20 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 09:50

Procurador diz que Janot agiu ‘com o fígado’ no caso JBS

Rodrigo Janot (Foto: EBC)
Rodrigo Janot (Foto: EBC)

O procurador da República Ângelo Goulart Villela, 37, disse na manhã desta terça-feira (17) que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot “agiu com o fígado” no caso da JBS.

Em depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), Vilella chamou Janot de ‘arqueiro inconsequente’.

Vilella repetiu nesta terça (17) declarações que deu à Folha de S.Paulo em entrevista em setembro. Para ele, todo o processo de colaboração premiada foi uma trama do ex-procurador-geral com o objetivo de derrubar o presidente Michel Temer e impedir a nomeação de Raquel Dodge para substituí-lo no comando da PGR.

Nesta terça (17), complementou dizendo que o ex-procurador-geral “agiu com o fígado em relação a mim” por ter se sentido traído ao achar que havia “bandeado” para o lado de Dodge.

Alvo da Operação Patmos, de 18 de maio, Vilella ficou preso por 76 dias e foi denunciado por corrupção passiva, violação de sigilo funcional e obstrução de Justiça.

O procurador foi gravado pelo advogado e delator da JBS, Francisco Assis e Silva, em um jantar, no início de maio, na casa do advogado Willer Tomaz, também denunciado pelos mesmos crimes de Vilella.

Em delação, o empresário Joesley Batista teria recebido uma “ajuda de custo” de R$ 50 mil por mês para vazar informações, com o advogado como intermediário. Depois, porém, afirmou não saber se o dinheiro chegava ao procurador.

O procurador admite ter mandado um áudio de uma reunião fechada do Ministério Público, mas nega ter recebido propina e diz que tudo que fez foi para ter sucesso na negociação de uma delação com a JBS.

Vilella sugeriu ainda que o ex-procurador-geral fez uma espécie de cena quando pediu a prisão do ex-procurador Marcello Miller, no último dia de sua gestão.

Miller virou pivô de uma crise na delação da JBS, que culminou na suspensão de benefícios para os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud.

O ex-procurador é suspeito de ter atuado na defesa da empresa quando ainda tinha cargo no MPF, o que, para Vilella, era de conhecimento de Janot.

“A vontade de Janot de prender Miller era tão legítima quanto nota de R$ 3”, disse em depoimento à CPMI. A prisão de Miller foi negada pelo ministro do Supremo Edson Fachin. Joesley Batista e Ricardo Saud foram presos.

Para justificar suas ações, Vilella contou que a PGR fez negociações para a delação premiada da Odebrecht na calada da noite.

“Francisco não queria se expor no Ministério Público. Quando se tem um candidato à delação que tem receio que a ida possa causar especulações de delação, é comum o Ministério Público propor outras coisas. Vamos citar o caso da Odebrecht. As negociações da Odebrecht aconteceram na calada da noite, fora do expediente”, relatou.

“Não é comum, mas quando o candidato coloca um empecilho com receio de ser identificado, não é incomum você topar conversar em outro lugar”, acrescentou.

Na entrevista à Folha de S.Paulo, ele disse que já tinha visto práticas “muito piores” do que as que ele teve.

“Aliás, os fatos que estamos vendo atualmente no noticiário já até extrapolam o tipo de padrão que era do meu conhecimento. Não quero generalizar o MPF, mas estou falando da cúpula da PGR”, relatou à época.

O depoimento de Vilella começou por volta de 10h30 -ele chorou durante a sessão ao falar da sua prisão. (Folhapress)

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