05 de dezembro de 2025
TARIFAÇO

Presidente da Faeg diz que, se extrema-direita apoia tarifaço dos EUA, ela prejudica o Brasil

José Mário Schreiner critica extremismos, articulações de bolsonaristas nos EUA e cobra diplomacia sem ideologia para evitar prejuízos à economia
José Mário Schreiner comentou o momento delicado - Foto: divulgação / arquivo
José Mário Schreiner comentou o momento delicado - Foto: divulgação / arquivo

O presidente da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg) José Mário Schreiner, afirmou nesta segunda-feira (21) que não tem dúvidas de que, se o grupo político de extrema-direita nacional está articulando a favor do tarifaço dos Estados Unidos, ele está atingindo e prejudicando o Brasil.

“Sem dúvida o povo brasileiro se sente atingido, dizendo que esse grupo político [ligado ao ex-presidente Bolsonaro] está prejudicando o Brasil, e está mesmo”, afirmou durante entrevista ao jornalista Jackson Abraão, do jornal O Popular, transmitida pelo YouTube.

Isso, concorda ele, explica avaliações feitas, por exemplo, por recentes pesquisas Quaest e Atlas/Intel indicando que o tarifaço é uma punição que, ao ser defendida pelos bolsonaristas nos EUA, leva o eleitorado a apoiar o presidente Lula.

Ele emendou dizendo apenas que “precisamos ter certeza de que há essa atuação [da extrema-direita] e essa força política para impor [o tarifaço]”.

Em resumo, Schreiner vê o “grupo do ex-presidente [Jair Bolsonaro] atuando de forma muito forte para os Estados Unidos impor isso [tarifaço]”, mas também diz que não tem conhecimento profundo de tamanha força por parte da família Bolsonaro. Ele cita inclusive o deputado Eduardo Bolsonaro, que tem declarado publicamente que articulou e pretende articular mais punições com impacto sobre a economia e a soberania brasileiras.

“Não acho que o hoje deputado Eduardo Bolsonaro tenha essa influência, esse acesso ao presidente [dos EUA], mas se comenta que essa questão tem influenciado”, disse.

Caiado lançou salva-vidas

No momento, o setor está na expectativa do detalhamento pelo governador Ronaldo Caiado (UB) da linha de crédito que anunciou na semana passada como salva-vidas para o setor produtivo goiano.

Demonstrando preocupação com o desarranjo diplomático, José Mário Schreiner lamentou o cenário. “O Brasil sempre foi um país com relações bilaterais com os mais diversos países do mundo. Temos uma relação harmoniosa com a Europa, com Austrália, China, Rússia. Países com tendência mais à esquerda, ou à direita, e jamais em um caso desse a ideologia deve prevalecer. Temos que olhar o bem da população brasileira”, disse.

Como a maioria da população, sentimento explicitado em pesquisas, ele também estima graves reflexos negativos na economia nacional se o tarifaço realmente vigorar em 1º de agosto, como anunciado por Donald Trump. “Terá reflexos não só para o Brasil, mas também para os americanos”.

O presidente da Faeg prevê aumento de inflação pela elevação dos custos de produção, afetando o consumo.

Nessa balança, ele lembrou dos impactos sobre a importação de maquinário agrícola e fertilizantes dos EUA pelos produtores goianos. “É jogo de perde perde”, descreve.

Procura por novos mercados

Diante do cenário, o presidente da Faeg avalia que o produtor de carne de Goiás deve seguir o mesmo caminho de outros estados e vender para o mercado interno, além de “procurar novos mercados”.

Para ele, tratativas eventuais do governo goiano com o Japão sinalizam nesse caminho, além do fortalecimento de importações para a China, que já é o destino de 84% dos produtos exportados pelos goianos, segundo cita. Mesmo assim, ele enfatizou que se o tarifaço for aplicado será um “prejuízo geral, amplo e irrestrito”.

Ele também criticou declarações atribuídas ao governo federal de que o tarifaço se tornou inevitável, defendendo a negociação até o último dia antes do mês. Além disso, Schreiner considerou que houve falhas da diplomacia brasileira, citando relações políticas do governo Lula com a causa Palestina e com o Irã, que ele chamou de “apoio” e disse que “isso tem uma influência [sobre o tarifaço]”.

Por outro lado, sobre o clima interno no Brasil, ele disse concordar com pesquisas que apontam que 80% dos brasileiros estão cansados da polarização e defendeu o afastamento das questões ideológicas. “O extremismo não é legal”, reforçou, afirmando que vê essa questão afetando tanto o governo quando grupos da oposição.

Tornozeleira e limitações a Bolsonaro são exageradas, diz presidente da Faeg

Ainda assim, para ele, a questão geopolítica está nos bastidores das medidas adotadas, mas ela não justificaria essa posição “exagerada e fora do contexto” por parte dos EUA, contra o Brasil.

Sobre o contexto das medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira (19), ele considerou exageradas. “Beira a prisão. Achei desmedida”, afirmou.


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