19 de novembro de 2024
Brasil

Polícia denuncia dois por acidente que matou 18 pessoas na Mogi-Bertioga

Duas pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil de São Paulo, na última segunda-feira (6), devido ao acidente que matou 18 passageiros de um ônibus na rodovia Mogi-Bertioga, em junho do ano passado. A sócia-proprietária da empresa União do Litoral, à qual pertencia o veículo, Daniela de Carvalho Soares Figueiredo, e o gerente de manutenção da companhia, Adriano André do Vale, foram denunciados por homicídio e lesão corporal.

Em 8 de junho de 2016, um ônibus que ia de Mogi das Cruzes (interior de SP) para São Sebastião (litoral) e transportava 35 pessoas, a maioria deles jovens universitários, desgovernou e bateu no sentido contrário. No acidente, morreram 17 passageiros, além do motorista, e outros 17 ficaram feridos. Segundo boletim de ocorrência sobre o caso, o veículo perdeu a direção, invadiu a pista contrária, atingiu uma rocha, capotou e parou virado, na altura do km 84 da rodovia Mogi-Bertioga, próximo ao município de Biritiba-Mirim.

O veículo, que pertencia à União do Litoral, era fretado pela prefeitura de São Sebastião para levar e buscar jovens que moravam na cidade e estudavam em Mogi das Cruzes. À época, o trauma foi tão forte que foi difícil para muitos dos envolvidos retornar à rotina de estudos e viagens. Procurada, a gestão municipal de São Sebastião não se manifestou até a publicação desta reportagem.

O advogado que representa 12 das vítimas do acidente e familiares, José Beraldo, afirma que tanto a proprietária quanto o gerente de manutenção da empresa ainda podem responder por “dolo eventual” das mortes (quando alguém tem conhecimento da possibilidade de cometer crime). “Diante do laudo que diz que o ônibus estava sucateado, havia previsão do resultado morte. Em um ônibus daquele jeito, sem freio, sem manutenção, poderia ocorrer a tragédia, como ocorreu.”

Falhas nos freios e a condução do veículo em alta velocidade foram apontados como prováveis causas do acidente, segundo a perícia no início das investigações sobre a causa do ocorrido. Para Beraldo, a proprietária da União do Vale e o gerente da manutenção sabiam ao menos do problema com o equipamento frenagem e, por isso, devem responder por crime na Justiça.

Segundo o advogado, sobreviventes do acidente e familiares das vítimas pretendem realizar uma manifestação na quarta-feira (8), no final da tarde, em frente ao Fórum de São Sebastião, para relembrar oito meses desde que o acidente aconteceu.

Outro lado

Em nota enviada à imprensa na tarde desta terça-feira (7), a União do Litoral declara que “juntou documentos que comprovam que a manutenção do coletivo estava em ordem”. A empresa ainda diz que pediu a um outro perito em trânsito que analisasse o caso. “O resultado […] demonstra que não foi a suposta e alardeada falta de manutenção nos freios do coletivo a causa do acidente. Foi, isso sim, uma fatalidade e a soma de diversos fatores, que conjugados, ensejaram aquela ocorrência.”

A companhia também afirma que oferece assistência às vítimas e familiares do acidente. “A União do Litoral prestou, desde o momento do acidente, toda a solidariedade e ajuda tanto financeira como de logística aos familiares das vítimas e às vítimas de lesões corporais. Tudo isso está registrado nos inúmeros documentos que comprovam a assistência dada.”

A reportagem conversou com o perito Márcio Montesani, engenheiro mecânico que fez a análise do caso para a União do Litoral. Segundo ele, a hipótese de causa do acidente defendida no inquérito -de que o veículo estava ultrapassado e com problema de manutenção- não parece provável. O especialista afirma que, devido às condições em que os tambores de freio do ônibus foram encontrados, há outras duas linhas para entender o acidente.

Na primeira possibilidade, o motorista estava em alta velocidade, acima do permitido, e, com a chance de colidir com outro veículo na estrada, desviou o veículo bruscamente, perdendo o controle até capotar. Na segunda hipótese, que também leva em conta velocidade maior do que o limite, o freio aqueceu, devido ao movimento, e não respondeu como deveria.

“O laudo mostra que, em grande parte do trajeto, o veículo estaria acima da velocidade máxima permitida. Em média, ele trafegava cerca de 30 ou 40% acima do permitido”, afirma Montesani. “Nessa situação, você aciona o freio de maneira mais frequente e intensa. Com isso, o que pode ter acontecido, pode ter ocorrido um aquecimento mais elevado do tambor do freio”, acrescenta.

O acidente

Por volta das 23h30 de quarta (8), ônibus que levava estudantes tombou na rodovia Mogi-Bertioga (SP)

1. O ônibus seguia pela Mogi-Bertioga no sentido litoral, em trecho onde só há uma pista (existem duas pistas no sentido Mogi)

2. A neblina havia acabado após uma região da serra conhecida como “tobogã”, e a rodovia tinha boa visibilidade

3. Próximo a uma curva à direita, sem acostamento, ele ultrapassou um carro, chegando a encostar no veículo

4. Nessa hora, começou a balançar, indo de um lado para o outro, prestes a virar

5. Tombou, deslizou pela pista e bateu em uma rocha na margem da via, parando de lado em uma vala

A estrada e o ônibus

O percurso até Mogi das Cruzes é feito todos os dias, com cerca de 250 universitários, por 6 ônibus fretados pela Prefeitura de São Sebastião

40 a 60 km/h é o limite de velocidade no trecho da serra da Mogi-Bertioga (40 km/h com pista molhada e 60 km/h em pista seca)

64 acidentes aconteceram na rodovia em 2016; neles, seis pessoas morreram

4 ônibus, pelo menos, tombaram neste ponto desde 2006, deixando 54 feridos e 4 mortos. O último foi neste ano, mas sem vítimas

Modelo do ônibus do acidente: Marcopolo Viaggio G6 1050

Empresa: União do Litoral

Ano de fabricação: 2005

Fontes: Prefeitura de São Sebastião, Polícia Rodoviária Estadual, DER, União do Litoral e Cezar Donizetti Vieira, 54, que dirigia o carro atingido pelo ônibus

Folhapress


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