05 de dezembro de 2025
Comércio Exterior • atualizado em 29/07/2025 às 11:47

Saiba como governo Lula tenta proteger alimentos e aeronaves da tarifa de Trump

Como plano B, o governo brasileiro já elaborou um plano de contingência para mitigar os efeitos da tarifa, caso ela se concretize
Apesar da insistência do governo brasileiro, as negociações seguem travadas. Foto: Ricardo Stuckert PR.
Apesar da insistência do governo brasileiro, as negociações seguem travadas. Foto: Ricardo Stuckert PR.

A três dias da entrada em vigor da tarifa de 50% anunciada pelo ex-presidente Donald Trump contra produtos brasileiros, o governo Lula intensifica esforços diplomáticos para excluir itens estratégicos da medida, como alimentos e aeronaves da Embraer (EMBR3). A sobretaxa, prevista para começar em 1º de agosto, ameaça setores-chave da economia nacional e pode gerar impactos significativos na balança comercial.

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, tem mantido contato frequente com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Alckmin argumenta que produtos como aeronaves da Embraer, que usam componentes norte-americanos e alimentos com forte presença no mercado externo, como suco de laranja e café, não deveriam ser penalizados.

O Brasil é líder global na exportação de suco de laranja, e 42% desse volume vai diretamente para os Estados Unidos. No setor cafeeiro, os EUA adquiriram quase 3 milhões de sacas brasileiras apenas entre janeiro e maio de 2025, representando 7,1% das exportações do setor.

Plano B de Haddad

Como plano B, o governo brasileiro já elaborou um plano de contingência para mitigar os efeitos da tarifa, caso ela se concretize. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o projeto aguarda o sinal verde de Lula. A proposta inclui a criação de um fundo privado temporário para oferecer crédito a empresas afetadas, medidas emergenciais de preservação de empregos e até a possibilidade de acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a legalidade da tarifa.

Negociações travadas

Apesar da insistência do governo brasileiro, as negociações seguem travadas. “Alckmin todo dia liga para alguém e ninguém quer conversar com ele”, afirmou o presidente Lula, demonstrando frustração com a falta de resposta por parte da administração Trump. A diplomacia brasileira afirma que não fará concessões políticas, como interferência no processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro ou mudanças na regulação de plataformas digitais e que o foco permanece exclusivamente comercial.

Parlamentares brasileiros também estão mobilizados. Uma comitiva de oito senadores, liderada por Jaques Wagner (PT-BA), está em Washington buscando sensibilizar autoridades e empresários norte-americanos. No entanto, o clima é de ceticismo quanto à possibilidade de adiar ou barrar a tarifa. O chanceler Mauro Vieira, presente em Nova York para um evento da ONU, ainda não confirmou encontros com representantes do governo Trump.

Terras raras

Outro ponto delicado nas relações bilaterais é o interesse dos EUA em minerais críticos brasileiros, como lítio, nióbio e terras raras, que são insumos essenciais para tecnologia de ponta, transição energética e defesa. O encarregado de negócios da embaixada americana, Gabriel Escobar, manifestou interesse direto em ampliar o acesso a esses recursos.

Em resposta, Lula afirmou de forma categórica: “essas riquezas pertencem ao povo brasileiro”. O país detém a segunda maior reserva mundial de terras raras e lidera a produção global de nióbio, o que pode representar uma moeda de troca importante nas negociações, desde que com planejamento para agregar valor dentro do território nacional.


Leia mais sobre: / / / / Brasil / Política