05 de dezembro de 2025
OPINIÃO EM DEBATE

Repetindo chavão da esquerda, Caiado pede “anistia geral, ampla e irrestrita” aos que tentaram golpe de Estado

Com alcance a Bolsonaro, governador de Goiás propõe "anistia ampla, geral e irrestrita" aos que tentaram golpe de Estado e compara caso ao perdão de JK; João Campos reage com críticas
Declarações do governador foram durante rodada de debates do jornal - Foto: divulgação / Secom Goiás / arquivo
Declarações do governador foram durante rodada de debates do jornal - Foto: divulgação / Secom Goiás / arquivo

Durante sua participação no encontro Diálogos promovido pelo jornal O Globo, nesta sexta-feira (1º), o governador Ronaldo Caiado (UB), chamou a atenção ao afirmar que, caso eleito presidente da República, tomará como primeira medida uma “anistia ampla, geral e irrestrita” aos envolvidos nos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023, incluindo os citados no inquérito sobre a tentativa de golpe.

O governador citou como referência o ex-presidente Juscelino Kubistchek, mas a frase se tornou famosa ao ser usada pelos movimentos que cobraram anistia a presos e exilados pela ditadura militar na década de 1970.

A declaração, que abrangeria inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem faz defesa recorrente, foi feita durante um debate mediado pela jornalista Vera Magalhães, e gerou imediata reação do prefeito do Recife, João Campos (PSB).

“Quando o Lula ganhou, a primeira coisa que disse foi: ‘vou pacificar o país’. É o que eu digo. Se eu assumir o governo, a primeira coisa que vou fazer é anistiar todo mundo. Igual Juscelino fez […] com situações mais graves do que essa” – Ronaldo Caiado

Ele se referia ao perdão concedido por Juscelino Kubitschek a militares envolvidos nas revoltas de Jacareacanga e Aragarças.

A proposta de Ronaldo Caiado foi rapidamente contestada por João Campos, que demonstrou preocupação com o que classificou como um incentivo à impunidade.

“Tenho visão contrária. Em relação ao que se trata de anistia do 8 de Janeiro, é preciso clareza entre quem liderou, planejou e quem foi massa de manobra. Anistia ampla pode construir viés de impunidade. É preciso seguir as leis” – João Campos

Em outro momento, Caiado também insinuou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria sido omisso durante os ataques às sedes dos Três Poderes que destruíram instalações do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal também. A acusação foi novamente rebatida por Campos.

“Quem quebrou instituição pública tem que ser punido. Não dá para culpar o presidente da República e defender anistia a quem ali estava.”

Caiado ainda comparou os atos de 8 de janeiro às ações do Movimento dos Sem Terra (MST), questionando a ausência de punições a esse grupo:

“Então por que o MST nunca foi punido? Como dizia o Padre Cícero: daqui pra frente, não perdoar mais ninguém. Vamos perdoar o passado.”

Além do tema da anistia, o governador goiano também repetiu as críticas à postura do governo Lula em relação à crise comercial com os Estados Unidos após o recente aumento de tarifas sobre exportações brasileiras:

“Interessa a Lula manter esse assunto em pauta”, afirmou Caiado, numa tentativa de apontar benefício político do governo federal com a tensão internacional.

O debate fez parte da série Diálogos O Globo, que tem reunido lideranças políticas de diferentes espectros para discutir questões centrais do Brasil.

Caiado não foi o único participante a levantar temas controversos ao longo da semana. Na quinta-feira, Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e Rafael Fonteles (PT), do Piauí, manifestaram divergências sobre a crise entre Brasil e Estados Unidos, a despeito da concordância sobre os efeitos econômicos ruins das novas tarifas, um dia após o presidente americano Donald Trump formalizar a medida que penaliza o Brasil e tem um fundo político de defesa a Jair Bolsonaro.


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