O encontro entre o escritor Sérgio Rodrigues e a roteirista Mariliz Pereira Jorge, na manhã desta quinta-feira (27), na Casa Folha, na Flip foi marcado por críticas à situação política do Rio de Janeiro.
Com mediação de Sérgio Dávila, editor-executivo do jornal, os dois colunistas da Folha de S.Paulo falaram para uma plateia lotada.
“O Rio de Janeiro está na vanguarda do atraso”, disse Rodrigues em resposta a um pedido do mediador para que explicasse a situação do Estado.
Para o autor de “Viva Língua Brasileira” (Companhia das Letras), o Rio vive um momento de “esgarçamento” de suas relações sociais -e a desigualdade passou a se manifestar de forma mais aguda.
“Não é muito diferente do que é o Brasil inteiro. Talvez esteja só uns anos na frente”, afirmou, acrescentando que o momento do estado serve de alerta para o resto do país.
Para o escritor, tais problemas são fruto de uma sociedade escravagista que se acostumou à desigualdade.
Já a roteirista lembrou uma coluna que escreveu, intitulada “A Vida é Muito Curta para Morar no Rio”. O texto era uma crítica à classe média alta que mora na zona sul da capital fluminense.
“Minha crítica era a quem olha a paisagem maravilhosa e se esquece de todos os defeitos, a quem esquecia a quantidade de gente que morre nos morros”, disse ela.
Como escrever bem
O Rio não foi o único assunto do debate entre os dois, que se reuniram para discutir o livro “Como Escrever Bem”, manual de escrita de William Zinsser, lançado pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha.
Rodrigues recomendou a aversão ao clichê na hora da escrita.
“Todo texto tem uma pulsão de morte, que é a pulsão do clichê, do que já foi dito milhões de vezes”, afirmou. “Existe uma medida de originalidade e espanto que tem que ser buscada em todo texto.”
Pereira Jorge, por sua vez, acredita que para escrever é preciso coragem -e não pensar muito no público alvo.
“Acho que a gente consegue ser mais sincero e honesto quando fala para si mesmo”, disse ela.
A discussão, em dado momento, caminhou para a dificuldade de muitos leitores em compreenderem o uso da ironia -para a importância da educação para formar pessoas que saibam ler.
“Acho que esse é nosso problema mais profundo, de onde deveria partir uma solução, que não está no horizonte”, afirmou o autor, lembrando apenas que é possível usar os lugares-comuns subvertendo-os, como faz o escritor André Sant’Anna.
Como costuma falar algumas vezes, Rodrigues ainda criticou o jeito como se ensina literatura no país. O jornalista acha um erro, por exemplo, dar José de Alencar para alunos muitos jovens lerem -como se o ensino da literatura devesse seguir uma ordem cronológica do que foi produzido no Brasil.
“É uma estupidez. Dar um autor contemporâneo, que dialogue com a linguagem dese menino, vai ser mais eficiente. Assim a gente salga a terra. Não só não formamos leitores, como evitamos que eles se formem por si”, afirmou.
Para quem quer escrever, acrescenta, a única solução é ler muito. Para aprender estilos, selecionar uma influência aqui e outra ali -e construir a sua própria voz. (Folhapress)
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