19 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 01:28

Procurador da Lava Jato critica acordo de leniência entre BC e bancos

Um dos coordenadores da força-tarefa da Operação Lava Jato, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima criticou a medida editada pelo governo de Michel Temer (PMDB) que permite ao Banco Central fechar acordo de leniência com banqueiros e instituições financeiras -em condições, segundo ele, “benevolentes e nada republicanas”.

“Não se pode criar uma legislação para atingir um objetivo que não é sequer republicano”, afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo.

A Medida Provisória 784, publicada na noite de quarta (7), estabelece a possibilidade de sigilo absoluto do acordo, além de permitir que a instituição financeira não precise delatar terceiros para fechar a leniência.

A publicação ocorreu dias depois de virem a público notícias de que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci pretende delatar banqueiros e empresários, em acordo que está em negociação com a Lava Jato.

Para o Ministério Público Federal, o sigilo é o mecanismo mais preocupante, já que prejudica outras investigações.

“Acaba tudo numa gaveta”, afirma o procurador. “Você confessa o fato, paga uma multa insignificante e encerra todo o assunto? Sem qualquer consequência penal, já que ninguém vai ficar sabendo?”

Para Lima, “a mensagem é que tudo se resolve numa sala”. “Isso não é aceitável no serviço público”, diz.

A MP também aumentou o teto das multas a serem aplicadas pelo BC a bancos lenientes: de R$ 250 mil para R$ 2 bilhões. A nova regra, porém, só vale a partir da publicação da lei -ou seja, crimes e irregularidades cometidas antes disso continuam pagando o teto anterior, que, para o procurador, é “insignificante”.

Lima diz que a força-tarefa foi pega “de surpresa” com a medida, e que pretende debater seu teor com o Banco Central e com o Congresso, a fim de alterá-la.

Para ele, a medida não atende ao interesse público e não é de “uma urgência constitucional”.

Em evento nesta sexta (9), o diretor do BC Reinaldo Le Grazie disse que a medida vinha sendo discutida há sete anos. (Folhapress)

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