25 de dezembro de 2024
Política

PT E PMDB: uma aliança cheia de “ruídos”

Tudo caminha para a unidade do PMDB e do PT para a disputa pela sucessão estadual em 2014. Mas, a definição do nome que encabeçará a chapa expõe problemas de relacionamento entre os dois partidos. A úlitma pesquisa SERPES, divulgada pelo Jornal o Popular, serviu para animar tanto o PT quanto o PMDB. Os partidários de Iris Rezende ficaram animados, já os petistas ficaram satisfeitos com desempenho de Antonio Gomide (prefeito de Anápolis). Hoje, a aliança vive momentos de tensão, como explica a reportagem de Daniel Gondim, no Jornal Tribuna do Planalto.

“PT e PMDB unidos, mas com arestas
Aliança entre petistas e peemedebistas está consolidada, mas discussão sobre nomes para 2014 continua a provocar ruídos na relação
Daniel Gondim – Repórter de Política

A aliança entre PT e PMDB está firme e deve ser estendida para as eleiçõanes de 2014. Isso, porém, não impede que os dois lados continuem se estranhando por causa das articulações para a cabeça da chapa majoritária para o governo. Os peemedebistas não querem abrir mão, enquanto os petistas reclamam da imposição dos aliados e continuam a tentar viabilizar uma candidatura.

Os atritos podem ser sentidos em declarações de algumas lideranças regionais dos partidos. “Se o PT lançar candidato, dificilmente estaremos juntos em 2014”, analisa o ex-secretário-geral do PMDB, Kid Neto. “Não temos nenhum problema em apoiar candidato de outro partido e esperamos essa compreensão e reciprocidade do PMDB“, afirma o vice-presidente do PT em Goiás, Ceser Donisete, que deverá ser eleito presidente nas eleições internas de novembro.

As duas declarações são o retrato fiel dos problemas enfrentados pela aliança. Além disso, outros fatores também começam a gerar incômodo. Um deles é o mau momento da gestão do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT). Eleito com apoio do PMDB, o petista ainda não conseguiu deslanchar a administração, o que já começa a incomodar os peemedebistas, que temem que os desgastes respinguem no partido, principalmente em 2014.

Até o plano nacional contribuiu para que julho fosse um mês tenso na relação. Isso porque a executiva nacional do PMDB elaborou um documento pedindo redução no número de ministérios. Presidente da Câ¬mara dos Deputados, Hen¬rique Alves (PMDB) foi um dos principais defensores da ideia, que até agora não foi atendida, mas segue causando disputas entre petistas e peemedebistas.

Mesmo assim, os dois lados garantem que não há possibilidade de ruptura. Tem que ter uma estratégia de trabalho, mas, infelizmente, alguns não percebem isso. No afã de se fortalecer, acabam criando dificuldades, mas isso é normal. Isso porém, não coloca em nenhum momento questionamento sobre a aliança, ela está definida”, afirma o deputado federal Rubens Otoni (PT), em entrevista a Tribuna (leia a entrevista completa nas páginas 4 e 5).

Reclamação
As reclamações dos dois lados não são de hoje. No en¬tanto, a divulgação da pesquisa Serpes/O Popular, feita no início de julho, serviu para esquentar a discussão em torno de nomes para a disputa do governo e, consequentemente, aumentou as tensões entre os dois grupos. De um lado, os petistas se animaram com os resultados do prefeito de Anápolis, Antônio Go¬mide, enquanto os peemedebistas ficaram contentes com o desempenho do ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende.

A partir disso, começou, nos bastidores, uma disputa sobre a preferência dos partidos para ter a cabeça de chapa. No encontro do PMDB em Catalão, realizado no dia 27 de julho, o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB) se colocou no processo de sucessão para o governo ao afirmar que não podia se ausentar das eleições.

A fala do ex-prefeito foi vista como uma sinalização de sua pré-candidatura, além de uma resposta à movimentação de Júnior do Friboi pelo interior. Prova disso é que Iris se reuniu um dia antes com a cúpula petista – dentre os presentes, Rubens Otoni, Antônio Gomide e Paulo Garcia – em seu apartamento. Dentre os assuntos abordados, um deles foi justamente que, em caso de uma candidatura do PMDB, o nome a ser apoiado seria justamente o do ex-prefeito de Goiânia. Mesmo assim, o PT defende que a definição do nome fique para 2014.

À Tribuna, Rubens Otoni falou sobre a visita a Iris Rezende. “A conversa que tivemos com o ex-governador Iris Rezende faz parte de um roteiro de diálogos que também compreende outras legendas. O que demonstramos é que, na nossa visão, a oposição unida tem todas as condições de ganhar a eleição. O que cria um ruído, às vezes, não é a dúvida sobre a aliança, mas o modo como se coloca que será feita a aliança”, explica o petista.
Os ruídos a que Rubens se refere são justamente causados pela discussão em torno de nomes. Por causa disso, os dois lados decidiram se reunir e deixar a definição do candidato só para 2014. O problema é que as articulações continuam sendo feitas, o que deve gerar ainda mais desgastes, principalmente com a proximidade das convenções partidárias.

Movimentação
Apontado como o principal nome do PT para o governo, o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, está constantemente no interior do Estado. Desde o começo do ano, o petista esteve nos 12 encontros regionais promovidos pelo partido, divulgando as transformações promovidas por ele no município. Toda essa atividade tem sido interpretada como uma movimentação de quem quer ser candidato ao governo.

