Nos últimos dias, a tensão entre Rússia, Ucrânia e os países da Otan tem chamado atenção de todo o mundo. O reconhecimento da independência das regiões separatistas, Donetsk e Luhansk, o envio de tropas para as fronteiras e a autorização do Congresso russo para uso de tropas militares no exterior aumentou ainda mais os rumores sobre uma guerra.
Na madrugada desta quinta-feira (24), a Rússia iniciou ataques a diversas partes da Ucrânia, bombardeando militares em Kiev, Kharkiv e outras cidades no centro e no leste do país vizinho. Afinal, porque a Rússia está em conflito com a Ucrânia?
Para falar sobre o assunto, o Diário de Goiás convidou o professor de Geopolítica, Norberto Salomão, que explica todo esse cenário. Já de antemão, o professor adianta que toda essa tensão não resultará em uma terceira Guerra Mundial. ”Porém, tudo é possível”, comenta.
Segundo o professor tudo irá depender de como os Estados Unidos, União Européia e Otan irão responder a tudo isso. Mas para Norberto, a hipótese de uma terceira Guerra está descartada, porque isso não interessa o próprio Vladimir Putin.
”O que o Putin pretendia fazer, ele conseguiu fazer, que é colocar o ocidente numa sinuca de ‘bico’ e avançar sobre regiões que ele pretende dominar. Mas ele avançou em um espaço que foi deixado a ele. Ele não está tomando um espaço que não lhe estava reservado nesse tabuleiro geopolítico”, explica o professor que ainda ressalta, ”de 2014 pra cá, as forças do ocidente fizeram muito pouco, fizeram muito mal o que tinham que fazer, então deram espaço para o crescimento do Putin, não só dentro da própria Rússia, como também até essa escalada que levou a essa situação’.
Bombardeio à Ucrânia daria para evitar
De acordo com Norberto, não era preciso o bomberdeio à Ucrânia. O professor explica que as más negocições levaram as duas nações ao conflito. ” As negociações não foram bem feitas, eles menosprezaram os fatos do Putin partir para esse tipo de ação. Deixou muito a desejar a própria diplomacia”, afirma.
O professor explica que o próprio Biden, presidente dos EUA, veio em uma postura muito mais de crítica ao Putin, do que de uma aproximação diplomática. ”O próprio Biden de certa forma, querendo jogar para dentro, para seu público talvez pensando até numa releeição, quis demonstrar que os EUA tinha força”, destaca.
O presidente americano Joe Biden, em discurso concedido na Casa Branca nesta quinta-feira (24) ele comentou sobre os ataques que aconteceram no país do leste europeu. Para Biden, Putin está planejando isso há meses.
Conflito já era acentuado desde 2014
Em 2014, depois do movimento pró-europeu de Maidan e da fuga para a Rússia do presidente Viktor Yanukovych, Moscou anexou a península ucraniana da Crimeia. A comunidade internacional não reconhece essa anexação.
No processo, surgiram movimentos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, em Donetsk e Lugansk, regiões do Donbass que fazem fronteira com a Rússia. As duas repúblicas se autoproclamam, o que provoca um intenso conflito armado com as forças ucranianas.
Kiev e o Ocidente acusam a Rússia de apoiar os rebeldes, enviando homens e equipamentos. Moscou sempre negou o respaldo, reconhecendo apenas a presença de “voluntários” russos na Ucrânia.
”O acidente não está preparado neste momento nem na narrativa. É uma narrativa consistente”, afirma Norberto Salomão.
Confira na íntegra a entrevista completa:
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