25 de novembro de 2024
Destaque • atualizado em 18/11/2021 às 18:11

Prova com “cara do governo”: Em meio à polêmicas, professores de redação dão dicas para o Enem

Qual a "cara de Bolsonaro" para a prova do Enem?
Qual a "cara de Bolsonaro" para a prova do Enem?

Na esteira das polêmicas de interferências do governo federal no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que organiza e é responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), professores e alunos ficam preocupados em torno da realização da prova. Afinal de contas, até que ponto vão tais eventuais alterações? O que seria uma prova com a “cara do governo”, como adiantou o presidente da República, Jair Bolsonaro?

Apesar de o ministro da Educação, Milton Ribeiro negar eventuais mudanças, a crise acentuada pode promover preocupação e ansiedade ainda maior no período prévio à realização das provas. ”Já é natural o aluno ficar ansioso, esperando a prova e tentando se concentrar. E estas informações desencontradas não ajudam no psicológico neste momento”, explica o diretor do Colégio Átrio em Goiânia, Paulo Perez.

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Segundo Paulo Perez, os professores do colégio têm orientado os estudantes quanto às provas do Enem 2021. Ele explica que as avaliações são técnicas, com regras para a composição da prova para manter a nota, o padrão e o grau de dificuldade.

”Nós tentamos reforçar com o aluno as regras de elaboração da prova do Enem. Para uma questão virar questão para a prova do Enem, leva um período de em média um ano e meio a dois anos de elaboração. Ela é elaborada, pretextata, calibrada , ou seja, leva dois anos”, explica o diretor.

Prova com ‘cara de Bolsonaro’

Passados quase três anos de governo Bolsonaro, Paulo Perez afirma que já deu tempo de observar possíveis mudanças de acordo com uma prova “com a cara Bolsonaro”., de forma que já dá para preparar o aluno a se deparar com questões que antes não se via. ”Tecnicamente dá para entender a fala dele, levando em conta o processo de elaboração da prova do Enem que agora já tem um período passado dois anos, deu para montar uma questão com olhar do governo”, explica.

”As provas do Enem até 2019, eram abordadas questões sobre Getúlio Vargas, ditadura militar, ou seja, temas muito relevantes nas provas de humanidades. Já faz dois anos que estes tópicos não são abordados nas provas do Enem”, afirma. De acordo com Paulo, fazendo este estudo mais técnico, tem como orientar os alunos para acalmarem e conseguirem concentrar realmente no foco da preparação para as provas do Enem.

Para tranquilizar os alunos, Paulo Perez explica que as regras para as provas do Enem não mudam. A matriz continua a mesma, a elaboração das questões não mudou também, ou seja, continua como sempre foi. De acordo com ele, o que pode provavelmente ter mudado foi o contexto de onde aquelas questões foram criadas, de qual cenário. ”Mas a regra para a elaboração da questão não mudou”, afirma.

Que cara é essa?

Já o professor e coordenador do curso de redação da Universidade Alfa, Augusto Narikawa questiona sobre o que seria “a cara do governo Bolsonaro” diante de possíveis interferências junto à prova. “É bem preocupante porque nós passamos o ano inteiro explicando para os alunos todos os possíveis temas, os tipos de assuntos que podem cair. Estamos dentro de uma democracia e os assuntos deveriam ser de competência dos professores que fazem essas provas”, pondera.

Narikawa indaga. “Que cara é essa? A pergunta que sempre vem é “que cara é essa dessa prova?”. “Não vai cair nenhuma questão polêmica?”, essa é outra pergunta. Se o Governo for interferir na prova não faz sentido ter um exame deste tamanho e dessa proporção para algo que foi verificado, avalizado. É muito preocupante e muito sério”, destaca.

Augusto pondera que o exame do Enem deve alcançar os mais variados temas e não ser cerceado à ideologia específica de um governo vigente. “A prova deve ser livre, ser tranquila e cair em qualquer tipo de assunto que elas podem conversar. Se você faz um cerceamento da liberdade de escrita, você cerceia a liberdade constitucional que é de livre acesso a informação. Todos os assuntos dentro da democracia devem ser discutidos e colocados em pauta. E a prova do Enem era uma prova em que as pessoas conversavam.”

Orientação ao aluno para o Enem 2021

Para se sair bem na prova do Enem, é importante o aluno se atentar a algumas dicas. O diretor explica que é essencial o estudante se atentar ao enunciado da questão, interpretar o enunciado e apontar uma solução para determinado problema. “Mais importante que os temas é a estrutura da redação e do texto. Quem está preparado para prova do Enem, o tema não é o foco mais importante”, explica. 

Uma dica importante de Paulo é o aluno estudar as provas das edições anteriores do Enem. ”A prova do Enem não teve sua raiz alterada. Toda regra estrutural para a elaboração da prova se mantém”, explica. “Quem está preparado para a prova do Enem, o tema não é o foco mais importante. Quem sabe as competências cobradas e as regras de cada uma delas, tem o seu texto já estruturado, o tema não é o foco mais importante. Mas os professores de redação já estão antenados aos grandes temas de forma nacional e outra vez tentando ler as ações do próprio governo.”

“A grande ideia do tema: o candidato do Enem é convocado para resolver um problema de tamanho nacional e internacional. Ele deve entender e dominar a linguagem do fenômeno, a causa e consequência do problema caso não seja resolvido é que a sua conclusão, na competência cinco, o candidato tem de fazer uma proposta de intervenção. O caminho que o candidato vai combater e resolver o problema”, pondera Paulo que dá pitacos sobre possíveis temas. “Homeschooling por conta da pandemia e o sistema carcerário brasileiro podem ser fortes candidatos”, pontua.

Augusto diz que orienta os alunos de seus cursos a ficarem tranquilos agora e não se depararem com assuntos polêmicos. “Eu sempre digo para os meninos ficarem tranquilos e não foquem em temas polêmicos, porque aparentemente esses temas não irão cair. Mas é de extrema importância entender o que eles estão fazendo e entender onde eles estão pisando”, conclui.


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