(*) Com Edição de Domingos Ketelbey e entrevista de Altair Tavares
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Uma das maiores preocupações em um período de transição de gestão pública, talvez seja a de como o candidato eleito receberá as contas do órgão que passará a conduzir. Não é diferente com a Prefeitura de Goiânia. Em momento que os prefeitáveis discutem propostas, a realidade, segundo a secretaria de Finanças do Município, Zilma Percussor é que aquele que for eleito, verá no Paço Municipal as contas saneadas e com uma tranquilidade fiscal jamais vista por outro prefeito em início de mandato.
Percussor explica que desde agosto de 2019, Goiânia entrou na classificação B na Capag do Tesouro Federal. Isso diz respeito à capacidade do município em pagar suas dívidas e conseguir créditos junto à bancos. Se antes a Prefeitura que ia atrás das instituições bancárias para conseguir empréstimos, com a nova nota, são os bancos que oferecem benefícios à Prefeitura.
“Essa questão de você ter um CAPAG positivo, de ter uma nota de crédito considerada pelo mercado como B ou seja, capaz de tomar ativos e capaz de pagar porque isso é importante, então é um legado extremamente importante para qualquer um que venha a fazer a gestão a partir do próximo ano”, pontua Zilma.
Uma prefeitura sem dívidas, com capacidade de crédito é o que almeja muitos prefeitos. Zilma destaca também os avanços tecnológicos que a Prefeitura conseguiu ao longo da gestão de Iris Rezende. Enquanto muitos candidatos operam críticas alegando retrocessos, e a necessidade que a prefeitura tem em avançar tecnologicamente, Zilma ressalta alguns avanços.
“Para se ter uma ideia, no município para tirar um alvará de construção de edifício você levava um ano e meio. Hoje, com 40 dias você consegue isso. Os sistemas da prefeitura, desde a educação, saúde, investiram muito para que o cidadão pudesse acessar a Prefeitura através dos meios eletrônicos. Estamos investindo na mudança do software das Finanças para alterar o sistema tributário, sendo mais inteligentes e mais céleres”, ressaltou.
A entrevista concedida ao jornalista Altair Tavares está disponível na íntegra no canal do Youtube do Diário de Goiás e poderá ser assistida ao final desta matéria.
ENTREVISTA – ZILMA PERCUSSOR, SEC DE FINANÇAS DA PREFEITURA DE GOIÂNIA.
Altair Tavares: Qual a situação financeira que o próximo prefeito receberá da gestão atual?
Zilma Percussor: A condição do município finalizar os resultados para o último quadrimestre é extremamente positivo. Até porque nós saímos para esse segundo quadrimestre numa situação muito ruim. Em abril, a Prefeitura estava com todos os seus tributos em queda. Tanto os de transferência como os de arrecadação própria. Nós tínhamos 68% a menos de arrecadação no IPVA, 44% a menos de ISTI, 35% de IPTU, 33% de ICMS e o imposto que é o forte da Prefeitura, menos 26%. Mesmo com esse resultado que era abril e por isso a Prefeitura procurou tomar medidas emergenciais de contenção e redução de gastos. Foi muito austera nesse momento. Isso nos ajudou a caminhar neste segundo quadrimestre. Agora, estamos vendo uma recuperação da economia até porque nós ficamos até junho de 2020 praticamente com o comércio paralizado. Só aí a partir desse mês é que começaram a ocorrer as aberturas e alterações para as atividades ficarem de portas abertas. E já estamos sentido que a evolução da arrecadação que já é melhor do que a arrecadação do segundo quadrimestre, portanto, nós chegaremos ao final do exercício numa condição um pouco melhor do que a que nós finalizamos no segundo quadrimestre de 2020.
AT: Iris Rezende eleito em 2004, relatava que a situação financeira que herdou era dificultosa. O mesmo aconteceu nessa última gestão ele apontou que pegou a Prefeitura com déficit. É provável que outros gestores tenham pegado as gestões com déficit. Num horizonte de 20 anos para trás, é a primeira vez que o prefeito irá pegar a gestã com superávit?
