Enquanto gigantes do e-commerce, como Shein e Shopee, expandem sua presença no mercado brasileiro, o polo confeccionista da Região da 44, em Goiânia, busca fortalecer sua posição por meio de inovação, capacitação e estratégias digitais. A meta é ambiciosa: movimentar R$ 3,5 bilhões em vendas no último trimestre de 2025, alta de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior somando o faturamento das lojas físicas e das operações online, segundo a Associação Empresarial da Região da Rua 44 (AER44).
Com cerca de dois milhões de visitantes esperados até o fim do ano, a região também aposta em novos formatos de negócio que unem o físico ao digital. Entre os exemplos está o lançamento do Kit Empreendedor, iniciativa da marca Fio 10 em parceria com a agência FR Digital Inteligência de Mercado, que propõe capacitar sacoleiras e pequenos lojistas a se tornarem empreendedores com mais estrutura e visão estratégica.
Empreender para crescer
Segundo Ana Paula Soares, empresária da Fio 10, o projeto nasceu da necessidade de fortalecer os compradores que já movimentam o atacado local. “Queremos transformar os nossos clientes, que são sacoleiros e pequenos lojistas em grandes empreendedores. O kit ensina a ter capital de giro, controle de estoque e estratégias para crescer”, explicou em entrevista ao Diário de Goiás.
Ela acredita que o fortalecimento desses pequenos negócios é uma resposta prática ao avanço das vendas online e ao impacto das plataformas internacionais sobre o varejo popular. “Alguns clientes foram afetados por essas plataformas, mas o caminho é aprender a usar as redes, divulgar mais as marcas e aproveitar a visibilidade digital a favor. O mercado é grande o bastante para todos”, destaca.
Da calçada para o digital
Para Adriano Novaes Souza, diretor comercial da FR, o diferencial está em pensar além das vitrines físicas. “Quando lançamos o Kit Empreendedor, nossa ideia foi furar a bolha. A 44 tem um fluxo enorme de visitantes, mas muitos lojistas ainda disputam clientes na calçada. Queremos levar essas lojas para o Brasil inteiro”, explicou em entrevista ao Diário de Goiás.
Ele lembra que a Fio 10 já começa a alcançar mercados fora do país, resultado direto da combinação entre o comércio tradicional e a inteligência digital. “Com uma boa estratégia, o céu nem é o limite”, afirma.
Estrutura em transformação
Mesmo diante da concorrência das plataformas internacionais, a 44 tem se adaptado. O presidente da AER44, Sérgio Naves, reconhece que a frequência de compradores presenciais diminuiu, mas isso não se reflete em queda nas vendas. “Continuamos sendo um polo atacadista. Hoje, os lojistas compram com menor frequência, mas utilizam os canais digitais com mais eficiência”, explica.
Ele aponta que o crescimento da estrutura logística da região é uma das provas da modernização. “Há dez anos, tínhamos menos de 100 empresas de transporte. Hoje são mais de 500, incluindo grandes operadores como Latam Cargo, Azul Cargas e Jadlog. Também já temos centros de distribuição de marketplaces como Mercado Livre e Shopee”, completa.
Campanhas e oportunidades
Para impulsionar as vendas no fim do ano, a AER44 lançou a campanha “Show de Prêmios Vem Pra 44”, que vai sortear R$ 444 mil em prêmios, incluindo carro, motos, iPhones e vales-compra. A novidade é o sistema híbrido de cupons físicos e digitais, acessível também por WhatsApp. “O cupom digital facilita a participação de quem compra remotamente e reforça o vínculo com os clientes online”, afirma o diretor de marketing da entidade, Adenir Marques, conhecido como Max Chocolate.
A expectativa é de que o movimento incentive novas contratações. Estima-se a abertura de 1,5 mil vagas temporárias neste fim de ano, impulsionadas pela chegada de cerca de 300 novas lojas à região, cuja taxa de vacância é de apenas 14%.
Inovação como resposta
Com campanhas digitais, kits de capacitação e estratégias que integram o atacado físico ao comércio virtual, a Região da 44 sinaliza que pretende não apenas resistir à concorrência de plataformas globais, mas transformar o desafio em oportunidade. “Essas plataformas não precisam ser uma ameaça”, resume Ana Paula Soares. “Elas podem ser o empurrão que faltava para o empreendedor da 44 conquistar novos mercados”.
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