19 de dezembro de 2024
Cidades • atualizado em 13/02/2020 às 00:33

Quadrilha de travestis é presa por suspeita de homicídio

Fotos: Jota Eurípedes
Fotos: Jota Eurípedes

 

A Operação “Divas” foi deflagrada na manhã da última terça-feira (20) que tinha como objetivo desarticular uma quadrilha de travestis suspeita de praticar homicídios, exploração sexual e de menores, extorsão, exercício ilegal da medicina e vários outros crimes. Sete pessoas foram presas em flagrante na operação destinada a cumprir mandados de prisão temporária em três casas denominadas de “pensão” e que serviam à prática delituosa. Um total de 24 pessoas foram ouvidas pelos policiais. Quadrilha mantinha dezenas de pessoas em situação semelhante ao de trabalho escravo. A prisão aconteceu nos setores São Francisco, no Celina Park e no Parque Industrial João Brás, na região Oeste de Goiânia.

De acordo com o delegado Thiago Martiniano, da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), que coordenou as investigações realizadas por uma equipe de 52 policiais, a associação criminosa pode estar envolvida em cinco assassinatos naquela região, mas, de imediato, dois crimes ocorridos este ano foram solucionados com as prisões da Operação “Divas”. As sete pessoas presas e autuadas em flagrante vão ser transferidas para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde aguardarão julgamento.

O grupo era chefiado por Gabriela Vontay (Gabriel Gomes da Silva), 31 anos, que comandava, pelo menos, três casas e explorava mais de 40 pessoas mediante extorsão, ameaças e constrangimentos. Ela também intermediava aplicação de silicone industrial em travestis. Foi responsável direta por um dos homicídios, conforme declarou o coordenador da operação.

Além de Gabriela Vontay, foram presos nesta manhã Michelle Brasil (José Ilson Araujo dos Santos), 26 anos; Jackeline Safyra (Jamerson Araújo de Jesus), de 34 anos; Rebecka Fox (Sandro Ranali Júnior), de 29 anos; Emily (Celiomar de Sousa Vieira), de 44 anos; Lara (Deividy Robert de Oliveira), de 25 anos; e Sebastião Batista Sobrinho, o Tiãozinho, de 55 anos, que era responsável pela logística da associação criminosa. Uma menor de idade foi encaminhada ao Conselho Tutelar. Segundo o delegado Thiago Martiniano, outra integrante da organização, Kélyta Maia, está foragida no estado de Tocantins, mas já tem mandado de prisão em aberto.

Com eles, os policiais encontraram frascos de silicone industrial usados para aplicação feita de forma clandestina e ilegal em outras travestis, seringas, porretes com pregos usados para intimidar, um revólver calibre 38, munições do mesmo calibre, porções de drogas, facões e outros objetos. 

Assassinatos

travestis 1Segundo informou o delegado Thiago Martiniano, durante coletiva na DIH na tarde desta terça-feira, a quadrilha foi desmantelada a partir das investigações de dois assassinatos ocorridos neste ano. O primeiro deles, em abril, aconteceu no Parque Industrial João Brás, quando Nicoly, ou Wandson Pereira de Souza, morreu de embolia pulmonar após aplicação de silicone industrial feita pela própria Gabriela Vontay. A vítima agonizou durante toda a noite sem receber socorro e morreu horas depois. Segundo Thiago Martiniano, depois dessa aplicação, Gabriela deixou de fazer esse tipo de procedimento, terceirizando as aplicações que passaram a ser feitas por Emily, de 44 anos.

O outro homicídio ocorreu no dia 22 de julho, no Bairro São Francisco. Ágata, ou Ademilson Dias da Costa, foi assassinada a tiros pela suspeita Kélyta Maia, a mando de Gabriela Vontay, por disputa de território de exploração sexual.

Outros crimes

As investigações feitas pela DIH comprovam que a quadrilha de travestis chefiada por Gabriela Vontay mantinha dezenas de pessoas em situação semelhante ao do trabalho escravo. Nas casas ou “pensões” comandadas por ela, era cobrada a diária de R$ 50 de cada travesti que quisesse morar e fazer ponto na área ou de R$ 30 para usar a rua ou a “pista”, como dizem. As dívidas eram cobradas com intimidações, ameaças e violência.

Na intermediação das aplicações de silicone, Gabriela pagava o valor total à Emily, até R$ 6 mil por aplicação e, depois, cobrava de forma parcelada das travestis que, quase sempre, se submetiam às imposições da líder por não terem o dinheiro para o pagamento da dívida. “Era uma condição semelhante à de escravo”, afirmou o delegado Thiago Martiniano. Segundo ele, grande parte das travestis exploradas pela quadrilha era de Recife, Santa Catarina, Fortaleza e outras regiões do país.  

Gabriela mantinha gerentes nas casas para cobrar das travestis as diárias e forçá-las a irem para as ruas “trabalhar”. Sebastião, motorista de taxi que conhecia bem a região, era o responsável pela logística da organização criminosa, transportando-as e fazendo as compras, inclusive de munições e insumos para as aplicações de silicone industrial nas travestis. “O grupo era bem organizado onde cada um tinha bem definida a sua atribuição”, destacou o delegado.

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