ZP: Com certeza. Sem considerar restos à pagar, dívidas previdenciárias. Quando o prefeito coloca que chegou ao município de 1 bilhão de reais e 32 milhões mensais de fluxo negativo, isso tinha impacto muito significativo nas contas previdenciárias e o Prefeito fez todo um alinhamento para repactuar e ajustar, então, deixamos de ter, houve aprovação na Câmara da Reforma da Previdência. Isso foi extremamente importante para que as coisas viessem em alinhamento. E como todos conhecem, o prefeito é muito austero. Ele coloca para gente que o gasto precisa partir da arrecadação. A segurança de trabalhar e ter responsabilidade fiscal tudo isso trás um conforto para o novo e aquele que vier a assumir a prefeitura em 2021 com certeza vai recebê-la sem os problemas que recepcionaram Iris em em 2017.
AT: Hoje, a capacidade de endividamento da Prefeitura de Goiânia está em qual nível?
ZP: Dois dados importantes: primeiro é que a gente vai conseguir manter a qualidade do risco do município na categoria B (na avaliação do Tesouro Nacional) e isso é imprescindível para que o próximo prefeito possa ter condições de obter novos créditos. Nós temos 28% utilizado dessa capacidade financeira. Podemos contrair até 120% da receita corrente e hoje o município tem apenas 28%. É lógico que você tem que pensar não só nesse percentual mas na capacidade de pagar tudo aquilo que for contrair. Mas o prefeito [Iris] deixa uma margem significativa para o próximo se ele entender que ainda há necessidade de contratar novos investimentos financeiros e a recorrer a empréstimos para novas demandas que o prefeito possa ter.
AT: A receita corrente líquida prevista para o ano que vem está acima dos cinco bilhões?
ZP: Seis bilhões e quatrocentos é o valor da receita total.
AT: Se pode endividar 120% chega a 7 bilhões. Tirando o que já tá endividado, se a gente arredondar a capacidade de endividamento para 6 bilhões, eu estaria equivocado?
ZP: Para efeito de aplicação desse percentual, não. A questão é, como você vai atrair esse investimento, com que prazos. Você pode atrair investimentos com 10, 20 anos para pagar. Por isso que essa margem percentual, ela é passiva de ser encaixada no seu fluxo de caixa.
AT: Seria a prefeitura dos sonhos que todo o prefeito gostaria de pegar. A senhora citou a categoria B que é a classificação do Tesouro Nacional sobre a situação financeira do município. Essa conquista foi uma das maiores obras que Iris Rezende pode ter deixado para o próximo prefeito?
ZP: Essa questão de você ter um CAPAG positivo, de ter uma nota de crédito considerada pelo mercado como B ou seja, capaz de tomar ativos e capaz de pagar porque isso é importante, então é um legado extremamente importante para qualquer um que venha a fazer a gestão a partir do próximo ano.
AT: Das obras que estão em andamento, o BRT, asfaltamento, a gestão futura vai ter alguma preocupação quanto a buscar a recurso para terminá-la, as grandes, além do viaduto da 136?
ZP: O novo gestor não precisa se preocupar nem com as grandes nem com as pequenas obras. Todas elas já possuem recursos empenhados. Os 780 milhões que foi o empréstimo tomado junto ao Fenisa, recursos do Tesouro Nacional com a interveniência da Caixa foram para todas as obras. Desde o asfaltamento, pontes, viadutos, todas as obras que foram colocadas como programa do programa do prefeito Iris já estão devidamente empenhadas. Para concluí-las, não haverá necessidade alguma de novos recursos.
AT: Um dos grandes gargalos da gestão anterior, de certa forma, foram as dívidas previdenciárias. Qual é a situação da dívida previdenciária da Prefeitura, considerando que boa parte dessa dívida está na Comurg?
ZP: A dívida previdenciária eram recursos que deveriam ser repassados ao Goiânia PREV e que não foram. Foi feito todo um ajuste e na época se aproximava a 500 milhões. Foi feito esse ajuste. O déficit mensal era provocado exatamente pelo percentual de participação do servidor e da prefeitura. Esse percentual à época era de 11%. Nessa aprovação da reforma previdenciária municipal trouxe a 14% então houve a participação dos funcionários do custo previdenciário. Então, isso fez com que a gente tirasse esse déficit mensal. São correções feitas que não retornam porque foi estruturalmente resolvidas.