Não é só isso, porém, o que dá sinais da intenção de Gomide de ser candidato em 2014. Além da movimentação pelo interior, o petista já estaria articulando com outros interessados em apoiá-lo ao governo. Um dos alvos do prefeito de Anápolis é o PTB, presidido em Goiás pelo deputado federal Jovair Arantes, que, na sexta, 2, o deixou claro que pode sair da base aliada do governador Marconi Perillo (PSDB).

“Nós fazemos parte de uma aliança e estamos ajudando a governar Goiás. Temos secretarias no governo, mas se o governador não for candidato, como ele diz que não será, essa discussão estará zerada”, disse o petebista à coluna Giro, do jornal O Popular.

O relacionamento entre Gomide e Jovair é antigo, já que ambos foram colegas de faculdade em Anápolis, onde estudaram odontologia. Além disso, há também proximidade política, já que o PTB é aliado de Antônio na prefeitura anapolina. O ve¬rea¬dor Frei Valdair (PTB), líder do prefeito na Câmara Muni¬cipal, tem pretensões de ser o candidato de Gomide à sua sucessão, em 2016. O projeto é estimulado por Jovair Arantes.

Por fim, o PTB integra a base da presidente Dilma Rousseff (PT) no âmbito nacional, o que aproxima ainda mais Jovair de Gomide e do próprio PT. Isso porque há uma indicação para que, nos Estados, os petistas busquem alianças com siglas que integram a base de sustentação da presidente.

Assim, caso consiga mesmo atrair Jovair para seu projeto, Gomide teria um trunfo a mais em defesa de seu nome. Em comparação com outros pré-candidatos, por exemplo, o petista teria um argumento de ter trazido um partido, à priori adversário, para a aliança, ao mesmo tempo em que enfraqueceu a base governista.

A aproximação com Jovair faz parte de um trabalho interno do PT, que tem como objetivo fortalecer ainda mais a ideia de uma candidatura de Gomide. Em reuniões internas do partido, ações para o fortalecimento do prefeito tem sido uma das pautas principais. Além disso, em novembro, o partido vai passar por eleições para o diretório, e um dos objetivos da nova direção é justamente dar suporte para essa candidatura.

Paço
A gestão do prefeito Paulo Garcia provoca descontentamento entre os peemedebistas. Reeleito no ano passado, o petista ainda não conseguiu deslanchar a administração e vem sofrendo críticas. No PMDB, por exemplo, há uma avaliação de que houve uma queda na qualidade da administração de Paulo em relação a de Iris Rezende, o que acaba por prejudicar o legado do ex-prefeito.

Paulo, porém, pode até ser considerado como um trunfo do PMDB. Por sua ligação com Iris Rezende, o petista é ferrenho defensor do peemedebista, que o bancou na campanha municipal de 2012. Além disso, o prefeito de Goiânia serviria como um “limitador” para as pretensões petistas de ter um candidato ao governo, justamente por causa dessa proximidade.

Em reunião, petistas e peemedebistas afinam discurso
Depois de se reunir com ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB) na semana passada, dirigentes do PT estiveram na quinta, 1o, na sede do diretório regional do PMDB para um encontro com lideranças peemedebistas. O objetivo do encontro foi definir estratégias para o bloco oposicionista, mas também aparar arestas depois dos recentes bate-bocas públicos entre membros das duas siglas.

Pelo PMDB, participaram da reunião o presidente do diretório regional, o deputado estadual Samuel Belchior, além de seus colegas de Assembleia, Bruno Peixoto e José Essado, e o vice-prefeito de Goiânia, Age¬nor Mariano. Do PT, estiveram presentes o presidente do diretório regional, Valdi Camárcio, o deputado federal Rubens Otoni, o deputado estadual Luís Cézar Bueno e o secretario de Gover¬no da prefeitura da capital, Os¬mar Magalhães.
O encontro durou mais de duas horas. Petistas e peemedebistas discutiram temas como a necessidade de atrair mais partidos para a aliança, além de deixar clara a ideia de que cada sigla terá condições de fortalecer os respectivos pré-candidatos. Isso, porém, terá de ser feito com cuidado, para evitar novos desgastes na relação.
“Então o acordo é: PT e PMDB não discutem nomes a partir de agora. Podem nos ques¬tionar que não vamos entrar nesse assunto. A discussão agora é manter o bom senso, que é manter a aliança e preparar os projetos”, declarou Sa¬muel Belchior, ao sair da reunião.

A conclusão a que o PT chegou após a reunião é bem parecida com a do peemedebista. “Não existe hipótese de estarmos separados no próximo ano, e isso ficou definido aqui. Viemos visitar amigos, e propusemos um ao outro cuidar para que a aliança fique cada vez mais forte”, afirmou o presidente Valdi Camárcio.

Um dos principais assuntos na reunião de quinta foi a possibilidade do PMDB abrir mão da cabeça de chapa. Com muitos peemedebistas afirmando categoricamente sobre a impossibilidade disso acontecer, os petistas têm receio de, mesmo com um candidato em condições melhores, não conseguirem emplacar o nome.

Um peemedebista que esteve na reunião, porém, é taxativo ao afirmar que o partido vai respeitar o acordo. “Não tem condições de o partido costurar um acordo e chegar lá na frente e desrespeitar. Então, se não tiver candidato, o PMDB tem que abrir mão mesmo. Pode até espernear, mas tem que ir junto”, afirma. (D.G.)”

 


Leia mais sobre: Política