O procurador Ângelo Goulart Villela, que chegou a ser preso em decorrência dos relatos de Joesley Batista, da JBS, está disposto a abrir a “caixa preta das delações” na gestão de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República, encerrada domingo (17).
Em conversas com interlocutores, Villela relatou interesse em expor publicamente os métodos, segundo ele, de pressão da equipe de Janot para obter relatos contra alvos específicos.
Procurado pela reportagem, Villela não quis se manifestar. O seu advogado, Gustavo Badaró, afirmou acreditar que seu cliente pretenda falar o que entende como a verdade sobre do caso.
O procurador, que está afastado, é acusado de ter recebido propina para dar informações sigilosas de investigações ao grupo JBS.
Em entrevista à Folha de S.Paulo na última segunda (18), ele afirmou que Janot “tinha pressa” para denunciar Michel Temer e barrar a indicação de Raquel Dodge para a PGR.
Na quinta (21) a CPI da JBS aprovou a convocação de Villela e do ex-procurador Marcello Miller, que deixou o Ministério Público para trabalhar no escritório de advocacia Trench Rossi Watanabe, contratado pela empresa.
Villela será o primeiro a ser ouvido e seu depoimento está previsto para a próxima terça-feira, dia 26.
Como vários parlamentares foram denunciados por Janot, a expectativa é que a CPI dê espaço a depoimentos críticos ao ex-procurador-geral da República.
Janot passou a sofrer desgaste com as revelações de que Marcello Miller atuava em favor da J&F (holding detentora da JBS, entre outras empresas) antes de deixar o Ministério Público.
A Polícia Federal concluiu que a equipe de Janot tinha conhecimento da atuação “indireta” de Miller nas negociações de colaboração de Joesley e outros executivos da J&F e aponta indícios de que ele tenha cometido o crime de corrupção passiva.
Vilella disse, em conversas, que, se Miller for convocado a relatar o “modus operandi” de Janot, será devastador para o ex-procurador-geral.
Ele menciona supostos mecanismos de vazamento de informações sobre negociações de delação como forma de pressionar colaboradores a direcionar depoimentos.
Villela teria disposição ainda, segundo um interlocutor, de relatar a existência de uma linha direta entre o gabinete de Janot e o do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF.
Segundo a reportagem apurou, é uma referência a Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Janot, casado com uma assessora de Fachin.
Villela e Pelella eram próximos. Dias antes de ser preso, a família de Villela almoçou na casa de Pelella, que agora pode ser investigado.
(FOLHA PRESS)
Leia mais sobre: Brasil