AT: Dentro das despesas sempre tem polêmica de um governo para o outro, quando vai sobre a despesa que fica e que vai. Toda a despesa de folha de pagamento este ano será paga até dezembro, inclusive, 13º?
ZP: Com certeza. Inclusive, pelo terceiro mês consecutivo o prefeito faz o pagamento de forma antecipada, nós acompanhamos diariamente o fluxo de caixa e nele já é estabelecido o valor da folha de pagamento, dentre outras despesas para aquele mês. Então, nasce um mês, começa um mês e já sabemos o que temos a pagar e já fazemos o posicionamento do que temos a receber. Esse fluxo vem sendo crescente, felizmente. Não temos preocupação em entregar o governo no dia 1º janeiro. O prefeito nesse exercício não se incumbiu apenas de pagar a folha como todos os benefícios que estavam paralisados.
AT: No relatório do quadrimestre, foi informado que investiram na Saúde 19% nesse quadrimestre, dentro da pandemia. Comparando com os quadrimestres anteriores o índice da saúde esteve nesse nível também? O candidato Elias Vaz criticou a gestão municipal por não investir todo o dinheiro do recurso referente ao combate ao coronavírus e que a gestão estaria com dinheiro em caixa sem investir no combate à pandemia. Procede isso?
ZP: Claro que não. Ele é conhecedor da responsabilidade fiscal do prefeito e ele sabe que nós temos uma obrigação de aplicar na saúde no mínimo 15%. Aplicamos 19%. Só para se ter uma ideia, o valor que foi repassado pelo Governo Federal através do Fundo Municipal de Saúde. Na Saúde tivemos praticamente 680 milhões em 2020. Vale informar a todos que além de recursos advindos do governo federal para apoio a covid a prefeitura teve duas ações extremamente importantes. Nós ainda investimos 48 milhões a mais. Estamos chegando com a quantidade de leitos e enfermaria nunca vistos no município. Não perdemos uma vida sequer por falta de atendimento na saúde ou disponibilidade de leitos. Ainda tivemos a colaboração da Câmara Municipal nas emendas impositivas que eram na ordem de 19, quase 20 milhões, que poderiam ter sido gastos com obras e entrega de praças e os vereadores entendendo o momento e o pleito do prefeito Iris cederam esses recursos para que a gente pudesse fazer a montagem dos leitos do Hospital das Clínicas. Foi investido além dessas emendas da ordem dos 20 milhões mais 48 milhões de recursos do município. Foi uma dedicação muito importante porque o prefeito tem uma preocupação muito grande com o ser humano e a vida. A gente não teve aqui e não se pensou em outra coisa como foco senão a questão de tratar bem essa questão do covid. Todos os municípios do país apresentam dificuldades em fazer compras na pandemia e a gente não teve isso.
AT: Secretária, dentro do ambiente da saúde que foi tratado como principal e é natural do ser humano preocupar-se com a sua saúde e o acesso à saúde. Os candidatos à Prefeito que querem a melhor saúde tem de partir então de 19% do orçamento. Eles tem que dizer que tem que investir mais que 19%. Esse deveria o compromisso?
ZP: Sim, se as pessoas quiserem fazer melhor que Iris Rezende Machado devem se preocupar em gastar mais. Sem esquecer que existe a Lei de Responsabilidade Fiscal. Que precisa atender outros pleitos. Tem que atender 25% em educação, tem que cuidar da limpeza, da infraestrutura, tem que cuidar de muitas outras coisas que não é só saúde. Quando você tem a obrigação de chegar a 15% e chega a 19% eu entendo que você está dando o foco na saúde. A exemplo da educação, a gente sabe que um país melhor virá, de uma população melhor preparada. Preparada para novos desafios. E o prefeito aplicou até o segundo quadrimestre 25% o que não tinha acontecido. Via de regra a gente chegava ao final do exercício com os 25%, nós chegamos a aplicar essa porcentagem no segundo quadrimestre. E o prefeito vai deixar o município sem gastos a pagar educacionais.
