22 de novembro de 2024
Desalentador • atualizado em 28/06/2022 às 08:43

Inflação afasta produtor de leite da atividade e produto pode ser encontrado a R$ 8 em Goiânia

Desestimulados com o mercado leiteiro em Goiás, produtores abandonam a produção e preço do leite dispara
Preço do leite em um hipermercado de Goiânia (Foto: Altair Tavares)
Preço do leite em um hipermercado de Goiânia (Foto: Altair Tavares)

O alto custo para produção de leite tem afastado produtores do mercado e feito consumidores passarem por apertos nos grandes centros. Em Goiânia, é possível encontrar o litro de leite vendido a R$ 7,49 em um hipermercado no centro da cidade. Em outro, R$ 7,99. O preço é o estopim de uma crise vivida pelo setor desde o começo da pandemia da Covid-19, que em alguns lugares beira os R$ 8 reais.

“Com o preço [praticado] muito baixo, vários produtores desanimaram e abandonaram a atividade. Deixaram de produzir leite para produzir grãos e arrendar terras, por exemplo. Isso gerou uma falta de produto”, explica Vinicius Corrêa, presidente da Comissão de Pecuária de Bovinocultura de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás em entrevista ao Diário de Goiás.

O empresário explica que o setor tem passado por dificuldades para manter seus custos. Desestimulados, os produtores migram para outros investimentos. Sem produção, a escassez acaba fazendo o preço do leite disparar. “Vários fatores influenciaram neste momento, mas o maior realmente é a falta de ânimo dos produtos que viram um negócio mais rentável e mais seguro porque o produtor de leite tem uma insegurança muito grande porque a gente entrega um produto a um preço e não sabe o preço que vamos receber. Muita gente abandonou a atividade”, explica.

“Antigamente muita gente abandonava o mercado, mas a vaca mudava de lugar. O produtor comprava a vaca de outro. Dessa vez, como o preço da arroba estava em alta, muito produtor matou muita vaca e isso gerou um déficit na produção. Tivemos também a seca no sul que prejudicou bastante a produção de comida”, comenta. O produtor diz que os custos que não “dobraram” o valor, “triplicaram”.

“Para você ter uma noção, a soja, em 2020, antes da pandemia, nós estavamos trabalhando com soja a 1200 reais, 1100 reais a tonelada. Hoje trabalhamos a 2800, você entendeu? Tudo que não dobrou, triplicou. Combustível, o óleo diesel era R$ 3,50, hoje é quase oito reais. Milho que é um alimento-base importante na alimentação do gado, era 28, 30 reais, hoje é 80, 90 reais. Todos os insumos alimentares e de limpeza para o gado, tudo dobrou ou triplicou. O aumento de custo é muito grande”, destacou.

Para ele, a crise ultrapassa fronteiras. Trata-se de um problema global e o consumidor terá de se reajustar e acostumar com a cesta básica sem o leite. “A gente vai passar por uns dois anos em uma crise muito grande por falta de produtos e preços altos. Tem muita demanda e o que eu tenho falado para o consumidor é que o consumo vai diminuir. O litro de leite a oito reais é muito caro mas o consumidor vai ter que se adequar a isso. Tudo subiu. Arroz, feijão, subiu. Tudo dobrou. O leite até tava num patamar mais baixo, mas era questão de tempo para subir por conta do déficit. Como o leite é uma cultura que demora para você formar plantel, nascer a bezerrinha, crescer. O preço não vai ficar tão alto, vai estabelecer a seis reais. Menos de cinco reais, não vai ter”, pontua.


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