23 de dezembro de 2024
Mundo • atualizado em 13/02/2020 às 10:10

Protestos de domingo deixaram 10 mortos no Irã, diz TV estatal

Dez pessoas morreram durante protestos de rua no Irã no domingo (31), informou a televisão estatal iraniana nesta segunda-feira (1º) sem dar detalhes.

“Nos eventos da noite passada, infelizmente, um total de cerca de 10 pessoas foram mortas em várias cidades”, disse, enquanto mostrava danos causados por manifestações anti-governo.

O canal disse que as forças de segurança repeliram manifestantes armados que tentaram assumir postos da polícia e bases militares.

“Alguns manifestantes armados tentaram assumir estações de polícia e bases militares, mas enfrentaram séria resistência das forças de segurança”, afirmou a televisão, sem dizer onde os ataques ocorreram.

Duas pessoas foram mortas a tiros em Izeh (a 455 quilômetros da capital Teerã) no domingo e outras ficaram feridas, afirmou a agência de notícias “ILNA” nesta segunda citando um membro do parlamento. Não ficou claro se os dois mortos faziam parte dos 10 citados pela televisão estatal.

“Eu não sei se o tiroteio de ontem [domingo] foi realizado por participantes do protesto ou pela polícia, a questão está sendo investigada”, disse o representante Hedayatollah Khademi.

O governador regional Mostafa Samali afirmou, no entanto, à agência de notícias Fars que apenas uma pessoa havia sido morta, o suposto atirador foi preso e o incidente não estava relacionado com as manifestações.

Há relatos de protestos também nas cidades ocidentais de Sanandaj e Kermanshah, bem como em Chabahar, no sudeste, e Ilam, no sudoeste.

No domingo, o Irã bloqueou o acesso ao Instagram e ao popular aplicativo de mensagens Telegram, usado pelos ativistas para se organizarem. As autoridades acusam grupos “contrarrevolucionários” estabelecidos fora do país de recorrer às redes sociais, especialmente o Telegram, para convocar a população a ir às ruas e a usar coquetéis molotov e armas de fogo.

A onda de protestos foi iniciada na última quarta-feira (27) em Mashhad, a segunda cidade mais populosa do país, e se espalhou por todo o Irã. Desde então, mais de 80 pessoas já foram detidas.

É a maior manifestação desde 2009, quando os iranianos protestaram por meses contra os resultados das eleições presidenciais.

Na capital Teerã, a polícia disparou canhões de água contra os manifestantes na praça Ferdowsi. Alguns gritavam “Vida longa ao Xá Reza”.

Duas pessoas foram mortas a tiros em confrontos na cidade de Dorud no sábado (30) à noite, quando os manifestantes atacaram bancos e edifícios do governo e queimaram uma moto da polícia.

O Irã é um importante produtor de petróleo da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), mas as frustrações cresceram internamente com a nação profundamente envolvida na Síria e no Iraque, como parte de uma batalha por influência com a rival Arábia Saudita.

Quem se opõe ao governo critica o desemprego, a escassez de recursos, o alto custo de vida e o governo “ditador”. Já quem é pró Rowhani bradava contra os EUA e responsabiliza as sanções internacionais impostas ao Irã pelas mazelas enfrentadas pela população.

Alguns manifestantes convocaram o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, a renunciar e se posicionar contra um governo que descreveram como de ladrões.

Outros vídeos mostravam pessoas em Teerã entoando “Abaixo o ditador”, em uma aparente referência a Khamenei. Manifestantes em Khorramabad, no oeste do Irã, gritavam “Khamenei, vergonha de você, deixe o país sozinho”.

Até agora, Khamenei não se pronunciou sobre os protestos.

Já Shirin Ebadi, vencedora do Nobel da Paz, afirmou neste domingo, em entrevista ao jornal “La Repubblica”, que as manifestações são apenas “o início de um grande movimento”.

“Pagarão o preço”

O presidente iraniano Hassan Rowhani reconheceu o descontentamento da população, mas o governo avisou que não hesitaria em punir quem violasse as leis.

Rowhani disse, em reunião com seu gabinete, segunda a agência de notícias Mehr, que os iranianos têm o direito de protestar e de criticar o governo, mas que suas ações não podem levar à violência.

“Aqueles que destroem a propriedade pública, criam desordem e agem em ilegalidade devem responder por suas ações e pagar o preço, agiremos contra a violência e contra aqueles que provocam medo e terror”, disse o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou o governo iraniano no domingo. “O Irã, o patrocinador número um do terror, com inúmeras violações dos direitos humanos em horas, agora bloqueou a internet para que os manifestantes pacíficos não possam se comunicar. Não é bom”, afirmou Trump.

O governo do Irã, que tinha proibido as TVs de exibirem os protestos, contra-atacou. O ministro do Exterior, Bahram Ghasemi, disse que “o povo iraniano não dá crédito às observações enganosas e oportunistas de funcionários dos EUA ou do sr. Trump”.

Rowhani também rebateu: “Aqueles que chamam os iranianos de terroristas não têm porquê simpatizar com nossa nação”.

Também nesta segunda, o ministro da inteligência de Israel incentivou os protestos, mas disse que a política do país não se envolveria em assuntos internos do Irã.

Analistas dizem que os líderes iranianos acreditam que podem contar com o apoio de gerações da população participantes da revolução iraniana de 1979, que teriam um compromisso ideológico com o país e reconheceriam ganhos econômicos desde então.

A força do governo Rowhani foi exibida nas manifestações favoráveis de sábado, que reuniram 4.000 pessoas em Teerã. (Folhapress)

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