21 de dezembro de 2024
Brasil

Reunião proposta por governadores continua sem resposta de Bolsonaro

Uma semana depois de terem oficializado um pedido de reunião com Jair Bolsonaro e com outros chefes de Poderes, os governadores não receberam qualquer resposta do presidente da República até agora. Preocupado com a instabilidade política no País e com seus efeitos sobre a economia, o Fórum de Governadores se reuniu em Brasília, na segunda-feira passada, 23, na tentativa de encontrar um caminho para diminuir a temperatura política. Para evitar maiores atritos com Bolsonaro, foi proposto o convite para uma reunião. A ideia foi ignorada até agora pelo presidente por sugestão de seus principais aliados, que veem no movimento uma pressão contra o governo.

Mesmo assim, os governadores já marcaram uma conversa com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que comanda o Congresso, para a esta quinta-feira, 2. Existe a possibilidade de que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, também confirme presença no encontro.

“Nós, governadores, queremos pacificar as relações nesse País”, disse ao Estadão o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). “Fizemos, na semana passada, uma reunião equilibrada com o intuito de reafirmar um pacto em defesa da democracia, da Constituição e das normas legais. Essa pacificação é fundamental para melhorar o ambiente político, institucional e econômico. No entanto, a cada dia uma crise nova aparece, impede o diálogo e também a estabilização da economia e a recuperação de investimento. Precisamos dar segurança aos investidores e à grande maioria dos brasileiros que precisam de oportunidade de emprego e renda”.

Casagrande observou que o grupo só está à espera da posição de Bolsonaro. “Já conversamos com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e vamos nos encontrar nesta quinta-feira, novamente, em Brasília. Também devemos falar nesta semana com o presidente do STF, Luiz Fux. Vamos continuar defendendo a união entre os Poderes, a democracia e a repudiar os ataques do presidente Bolsonaro contra as instituições”, destacou Casagrande.

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), ainda confia na possibilidade de abertura de diálogo com o presidente. “Quem quer diálogo não pode impor, não pode dar prazo”, disse ele. “Pelo Fórum dos Governadores do Brasil, seguimos abertos para a agenda e para criar um ambiente democrático, como estabelece nossa Constituição.”

Dias argumentou que é necessário criar no País um clima favorável aos investimentos e marcar uma conversa entre os Poderes para tratar de pautas de interesse comum do governo federal, Estados e municípios, como uma rede de proteção aos mais pobres. “Mais vacinas, reforma tributária, medidas para conter a elevação da inflação e dos juros, plano de investimentos públicos e privados para gerar mais empregos e ampliação da renda é a nossa proposta”, afirmou Dias.

A reação de Bolsonaro já tinha sido prevista pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no mesmo dia da reunião dos governadores, Doria disse que não tinha qualquer expectativa para o pedido de encontro com o presidente.

“Não espero nada, nem o encontro. Bolsonaro não gosta do diálogo Ele é refratário ao diálogo. Não gosta da democracia e é apaixonado pela ditadura”, afirmou o governador de São Paulo.

Doria também aumentou o tom e chamou o presidente de “psicopata” “É um autoritário, além de ser um negacionista. E, a meu ver, é um psicopata, um homem doente. Se for submeter Bolsonaro a uma análise psiquiátrica, vão concluir claramente que ele é um doente”, declarou.

Diante das ameaças feitas pelo presidente à democracia e de seus ataques a ministros do STF, os governadores planejavam divulgar, na semana passada, uma nota crítica a Bolsonaro. Sem consenso, decidiram optar pelo convite para a reunião.

Na carta enviada aos representantes dos Poderes, a preocupação com a instabilidade política ficou explícita. Nela é citado “o propósito de identificar e pautar pontos convergentes e estratégias visando salvaguardar a paz social, a democracia e o bem-estar socioeconômico da população brasileira”. (Por Marcelo de Moraes/Estadão Conteúdo)


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