AT: O governo federal tenta tirar do FUNDEB uma parcela para sustentar o Renda Brasil. Isso atinge os municípios de forma dolorida, principalmente os com mais dificuldade, não seria o caso de Goiânia, mas como a senhora avalia isso?
ZP: O meu olhar, a minha crença maior é que tudo pode melhorar no país a partir da educação. Se estou tirando exatamente da educação, eu não estou contribuindo para no futuro eu ter um país melhor. Minha visão é essa. Eu não faria isso. Agora, as prefeituras que ainda se encontram com déficit na educação isso será ainda mais agravado. A Prefeitura de Goiânia trabalhou muito forte nessa questão, principalmente, considerando a visão do prefeito Iris que era o seguinte: ‘precisamos preparar o município, considerando que muitas famílias em função da covid, vão perder sua capacidade financeira de manter o seu aluno em escolas particulares e o município terá de absorver essa demanda’. Então foi trabalhando nesses últimos meses, vamos entregar praticamente 40 CMEIS e mais as salas modulares no sentido de que a gente possa chegar ao final sem déficit na educação. O impacto da ação do governo federal seria um pouco menor no município dado a esse contexto que a gente chega ao fim do mandato.
AT: Os candidatos falam muito de CMEIS, criticam muito a questão da vaga. Os 40 CMEIS serão inaugurados este ano, as vagas serão criadas este ano?
ZP: Sim, o prefeito vai inaugurar uma série deles até o final da gestão. Já temos 16 ou 18 prontos. Alguns ainda estão em finalização de processos de licitação, mas a ideia é buscar finalizar ao máximo até o fim da gestão. Os que não conseguirem, o recurso está carimbado, empenhado. Então isso vai acontecer: seja em 2020 ou 2021, mas vai acontecer pois o recurso já está dedicado para finalizado.
AT: A Prefeitura já tem perspectiva do que será o IPTU e ITU para 2021? Será por meio de reajuste inflacionário ou terá o retorno daquele projeto por valor venal e não por zona fiscal.
ZP: Essas avaliações já foram feitas lá atrás. A LOA que seguiu para a Câmara segue exatamente com esse crescimento de inflação, praticamente é nesse aspecto que trabalhamos o orçamento do próximo exercício. E aí justamente o impacto sobre as arrecadações e os tributos.
AT: Os candidatos criticam a gestão municipal e a cidade com a necessidade de criar uma cidade inteligente, investir em tecnologia e inovação. Qual o grau de tecnologia que a sua secretária tem que o futuro vai pegar?
ZP: Eu acho que é muito oportuno colocar esse assunto. Eu até ouvi um comentário que a Prefeitura não avançou nessas questões de tecnologia. Para se ter uma ideia, no município para tirar um alvará de construção de edifício você levava um ano e meio. Hoje, com 40 dias você consegue isso. Os sistemas da prefeitura, desde a educação, saúde, investiram muito para que o cidadão pudesse acessar a Prefeitura através dos meios eletrônicos. Estamos investindo na mudança do software das Finanças para alterar o sistema tributário, sendo mais inteligentes e mais céleres. Para que possamos ter aqui, uma inteligência fiscal. Através dessa nova plataforma, poderemos entender um pouco melhor as questões da falta de pagamento, ou da sonegação fiscal. Porque o país não suporta mais, falar de aumento de alíquota. Estamos discutindo a reforma tributária e o maior desgaste tem sido essa questão de você estabelecer novas alíquotas. O que precisamos fazer é ter inteligência fiscal para trazer pessoas ou empresas que sonegam que deixam de pagar, deixam de contribuir com a melhoria do município e do coletivo em favor de si por não pagar os tributos. Esse novo software que estamos há meses construindo possa vir a contribuir para essa inteligência fiscal. Isso será uma forma de melhorar a arrecadação do município sem trazer um peso à quem faz o seu dever de forma correta.
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