Quais são os critérios? A retomada das aulas, quantidade de escolas que voltaram a ter aulas presenciais, como essa escola está se comportando na busca ativa por alunos que evadiram, como vai ser a avaliação externa. Esse bônus foi criado para promover um engajamento na rede. Esse bônus conta como um 14º salário. Ontem, ele foi aprovado na Assembleia. Hoje já deve sair a portaria especificando a forma que vamos utilizar para fazer esse repasse. Eles estão. As escolas de ensino médio têm que ter uma mobilização muito forte para o Enem. Reuni todos os diretores, fiz uma reunião de trabalho e expliquei que o Enem é uma avaliação externa. A gente não pode negar que a mobilização para a prova não foi como esperávamos que fosse. Não atingimos 70% de frequência. Só que agora temos que nos mobilizar no Saeb e na frequência do domingo que vem. Eu preciso que o aluno que foi fazer a prova no domingo passado, volte no próximo domingo. Precisamos nos mobilizar. O Saeb está acontecendo e tendo uma mobilização muito boa.
Alguns professores entenderam que a situação do Enem estaria consolidada. Isso já está definido?
O que estou dizendo para eles é que precisamos nos engajar no Saeb e no segundo dia de prova do Enem para não comprometer aquilo que nós aprovamos. É só isso que estou pedindo. Não estou falando que vai ter diminuição do bônus. Eu agora preciso aguardar o segundo dia de prova do Enem e o final da aplicação da prova do Saeb. Antes disso, não posso falar nada. Agora, nós não atingimos os 70% no primeiro dia de prova do Enem. Temos que recuperar isso agora.
Me pareceu, embora sejamos responsáveis pelas escolas de ensino médio, que não entendiam que o Enem era uma avaliação externa e que precisavam se engajar.
O Enem continua como critério para concessão de bônus?
Sim. Por isso estou solicitando toda a nossa rede que, no domingo que vem, os alunos que fizeram a prova no primeiro dia, compareçam em massa. Preciso que a rede se mobilize nesse sentido. O Enem funciona assim: no primeiro dia, tenho 100 alunos; no segundo, se você não se mobilizar, tem 50. Eu preciso que a rede se mobilize para garantir que, no próximo domingo, o aluno que fez a prova no primeiro dia, volte para fazer a prova no segundo dia.
Hipoteticamente, se a média de comparecimento no Enem for 60%, qual o impacto disso no bônus?
Eu tenho que calcular esse 60%, mais o Saeb, mais a busca ativa para poder calcular a influência que tudo isso teve na avaliação do bônus. Claro que é positiva. Tem escola do Saeb que está com 100% de frequência no dia da prova. O bônus foi positivo. A falha maior foi no ensino médio. Deixamos de fazer uma campanha.
Se uma escola pegou 100% em dois índices e 60% no Enem, digamos que chegue a 80%. O impacto seria esse?
Ela recebe o bônus. Se ela tirou 90% de frequência no Saeb, fez busca ativa, fez a retomada das aulas e levou 60% dos alunos no dia da prova. Ela vai receber o bônus. Meu medo é que, no domingo que vem, essa média baixe de 50%, aí vão nos comprometer.
A portaria já foi publicada?
Não. A lei foi aprovada ontem à noite na Assembleia. Agora segue para sanção do governador e depois sai a portaria. Sabendo que ia demorar, eu fiz uma reunião de trabalho para explicar que o bônus iria trabalhar com proficiência e frequência.
A senhora entendeu que isso gerou uma certa dificuldade política?
Eu entendi que é muito difícil você estipular mérito no serviço público, achei que as pessoas não estão preparadas para lidar com o mérito no serviço público. É uma experiência que estamos fazendo. Caso dê certo, vamos continuar. Caso não dê, vamos recuar. É uma experiência que alguns países adotam, e a gente está querendo fazer isso aqui. Em relação à reunião de ontem, foi uma reunião de trabalho. Eu estava cobrando que houvesse um monitoramento da aplicação da prova do Enem. O que eu não entendi até agora é porque foi parar na imprensa. Eu dirijo uma grande empresa e tenho que cobrar resultados. Eu estava cobrando resultados, que é o que gerente tem que fazer, e nisso eu fui parar na imprensa. Isso eu não entendi. Me aborreceu um pouco, pois estou sendo condenado por estar cumprindo com meu dever. Isso que me deixa muito triste.
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