Durante sua participação no encontro Diálogos promovido pelo jornal O Globo, nesta sexta-feira (1º), o governador Ronaldo Caiado (UB), chamou a atenção ao afirmar que, caso eleito presidente da República, tomará como primeira medida uma “anistia ampla, geral e irrestrita” aos envolvidos nos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023, incluindo os citados no inquérito sobre a tentativa de golpe.
O governador citou como referência o ex-presidente Juscelino Kubistchek, mas a frase se tornou famosa ao ser usada pelos movimentos que cobraram anistia a presos e exilados pela ditadura militar na década de 1970.
A declaração, que abrangeria inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem faz defesa recorrente, foi feita durante um debate mediado pela jornalista Vera Magalhães, e gerou imediata reação do prefeito do Recife, João Campos (PSB).
“Quando o Lula ganhou, a primeira coisa que disse foi: ‘vou pacificar o país’. É o que eu digo. Se eu assumir o governo, a primeira coisa que vou fazer é anistiar todo mundo. Igual Juscelino fez […] com situações mais graves do que essa” – Ronaldo Caiado
Ele se referia ao perdão concedido por Juscelino Kubitschek a militares envolvidos nas revoltas de Jacareacanga e Aragarças.
A proposta de Ronaldo Caiado foi rapidamente contestada por João Campos, que demonstrou preocupação com o que classificou como um incentivo à impunidade.
“Tenho visão contrária. Em relação ao que se trata de anistia do 8 de Janeiro, é preciso clareza entre quem liderou, planejou e quem foi massa de manobra. Anistia ampla pode construir viés de impunidade. É preciso seguir as leis” – João Campos
Em outro momento, Caiado também insinuou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria sido omisso durante os ataques às sedes dos Três Poderes que destruíram instalações do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal também. A acusação foi novamente rebatida por Campos.
“Quem quebrou instituição pública tem que ser punido. Não dá para culpar o presidente da República e defender anistia a quem ali estava.”
Caiado ainda comparou os atos de 8 de janeiro às ações do Movimento dos Sem Terra (MST), questionando a ausência de punições a esse grupo:
“Então por que o MST nunca foi punido? Como dizia o Padre Cícero: daqui pra frente, não perdoar mais ninguém. Vamos perdoar o passado.”
Além do tema da anistia, o governador goiano também repetiu as críticas à postura do governo Lula em relação à crise comercial com os Estados Unidos após o recente aumento de tarifas sobre exportações brasileiras:
“Interessa a Lula manter esse assunto em pauta”, afirmou Caiado, numa tentativa de apontar benefício político do governo federal com a tensão internacional.
O debate fez parte da série Diálogos O Globo, que tem reunido lideranças políticas de diferentes espectros para discutir questões centrais do Brasil.
Caiado não foi o único participante a levantar temas controversos ao longo da semana. Na quinta-feira, Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e Rafael Fonteles (PT), do Piauí, manifestaram divergências sobre a crise entre Brasil e Estados Unidos, a despeito da concordância sobre os efeitos econômicos ruins das novas tarifas, um dia após o presidente americano Donald Trump formalizar a medida que penaliza o Brasil e tem um fundo político de defesa a Jair Bolsonaro.
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