25 de dezembro de 2024
Brasil

‘Prefiro a vida que a perna’, diz goleiro Follman a médico após amputação

O goleiro Jackson Follman, da Chapecoense, teve uma melhora que surpreendeu os médicos, já está consciente e conversando. Segundo os especialistas brasileiros que o acompanham em Medellín, Jackson está ciente de que sua perna direita foi amputada e afirmou sobre isso: “Prefiro a vida que a perna. Vamos tirar isso de letra”.

O relato foi feito pelo cardiologista Edson Stakonski e pelo ortopedista especialista em coluna Marcos André Sognali, ambos médicos da Chapecoense, em entrevista coletiva no hospital San Vicente, em Rionegro, cidade próxima a Medellín onde estão internados os quatro brasileiros sobreviventes. O diretor médico do hospital, Ferney Rodríguez, também participouTodos ainda estão na UTI, mas o quadro de Jackson, 24, passou a ser o mais animador, junto como o do lateral Alan Ruschel, 27. Os casos mais graves são os do zagueiro Neto, 31, e do jornalista Rafael Henzel, 43.

Jackson não está mais entubado (ou seja, foi retirada a ventilação pulmonar mecânica). Além da amputação da perna, ele sofreu uma fratura na segunda vértebra cervical, para a qual ainda se estuda a possibilidade de tratamento cirúrgico -por isso está com um colar cervical. Mas não tem comprometimento neurológico.

Mesmo com a melhora, Jackson deve permanecer na UTI. “São todos pacientes politraumatizados que estão recebendo cuidados intensivos, o quadro deles muda a cada seis ou 12 horas”, disse Stakonski.

O quadro de Alan foi definido como ainda crítico, mas com uma melhora que permitiu a retirada da ventilação pulmonar e da sedação.O lateral teve uma fratura grave na região toráccico-lombar, mas, segundo os médicos, Alan não tem lesão medular nem comprometimento neurológico, está conversando e consciente.

Em situação muito grave, Neto continua sedado e entubado. Tem uma lesão pulmonar, o mais preocupante, e uma fratura da quinta vértebra lombar, que a princípio não é grave, segundo os médicos. Como o zagueiro teve uma leve piora na função pulmonar, ainda neste sábado será feito um procedimento para lavar e expandir o pulmão. Mas também não apresentou problemas neurológicos.

Além da família, um pastor evangélico está na Colômbia acompanhando a recuperação de Neto.

O médico Marcos André Sognali contou que, pela relação profissional, acabou desenvolvendo uma “amizade intensa” com Neto. “O Neto é fisicamente muito forte, é um touro, mas tem um lado psicológico mais forte ainda, é literalmente um guerreiro. Submeteu-se a uma cirurgia da cervical cujo prazo para recuperação era de seis meses, mas acabou voltando [a jogar] em menos de quatro meses. E tem uma crença imensa em Deus, o que deve ajudar na recuperação”, afirmou Sognali.

O jornalista Rafael Henzel Valmorbida, da rádio Oeste Capital, de Chapecó, ainda está sedado e em condição crítica mas estável, segundo os médicos.

Ele teve sete fraturas nas costelas, está pendente de sua função pulmonar, continua entubado e sedado, mas agora com sedação mais leve.

FAMÍLIA E PSICÓLOGOS

Por decisão dos médicos brasileiros, junto com as famílias, os quatro estão agora no mesmo hospital, San Vicente, o mais moderno e bem estruturado do região. Neto, Rafael e Alan foram internados inicialmente em outros dois hospitais, mas transferidos nos últimos dias.

As famílias dos quatro sobreviventes estão em Rionegro. Os médicos disseram não ter conversado especificamente sobre o acidente com os dois atletas que estão conscientes.

Segundo eles, isso é um papel dos psicólogos que acompanham o grupo e das famílias dos sobreviventes.

Stakonski afirmou que, como todos tiveram politraumatismo cranioencefálico, há possibilidade de que eles nem se lembrem do que houve no acidente.

TRANSFERÊNCIA

Não há, de acordo com os médicos, previsão para que os sobreviventes sejam transferidos para o Brasil. “Temos de ter muita cautela sobre isso. Ele se encontram em situação crítica, especialmente pulmonar. Não dá para fazer transferência sem a parte pulmonar estar satisfatória. Já estamos na vigência de um milagre, não vamos correr risco de jeito nenhum. Eles têm toda estrutura aqui, não tem porque pensarmos em levá-los para o Brasil agora”, disse Stakonski.

Questionados se existe a chance de que algum deles volte a jogar futebol, Stakonski respondeu: “Calma, isso é um longo trabalho. Eles ainda estão lutando pela vida, temos de ter consciência que são sobreviventes de uma queda de avião”.

EQUIPE

Stakonski integrou a primeira equipe de médicos da Chapecoense enviada à Colômbia, que foi chefiada por Carlos Henrique Mendonça e integrada ainda por Fabiano Wincker, Alexandre Bernardi, Alexandre Medeiros e Mário Goto -além do chefe da comissão médica da CBF, Jorge Pagura. Todos voltaram ao Brasil, exceto Stakonski.

Sognali chegou nesta sexta para se juntar a ele.


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