08 de agosto de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 01:21

Relato da JBS atinge ao menos seis ministros

Em meio à maior crise do governo Michel Temer, ministros de sua gestão podem ser alvos de novos pedidos de inquéritos, desta vez decorrentes da delação da JBS.

Os depoimentos dos delatores, revelados neste mês, envolvem de forma significativa ao menos quatro ministros e fazem acusações como uso de caixa dois em campanha e recebimento de propina.

Apesar de a delação já ter sido tornada pública, a Procuradoria-Geral da República ainda analisa as informações do acordo de colaboração que envolvem autoridades com foro. Se encontrar indícios de irregularidades, o procurador-geral, Rodrigo Janot, deve pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de inquéritos.

É uma situação diferente da ocorrida na delação da Odebrecht, na qual o conteúdo dos acordos só foi revelado quando o ministro do STF Edson Fachin autorizou a abertura dos inquéritos, em abril.

Entre ministros, as acusações mais incisivas da delação da JBS miraram Gilberto Kassab (PSD), da Ciência, Tecnologia e Comunicações.

Um dos donos da JBS, Wesley Batista disse que pagou mensalmente R$ 350 mil desde 2010 a uma empresa ligada a Kassab por contratos superfaturados de aluguel de caminhões. O valor totaliza quase R$ 30 milhões.

Segundo Wesley, o grupo herdou esse contrato ao adquirir o frigorífico Bertin, em 2009, e decidiu manter os pagamentos porque considerou que o hoje ministro teria “influência em algum momento”.

Outro delator, Ricardo Saud, disse que, na campanha de 2014, Kassab embolsou R$ 7 milhões pagos pela JBS dentro de um acordo entre PT e PSD, partido do qual o ministro é fundador.

Esse montante, disse, foi pago por meio de notas fiscais frias de uma empresa de um irmão de Kassab, Renato.

Propina recente

Joesley Batista disse que pagou no fim de março, quando já negociava delação, o atual titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcos Pereira, do PRB.

O empresário disse que foi acertada uma propina de R$ 6 milhões referentes à liberação de um empréstimo de R$ 2,7 bi na Caixa. O PRB havia indicado um vice-presidente do banco, e ficaram programados pagamentos mensais de R$ 500 mil no início de 2016.

A maior parte foi quitada, disse, e a última parcela entregue em 24 de março, na casa de Joesley, “diretamente a Marcos Pereira”.

Outros dois relatos envolvendo ministros são relacionados à campanha de 2014. Ricardo Saud disse que o ministro das Cidades, o tucano Bruno Araújo, recebeu R$ 200 mil em dinheiro vivo naquela eleição, quando concorreu a deputado federal.

O peemedebista Helder Barbalho, titular da pasta da Integração Nacional, foi acusado por Saud de ter sua campanha ao governo do Pará financiada com propina e caixa dois.

O delator disse que o pai de Helder, o senador Jader Barbalho, recebeu R$ 8,98 milhões da JBS destinados pelo PT para obter o apoio do PMDB do Senado, nas eleições de 2014.

“Entendo que esses R$ 8,98 milhões o Jader direcionou tudo para a campanha do filho dele, candidato”, disse.

Parte dos repasses foi feita por meio de notas frias pagas pela JBS e em dinheiro vivo.

Os delatores também fazem menções mais breves a dois dos principais integrantes do núcleo do governo Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). Em um contexto de relatos de irregularidades cometidas no governo federal, eles são citados como integrantes do grupo mantido por Temer e Eduardo Cunha.

Na delação da Odebrecht, Fachin autorizou a abertura de inquéritos contra oito dos atuais ministros de Temer. (Folhapress)

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