23 de novembro de 2024
Entrevista

Presidente da Adial Goiás comemora crescimento da “jovem indústria” goiana

Chequinho comemora crescimento da índustria goiana, mas alerta para movimentos feitos a partir da reforma tributária e do arcabouço fiscal
Foto: Altair Tavares/DG
Foto: Altair Tavares/DG

Alavancado pela indústria e pelo setor agropecuário, o Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás alcançou índices históricos em 2022. Presidente da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (Adial),  Edwal Portilho, também conhecido como Chequinho, comemora o índice de 7,5%, revelados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Instituto Mauro Borges (IMB).

“Vale ressaltar que o estado de Goiás é um Estado com uma Indústria muito jovem. Nós temos para observar que as nossas indústrias antigas estão com 30, um pouco mais de 30 anos, o que é um tempo muito curto para mostrar a evolução do que a Indústria conseguiu fazer com o estado de Goiás”, pontua em entrevista ao Diário de Goiás.

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Ele rememora que no fim da década de 90 e no começo da de 2000, o PIB industrial goiano variava entre 15 a 20 bilhões de reais e hoje já chega na “ordem de quase 280 bilhões”. “ Ou seja, um crescimento muito grande num período de 20 anos, graças à agregação de valor. Nós não temos dúvida alguma em relação a isso”, pontua.

Chequinho destaca que o boom da indústria reflete também em outros setores e o setor em Goiás tem tudo para crescer, falta no entanto, segurança por parte dos empresários das mudanças que tem ocorrido no Brasil. O presidente da Adial defende, por exemplo, antes da reforma tributária, que uma revisão administrativa seja feita em Brasília. 

Nesta entrevista, Chequinho fala sobre PIB goiano, expectativas para os próximos dois anos, arcabouço fiscal e reforma tributária, pautas sensíveis que podem afetar drasticamente não só o setor industrial mas toda a população goiana.

LEIA OS PRINCIPAIS TRECHOS DA ENTREVISTA:

Reflexos da indústria no PIB em 2022:

Vale ressaltar que o Estado de Goiás é um Estado com uma Indústria muito jovem. Nós temos para observar que as nossas indústrias antigas estão com 30, um pouco mais de 30 anos, o que é um tempo muito curto para mostrar a evolução do que a Indústria conseguiu fazer com o Estado de Goiás. Veja bem, que no final da década de 1990, início de 2000, nós tínhamos um PIB por volta de 15 a 20 bilhões de reais por ano. Esse ano de 2022 nós conseguimos alcançar um PIB total de 200, na ordem de quase 280 bilhões de reais. Ou seja, um crescimento muito grande num período de 20 anos, graças à agregação de valor. Nós não temos dúvida alguma em relação a isso. Nesse período nós tivemos incremento do nosso parque industrial, de números, de indústrias, e como eu disse, de indústrias novas, que têm condições de flexibilidade de incrementos de produção, têm altos níveis de produtividade, e isso lastreia toda a economia porque ela garante agregação  de valor nas matérias-primas, esse é o grande papel da indústria, gerando emprego e renda, e também garante movimento econômico dentro e fora do Estado, mas muito aqui dentro, para entrar no segmento terciário, que é de comércio e serviços, ou seja, ganha todo mundo, e é por isso que a gente preza tanto por tornar Goiás cada vez mais atrativo para receber investimentos industriais.  

ESTIMATIVA DO SETOR EM 2023

Ano passado já foi um resultado muito bom. Nós ficamos praticamente empatados com o desenvolvimento do PIB do Agro, por volta de 7.7% e o da Indústria 7.5%, que já é um crescimento muito grande, um aumento da renda, do rendimento médio mensal do trabalhador aí em 10%, ou seja… Para esse ano ainda depende de alguns outros fatores que estão por acontecer, ou estão pelo menos em discussão, como o arcabouço fiscal, que vai retirar os incentivos fiscais da Indústrias, ou seja, estão contribuindo para que o país, que já vem desindustrializando, já chegando a 11% do seu PIB somente industrial, ainda fique menos competitivo para agregar valor e transformar bens de matéria-prima em artigos industrializados.

COMPETITIVIDADE GOIANA

Goiás tem algumas vantagens competitivas. Estamos trabalhando muito a questão da competitividade fiscal com outros Estados, junto com o Governo. Existe um programa do Governo chamado Agrego, que tem trabalhado nesse sentido as cadeias produtivas mais relevantes do Estado e aplicando ações e iniciativas para melhor produtividade. Temos um gargalo de infraestrutura que, aos poucos, estamos tentando avançar, principalmente na função de fornecimento de energia elétrica, suprimento mesmo, falta a distribuição, e também, alguma dificuldade na questão de mão de obra. Hoje, somente aqui nos nossos associados, nós temos mais de 5 mil vagas abertas e não estamos conseguindo contratar. Tem muito a ver com falta de informação, às vezes, do cidadão, que está percebendo algum benefício federal ou estadual, benefício social, e fica com receio de assinar a carteira. Mas, hoje a legislação permite até dois anos de carteira assinada e recebendo os benefícios sociais. Por isso é importante que em determinado momento nós, juntamente com vocês da imprensa, divulguemos isso para que possa se tornar uma renda mais digna e com um olhar no futuro, com olhar de  segurança das famílias, de renda na aposentadoria e assim por diante. São alguns dos desafios para a gente prever se iremos crescer ou não. Mas a Indústria de Goiás continua muito forte. 

