09 de agosto de 2024
Economia • atualizado em 13/02/2020 às 00:24

Redução de juros deve ser apenas para a casa própria, diz Caixa

A obrigação de direcionar dinheiro da poupança para o financiamento imobiliário foi uma das razões que levou a Caixa a reduzir os juros cobrados no crédito para a compra da casa própria. Isso não significa, contudo, que o banco planeja reduzir as taxas em outras modalidades de crédito, segundo o vice-presidente de finanças do banco, Osvaldo Bruno Brasil.

Na semana passada, o banco anunciou que todos os segmentos do financiamento imobiliário teriam juros mais baratos, repassando ao consumidor a queda da taxa básica da economia (Selic) de 14,25% para 14% ao ano.

“Apesar do momento ser muito desafiador para poupança, a desaceleração do setor imobiliário foi maior que a queda na captação líquida da poupança”, disse Brasil em entrevista para detalhar os resultados do banco no terceiro trimestre.

À medida que um mutuário paga parte do financiamento, o banco precisa emprestar esse dinheiro para outro cliente. A velocidade dos novos empréstimos não estava cobrindo as amortizações, disse.

De forma geral, os bancos precisam direcionar pelo menos 65% do dinheiro que os clientes aplicam na caderneta para o crédito imobiliário. O saldo da caderneta no banco era de R$ 241 bilhões no final de setembro, alta de 2,8% na comparação com igual mês do ano passado.

Já o total emprestado em financiamento imobiliário teve alta de 6,7% em um ano, para R$ 401,5 bilhões no final de setembro. Atualmente, a Caixa detém 66,8% do mercado de crédito para habitação.

O esforço de conceder novos empréstimos por meio de juros mais baratos não deve ser o mesmo nas demais linhas, indicou Brasil. O banco tem usado os juros para expandir sua margem financeira, a principal fonte de receita de um banco, gerada a partir da diferença entre o custo para captar dinheiro e quanto o banco cobra em juros do cliente em um empréstimo.

No último trimestre, a margem financeira da Caixa foi de R$ 11,9 bilhões, alta de 8,8%, fruto de uma “gestão mais ativa das taxas de juros, mais em linha com [bancos] concorrentes”.

Brasil explica que a Caixa passou a fazer um esforço maior de captação de recursos no varejo e deixou grandes investidores em segundo plano para economizar. Ou seja, aumentou a distribuição de investimentos em CDBs para o pequeno investidor, que demanda uma remuneração menor na aplicação.

“Fizemos opção de captar mais no varejo, que tem custo mais barato. Além disso, focamos em operações com menor custo. Ao invés de captar por Letra Financeira, optamos pelo CDB”, disse.

Crédito Total

A carteira de crédito da Caixa cresceu 5% no terceiro trimestre, para R$ 699,6 bilhões. Em relação aos três meses anteriores, a alta foi mais modesta, de 1,2%.

Segundo o vice-presidente, o crédito ainda cresce na Caixa porque os empréstimos são de longo prazo e portanto, vencem em uma velocidade mais lenta que nos concorrentes. “As contratações caíram 17% neste ano”, argumentou Brasil.

Não houve crescimento nos empréstimos para pessoa física como um todo, ainda que as concessões no consignado (com desconto em folha) tenham subido 8%.

“Não temos percebido nos nossos indicadores uma deterioração na qualidade de crédito consignado. Fizemos uma opção de reduzir consignado para o setor privado, e ficamos mais focados no INSS e setor público. Os problemas encontrados são em algumas prefeituras com quem temos convênio, mas isso não evidencia deterioração da carteira”, disse Brasil.

O índice de inadimplência da Caixa, medido por operações com atraso acima de 90 dias, subiu de 3,20% no segundo trimestre para 3,48% nos três meses encerrados em setembro. No terceiro trimestre de 2015, o índice tinha sido de 3,26%.

A Caixa atribui o aumento dos atrasos no terceiro trimestre ao impacto de um “grupo econômico específico do setor de óleo e gás”, que analistas acreditam ser a Sete Brasil, empresa de sondas para o pré-sal que pediu recuperação judicial.

Apesar de controlada, a inadimplência não é uma guerra vencida, disse o executivo. “Estamos vencendo as batalhas”, explicou, sem dizer quando imagina que os calotes vão se reduzir.

Também é o risco de alta da inadimplência que faz o banco não trabalhar com juros mais baratos nos próximos meses.

“Estamos atentos ao movimento da concorrência, não queremos perder competitividade, mas vemos o momento ainda de forma prudencial. Qualquer medida de repasse de juros de forma muito acelerada pode não ser o mais adequado, dado as incertezas da economia”, afirmou.

A Caixa registrou lucro de R$ 998 milhões no período de julho a setembro, queda de 67% na comparação com o ano anterior. O resultado do terceiro trimestre do ano passado foi distorcido pela entrada de créditos tributário de quase R$ 2 bilhões, explicou o executivo.

Folhapress

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