No primeiro semestre de 2018, o Conselho Nacional de Educação (CNE) propôs algumas mudanças nas diretrizes curriculares das graduações de Engenharia do país. A ideia é tornar os cursos mais atrativos e com maior número de atividades práticas, organização mais flexível e focada em inovação. De acordo com o CNE, com os dois primeiros anos dos cursos focados em disciplinas comuns a todas as engenharias, como cálculo e física, o aluno se sente desmotivado e, com isso, aumenta a evasão.
A proposta, que foi elaborada com a ajuda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abrenge), está preocupando as comunidades acadêmica, científica, tecnológica e de inovação, representadas por 18 entidades nacionais, entre elas, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e Academia Nacional de Engenharia (ANE).
Diante desse fato, as entidades solicitaram ao CNE através de uma carta aberta a realização de audiências públicas para que a academia, as associações na área de Engenharia e o Sistema CREA/CONFEA possam aperfeiçoar a proposta, de maneira que as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Engenharia realmente possam propiciar o desenvolvimento nacional através de gerações de engenheiros inovadores e líderes de uma nova etapa da indústria brasileira.
Em um parágrafo da carta, foi criticado a possibilidade de se aprovar um curso de Engenharia sem disciplinas de matemática, física, química, economia e ciências do ambiente: “Isso constitui um grande risco para a sociedade, por possibilitar a criação de cursos que não possuam conteúdos fundamentais à formação do engenheiro, apenas utilizando o “label” Engenharia de maneira imprópria para atrair alunos desinformados e imputar danos irreparáveis à sociedade”, alerta a carta.
De acordo com Paulo Alcântara Gomes, coordenador do grupo de Estudo sobre Ensino da Engenharia da Academia Nacional de Engenharia (ANE), a decisão de escrever a carta foi tomada em 19 de setembro, em uma reunião em que participaram diretores de escolas de engenharia e representantes de associações como a Academia Nacional de Engenharia, o Clube de Engenharia e o Crea.
Paulo acredita que a nova proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais suprime os conteúdos mínimos para as matérias que constituem a estrutura curricular dos cursos de engenharia e formam as disciplinas dessa estrutura. “As novas diretrizes podem levar à criação de cursos que não possuam os requisitos para funcionamento e impedem a construção adequada dos núcleos de formação básica, formação profissional geral e formação profissional específicas em cada curso”, pontuou.
Para que os estudantes de Engenharia saiam das universidades preparados para o mercado de trabalho, Paulo defende algumas medidas. O especialista considera imprescindível uma sólida preparação nas disciplinas de formação básica. “Além disso, é importante que os estudantes aprendam a trabalhar em equipe e que sejam preparados para identificar os problemas e buscar soluções. A oferta de disciplinas deve contemplar a formação transdisciplinar, devendo ainda gerar nos futuros engenheiros a cultura do empreendedorismo e da educação continuada”, concluiu.
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