08 de agosto de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:23

Povoado de Mariana tem homenagens e protestos um ano após tragédia

Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais/Divulgação
Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais/Divulgação

O povoado destruído de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), recebeu o dobro de pessoas que viviam no local neste sábado (5), um ano após o rompimento da barragem de Fundão. Cerca de 1.000 pessoas, segundo a Defesa Civil do município, prestaram homenagens às vítimas da lama de rejeitos da Samarco e fizeram protestos contra a mineradora, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton.

Ex-moradores ergueram cruzes que representavam os mortos na tragédia e gritaram palavras de ordem contra um dique que é construído no povoado desde setembro e alagará parte da área -a Samarco justifica que esse é um meio de evitar que a lama escorra até o rio Doce.

Em Bento, morreram cinco das 19 vítimas da enxurrada de lama. O próprio presidente da Samarco, Roberto Carvalho, já afirmou que se houvesse um plano de emergência mais eficiente à época, com sirenes, elas poderiam ter sido evitadas.

À tarde, os manifestantes tocaram uma sirene em frente à sede da empresa, como protesto pela falta da alerta no dia da ruptura.

No ato de um ano, uma missa foi realizada no povoado em clima de revolta contra as empresas. “Vamos deixar essas cruzes aqui fincadas, como em Nagasaki e Hiroshima”, disse o padre Geraldo Barbosa, um dos que celebravam o ato.

“A Samarco criou uma fundação que, ironicamente, se chama ‘Renova’ para recuperar a tragédia. Deveria se chamar ‘fundação indenização'”, afirmou o outro padre, Geraldo Martins.

Ex-morador de Bento Rodrigues, o operador de máquina Antônio Alves Quintão, 56, se sujou de lama e ficou de pé em frente aos padres, segurando um cartaz com a imagem de sua casa, que foi destruída. Ele disse que a sujeira é “uma comparação ao estado em que se encontra a comunidade”. Durante a missa, não resistiu e caiu no chão, chorando.

Viúvas e parentes das vítimas fatais também estiveram no local, como o auxiliar de topografia Marcelo Felicio, 31, que disse que “a família até hoje não teve a situação resolvida” -eles receberam adiantamento da indenização de R$ 100 mil, mas o pagamento final não foi negociado. A mineradora ainda não definiu como será esse pagamento.

Parte do protesto foi coordenado por membros do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), que vieram em caravana desde Linhares, litoral do Espírito Santo, onde a lama desaguou no mar. Se juntaram a eles membros de movimentos de esquerda, sindicatos e curiosos.

“Eu vim em solidariedade”, disse a professora aposentada Maria Gonçalves, 64, de Bocaiúva, norte de Minas. Ela não conhecia Bento.

A ONG Greenpeace pos uma tela com a palavra “justiça” em cima dos escombros da escola que havia no vilarejo.

Pela manhã, no centro de Mariana, outro grupo fez protesto, mas pelo retorno das operações da mineradora. Eles afirmam que a suspensão das atividades da Samarco causa desemprego e prejudica a receita da cidade.

Além de ter destruído Bento Rodrigues, o rompimento da barragem de Fundão devastou 650 km até o mar capixaba.

No dia 21 de outubro, o Ministério Público Federal denunciou 21 pessoas sob acusação de homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar), inundação, lesões corporais graves e crimes ambientais. As três empresas também foram denunciadas por crimes ambientais. Em nota, as companhias “refutaram” a denúncia.

(FOLHA PRESS)

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