20 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:42

Profissional, hotel Emiliano mantém discrição sobre morte de dono

Não foi uma noite comum no elegante hotel Emiliano, na rua Oscar Freire, em São Paulo. A equipe de televisão posicionada na calçada até tarde evidenciava isso. Da porta para dentro, no entanto, os sinais se enfraqueciam.

O coeso (e intenso) treinamento da equipe tornava as más notícias desta quinta-feira (19) algo menor, a não ser discutido. No avião que caiu em Paraty (RJ) estava o proprietário do hotel, Carlos Alberto Filgueiras.

Naquele hotel-butique, de poucos quartos (56) e muitos funcionários (são, em média, quatro para cada hóspede), a orientação parecia ser a de manter a hospitalidade. Sorrir com simpatia, deixar elegantemente o assunto minguar, caso surgisse na conversa esse assunto.

A mordoma, funcionária mais próxima de quem está no hotel, se permite lamentar o ocorrido enquanto apresenta o quarto. “É um dia muito triste, mas tenho certeza de que ele queria todo mundo feliz”, diz com voz embargada. A suíte luxo, a mais simples delas, tem diárias a R$ 2.130: uma confortável cama adornada com enorme pilha de travesseiros e envolta em lençóis de algodão egípcio, gavetas refrigeradas no lugar de um frigobar e um vaso sanitário aquecido e que funciona como bidê, com controle de pressão da água.

Vítimas do acidente

O empresário, que tinha seu filho Gustavo Filgueiras como principal administrador do hotel, era muito presente, todos dizem. “Cheio de energia”, disse o chef José Barattino, que esteve na cozinha do Emiliano por oito anos. 

“Exigente e generoso”, disse Laurent Suaudeau, de quem foi cliente. “Só coração, um guia e gênio do serviço”, disse Paula Simonsen, relações públicas do hotel.

E esse serviço, discreto como pode ser. “A operação do restaurante tem que continuar. O que fazemos há 15 anos seguiremos fazendo”, diz o maître durante o jantar. No cardápio do restaurante, um “robalo de Paraty” evidencia a relação da família com o lugar.

O avião do acidente era muito usado pelo empresário, inclusive para trazer peixe fresco, diretamente do mar, para a cozinha do hotel. Filgueiras conhecia bem a região, que era um dizia ser um “homem do mar”. E era exigente com a segurança daquele avião. Perguntava regularmente sobre sua documentação e exigia da equipe cursos de reciclagem.

Outras marcas do empresário são percebidas por ali, a bossa nova cantada por Frank Sinatra (ele participava de seleções de música e dois CDs à venda na recepção têm canções escolhidas por ele), no design do lobby (como nas cadeiras de cordas dos irmãos Campana), na discrição dos funcionários (ia regularmente conferir o atendimento).

Estava feliz com a inauguração de mais uma unidade no Rio de Janeiro, satisfeito também com a comida do restaurante, clássica e com foco em bons ingredientes, como era seu gosto.

No saguão, na noite do acidente, conversas baixinhas, apertos de mãos longos e alguns abraços retomam o que aconteceu naquela tarde. E uma hóspede que chega tarde pergunta sobre a perda. “Acontecem muitos acidentes nessa região do Rio, mas estamos tentando digerir”, responde a funcionária. Ao ser perguntada sobre como ficaria o hotel, ela diz que o filho Gustavo já cuida do negócio. “Ah, ainda bem”, responde a hóspede que segue para o quarto.

(Folhapress)

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