RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O colombiano Reinaldo Rueda, 60, chegou ao Flamengo com o título da Libertadores de 2016 e experiência em duas Copas do Mundo.
Dois meses depois, o técnico já é contestado. Formado pela Escola Superior de Esportes da Alemanha e fã de Carlos Alberto Parreira, ele não se abala com cobranças.
Nesta quarta (25), Rueda comanda o Flamengo no clássico contra o Fluminense, no Maracanã, às 21h45 pelas quartas da Sul-Americana.
À reportagem, ele diz que os reforços contratados pelo clube no meio do ano “chegaram fora do momento ideal”, mas afirma que o trabalho dará resultados. Segundo ele, a grande meta é conquistar títulos importantes em 2018.
Ao contrário de Renato Gaúcho, que criticou a qualidade do Brasileiro, o colombiano diz que o campeonato é extraordinário.
Rueda compara a situação de insegurança no Rio com a vivida na Colômbia.
“Assim somos nós. Somos a América Latina. Temos que sempre estar alertas, nos prevenir e ter a proteção divina para que nada aconteça”, diz.
PERGUNTA – O Flamengo é um dos times que mais investiu neste ano, mas não está na ponta da tabela. O que está faltando?
REINALDO RUEDA – Tenho um diagnóstico claro. O clube fez um investimento alto, com jogadores de talento e nome, mas muitos chegaram fora do momento ideal. Sempre fazem a comparação entre o investimento e a produção. Não deveria ser assim. É normal esse período de transição, que passa pela chegada dos atletas e sua recuperação, até formar o time que o Flamengo precisa. Estamos nesse caminho. A grande meta é conquistar títulos importantes em 2018.
– O senhor treinou o Borja no Atlético Nacional. Como explica sua má fase no Palmeiras?
R.R. – É difícil falar de longe. Existem jogadores que não estão bem aqui, mudam de camisa e viram fenômenos em outro lugar. Essa é a fantasia do futebol. Mas ele é muito bom.
– O que mais surpreendeu o senhor no futebol brasileiro?
R.R. – Além da qualidade técnica dos atletas, que já esperava, a intensidade me surpreendeu. O Brasileiro é extraordinário. É muito competitivo. Em quase todos os países da América do Sul sempre três ou quatro times se destacam. Aqui todos os jogos são muito difíceis.
– A Colômbia é conhecida pela violência, assim como o Brasil. Onde é melhor viver?
R.R. – Eu só trabalho, viajo e descanso. Ainda não tive tempo nem de ir para a praia, apesar de morar bem perto. Já vivi em outros países com violência forte. Nada disso é novidade.
Sempre vi o Brasil como uma grande potência da região, com menos problemas. É difícil dizer se é pior ou melhor. No futebol, vivemos numa bolha que não é a realidade dos nossos países. Na minha carreira, já passei por muitas coisas, mas sempre um pouco distante. Vi golpe de estado em Honduras e trabalhava na Iugoslávia quando houve guerra nos anos 90.
– O senhor já presenciou cenas de violência aqui? Qual exemplo a Colômbia pode dar?
R.R. – Sim. Aqui no Rio e em São Paulo. Assim somos nós. Somos a América Latina. Temos que sempre estar alertas, nos prevenir e ter a proteção divina para que nada aconteça.
A questão do combate à violência tem que ser um compromisso do país. Tem que partir lá de cima do governo. É preciso fazer muito trabalho social nas áreas carentes para que as crianças não entrem no negócio. Conheci atletas que conviviam com o tráfico, mas foram salvos pelo futebol.
– Foi ameaçado alguma vez?
R.R. – Alguns clubes [colombianos] estiveram bem próximos do narcotráfico. Houve um período em que era inevitável, mas passou. Nessa época, trabalhava com futebol amador, e isso não chegava lá tão forte.
– Quais são as seleções favoritas para a próxima Copa?
R.R. – Já sentimos o grande potencial da Alemanha, que faz uma mudança de geração com sucesso. Mas vi o que o Brasil fez nessas eliminatórias. O Tite está fazendo um belo trabalho e conseguiu terminar a competição com uma diferença muito grande para os adversários. Brasil e Alemanha farão uma grande final.
Leia mais sobre: Esportes