O IMPACTO DO ARCABOUÇO FISCAL: PEÇA DE TEATRO

É ligeiramente negativo, tal qual a Reforma Tributária. São peças de teatro que são criadas nos gabinetes, de quem não conhece na prática como funciona a nossa economia, o nosso passo a passo da economia. No sentido de simplificar a Reforma Tributária vem nessa pegada, dizendo que é tudo muito simples tornar tudo em um imposto só, mas não estão vendo que vai impactar e aumentar quase que 30% do valor da cesta básica. Eles falam que vão estar devolvendo o dinheiro via cashback. Mas, voltando ao arcabouço fiscal,  vem sendo uma situação muito complexa, concordo com o nosso goiano Henrique Meirelles, porque dos 150 bilhões que eles pretendem aumentar com a arrecadação, eles estão pegando por volta de 120, 130 bi, e retirando uma condição de subversão para investimento das Indústrias, e dizendo que são quinhentas maiores Indústrias, jogando a população contra as Indústrias do país, que já somos somente 11% do PIB  e já fomos 30%. Então, não dá para entender como é que você quer fazer arrecadação em cima de redução de competitividade. Assim, nós vamos estar abrindo caminho para mais importações de produtos industrializados e estimulando exportação de matéria-prima.

TEXTO GERA PREOCUPAÇÃO


E em exportação de matéria-prima não se arrecada nenhum tipo de imposto. É um xadrez aí que nos colocam e nós ficamos realmente muito preocupados. Sendo que, na prática também, nós temos garantido esses incentivos pela Lei Complementar 160/2017, que garante até 2032 esses incentivos fiscais. Sem incentivos fiscais, o Brasil não concorre com o mundo, mesmo tendo produtividades altas no Agro, que  auxilia muito. Mas a nossa conta industrial é muito alta. Encargos trabalhistas, impostos e toda a ordem de impostos que nós temos. E a Reforma Tributária que se apresenta não é para baixar imposto. Então, tanto o arcabouço fiscal aumenta a carga tributária, como a proposta da PEC 45 ou 110, que estão no Congresso, nos deixa realmente muito preocupados, e é isso que não dá para garantir o crescimento tão pujante da Indústria em Goiás, como nós tivemos ano passado,  por conta desse fatores que são adversos à economia da Indústria. 

COM ARCABOUÇO APROVADO, CUSTOS PODEM AUMENTAR

Algo que está prevendo aumentar o custo do medicamento, da comida, de um país que tem 70% das famílias com renda per capita da ordem de 890 reais, e que seu gasto mensal, mais de 60% é com alimento, então não dá, não tem conta que feche. Para devolver dinheiro que vai ser arrecadado para a população, então isso traz muita preocupação, muita insegurança para realizarmos investimentos, principalmente na área dos alimentos e das bebidas, que são a área na Indústria goiana muito forte, que puxa o carro. Realmente, é o setor industrial que é o maior, justamente é o setor de comida e bebida. É uma preocupação muito grande. 

REFORMA TRIBUTÁRIA IMPACTARÁ PREÇOS NAS GÔNDOLAS DOS SUPERMERCADOS

Diretamente, já há um incremento da ordem de até 22,5% até 27%, 30% no valor da comida, do alimento, lá na gôndola do supermercado. A população mais carente usa menos serviços, mas, há segmento de serviços que terão incremento de valores, de preço, por conta de aumento de carga  tributária da ordem de 150%. Então é realmente um imposto um I.V.A que utiliza-se em outros países, mas cada país tem suas 3 ou 4 alíquotas diferentes, não é uma alíquota única. E aqui a gente já parte de uma alíquota de 25%, 27% única, ou seja, já é uma alíquota extremamente alta, que não há como flexibilidade para se aplicar um alíquota desse tamanho, para que as pessoas que têm que comprar leite, comprar arroz, feijão, óleo de cozinha e carnes, cotidianamente. Então, realmente isso é complexo, incrementa  muito o custo da cesta básica, dos medicamentos e também atrapalha a vida do agricultor, principalmente o pequeno, que passará a ter que fazer uma escrita contábil, mensalmente terá essa despesa, esse dispêndio de estar contratando contadores para fazer o aproveitamento dos créditos, que apesar de ser pequeno produtor, ele vai ter que aproveitar um pouquinho desses créditos. Passamos todo mundo para contribuinte complicando bastante o cenário para a população. Acho que não simplifica em nada você trocar 5 impostos por 3, na verdade, então é complexo. Estamos discutindo isso e estaremos muito atentos, e mostrando aos deputados que essas medidas podem trazer muito impacto na economia, negativos, e ficar por mais 10, 15,  20, 30 anos fazendo a transição de um tipo de modalidade de impostos para outro. Ou seja, nós teremos aí dois balanços a serem levados em consideração durante 10, 15, 20, 30  anos de transição. 

DIÁLOGO COM GOVERNO FEDERAL

Nós estivemos com a nossa bancada federal, estamos tendo com alguns governadores, com o governador de Goiás também, obviamente.  Estamos levando subsídios técnicos, informações, para que eles tenham essa consciência, realmente, de que o que eles estarão votando pode prejudicar, e muito, o cidadão brasileiro, deixando em situação de maior dificuldade e mais dependência dos benefícios sociais. E a gente trabalha no outro sentido, que é diminuir custos, e aí precisa tirar esse peso, que é o peso do Estado nas costas dos brasileiros. O Estado que eu digo é do poder público, no geral, que tem  orçamentos extraordinariamente gordos, e que a gente tem cada dia  aumentado essa carga tributária para custear essa despesa pública. É preciso conscientizar de uma reforma administrativa, primeiro, economizando nesses custos, e aí sim, partir para a discutir uma reforma tributária que vá no sentido de tornar o país mais competitivo para vender produtos industrializados lá fora e não só matéria-prima. Nada contra vender matéria-prima também, mas nós precisamos concorrer no industrializado, que agrega valor, renda e emprego para as pessoas terem sua independência, sua segurança familiar, a criar seus filhos, aposentar e assim por diante.


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